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    Sócrates, o nosso número 1

    Do pai fundador Neco ao campeão Neto, passando pelo histórico Luizinho e o fuoriserie Rivelino, o Doutor jogou mais bola pelo Corinthians que qualquer outro

    Marco Damiani avatar
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    O político Sócrates é o fino, indutor radical da democracia na eterna ditadura do futebol, mas trata-se aqui de registrar uma pensata sobre o jogador: ele foi o melhor entre todos os que vestiram a camisa do Corinthians.

    No campo, vi muitos jogos de Rivelino, nos anos 1970, Sócrates, nos 80, e Neto, nos 90. Em família, pelo ramo dos Trujillo, ouvi as histórias sobre a habilidade de Luizinho, o Pequeno Polegar, ao que escutei o nosso maior driblador. Sei que Neco está para a história do Timão como o pai fundador de uma dinastia de jogadores iluminados, à qual se inclui Cláudio e o valente Baltazar. Desses quatro últimos, no entanto, não posso expressar mais que a admiração reverencial pelas narrativas de memórias. Quem nasceu em 1962 não os viu.

    Mas dali do alambrado da Fazendinha, nas alturas do Morumbi e no aconchego do Pacaembu, eu vi, e não poucas vezes, cada um com seus mosqueteiros, Ri-ve-li-no, que o locutor soletrava em diferenciação, o Doutor e Neto. E se eu tivesse que escalar o 10 entre todos os espadas que vestiram nossa capa, a camisa iria para o oito.

    Essa aventura de ver de perto três dos maiores nomes da saga corintiana começou em 1969, no jogo de inauguração do Tobogã no lugar da concha acústica, quando O garoto do Parque bateu uma falta no poste esquerdo do goleiro do convidado Nacional, de Montevideo, cujo som metálico está reverberando até agora no Pacaembu, tão forte ecoou.

    Foi uma maneira e tanto de ser apresentado ao reizinho, que depois segui no Alfredo Schüring, nas ‘cadeiras sem número’ do Paulo Machado de Carvalho, atrás dos gols do Cícero Pompeu de Toledo, vendo os jogadores pequenininhos. Eu não estava em 74, quando ainda hoje dizem que ele se escondeu atrás do meio-campo contra o Palmeiras do algoz Ronaldo, mas assistira a tudo de dentro do estádio no epopeico 4 a 3 contra ‘o porco’, um ano antes. Em 1976, como um medo danado dele, eu estava no Maracanã em que ganhamos de Rivelino e a ‘máquina tricolor’ com Russo e o nem sempre justamente reverenciado Tobias. Mas eu ouvira pelo rádio, um ano antes, a estreia dele no Flu, marcando contra nós, no Maracanã, 1, 2 e 3 golaços, comemorando como um possesso rodrigueano.

    Quer dizer: eu só lembro do ‘Reivelino’ jogando muito bem, armando sozinho o nosso meio campo, lançando no mesmo padrão de Gerson, driblando de maneira única com seu elástico que chegava a deixar zagueiro de bunda no chão, apontando sua ‘patada atômica’ embaixo e no alto do gol adversário. Ele foi meu ídolo.

    Mais recentemente, quando o Corinthians de Neto foi campeão brasileiro, em 1990, acompanhei muitos jogos daquele time. E exatamente por causa do Neto. Ele fez gol em praticamente todo jogo daquela campanha, talvez tenha sido, em cada uma das partidas em que participou, o melhor homem em campo. A raça dele naquela temporada só encontra comparação no incansável Zé Maria e na bravura nata de Tevez. Na semifinal contra o Bahia, Pacaembu lotado, o Timão começando atrás precisando apenas e tão somente da vitória, foi lá o Neto e fez os dois que carimbaram nossa passagem para a final com o ‘pó de arroz’. Neto, bem disse Vicente Matheus, foi mais importante para o Corinthians que Rivelino, porque campeão. Falou e disse.

    Entre eles, quando o Corinthians ensaiou tornar-se a máquina de marketing que é hoje, com atenção mais próxima, extra-campo, à Fiel, surgiu Sócrates. Ele quase foi para o São Paulo etc., mas veio, pelas mãos de Matheus, para o Parque. E não é que, ‘apenas’, fomos campeões paulistas em 1979 e bi em 1982-1983, àquela altura o título mais buscado por quem saíra da fila apenas em 1977? Nós levantamos essas taças, especialmente as do bi, dando banhos no resto, goleando, jogando de taquito, trocando passes pelo alto, tabelando na frente das zagas adversárias, furando retrancas na base de estirões de 40 metros, destruindo reputações entre beques centrais, quarto-zagueiros, laterais e volantes. Um time que dava espetáculo às quartas e, alternadamente, sábados e domingos. Havia medo de jogar contra o Corinthians do Doutor. Primeiro com Geraldão e Palinha, depois Casagrande, com Biro-Biro e Zenon, Vladimir e Ataliba, ele com seus passes (agora chamam assistências) botava todo mundo na cara do gol. Não só ditava o ritmo como criava de calcanhar o inimaginável, abrindo, do nada, verdadeiros rombos na defesa adversária. Quando caia pela direita, era perigo de gol, gol! Numa daquelas quartas à noite, minha lembrança tem gravado um Corinthians quatro, Francana zero, em que Sócrates não errou um passe sequer – e isso não quer dizer que ele tocava de ladinho. O Doutor rasgava enormes diagonais no campo, acelerava o ritmo do jogo, corria como quem flanava, encostando primeiro a ponta do pé no gramado, quase sobrevoando. Um estilo inigualável. Ele aumentou o orgulho de a gente ser corintiano. Única e exclusivamente, apenas nos deu alegrias. Jamais um dissabor.

    Neto nos deu o primeiro Brasileiro, que a gente nunca esquece, Rivelino nos representou no tri em 70, consolidando-se no panteão mundial pela performance em nossa maior equipe nacional. Mas para o Timão, pelo que alguém fez com a nossa camisa, para que o nosso time se refinasse e jogasse com uma classe até então desconhecida por nós, foi Sócrates, sobrando, fácil, fácil, o nosso melhor jogador. Vou ter saudades o resto da vida. Muito obrigado, Doutor!

     

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