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Soninha Francine ao 247: “Doria namora a ideia de ser presidente”

Dois dias depois de ser exonerada da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social de São Paulo pelo prefeito João Doria por meio de um vídeo constrangedor exibido na conta pessoal dele, Soninha Francine (PPS-SP) fala ao 247 que teve "vários embates" com o tucano, e que Doria só pensa em 2018; "está encantado com a ideia de ser presidente"; diz, porém, que votaria nele para presidente "só num segundo turno"; Soninha faz elogios à Lava Jato, mas critica a demonização da esquerda; "Parece que o problema agora é a esquerda. A ditadura era de direita e aí entrou a esquerda e estragou tudo! Pronto, quem é de esquerda é vagabundo, safado, ladrão e, portanto, a saída é pela direita"; confira a íntegra da entrevista exclusiva

Dois dias depois de ser exonerada da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social de São Paulo pelo prefeito João Doria por meio de um vídeo constrangedor exibido na conta pessoal dele, Soninha Francine (PPS-SP) fala ao 247 que teve "vários embates" com o tucano, e que Doria só pensa em 2018; "está encantado com a ideia de ser presidente"; diz, porém, que votaria nele para presidente "só num segundo turno"; Soninha faz elogios à Lava Jato, mas critica a demonização da esquerda; "Parece que o problema agora é a esquerda. A ditadura era de direita e aí entrou a esquerda e estragou tudo! Pronto, quem é de esquerda é vagabundo, safado, ladrão e, portanto, a saída é pela direita"; confira a íntegra da entrevista exclusiva (Foto: Ana Pupulin)
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Por Alex Solnik, 247 - Dois dias depois de ser exonerada da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social de São Paulo pelo prefeito João Doria por meio de um vídeo constrangedor exibido na conta pessoal dele, Soninha Francine (PPS-SP) diz, nessa entrevista exclusiva ao 247 que o que mais lhe doeu foi Doria ter passado a ideia de que ela é ruim de gestão. “O que mais me incomoda no vídeo, mais que a demissão propriamente, é ele ter dito que eu sou uma pessoa de muito bom coração, mas ruim de gestão. Eu sou boa de gestão! Eu tenho certeza que fiz um bom trabalho”.

Ela atribui a demissão a um “erro de expectativa de Doria”, com quem manteve “vários embates nas últimas semanas”, principalmente em torno da questão dos moradores de rua. Nos 110 dias de convivência com Doria, ela percebeu que a presidência está em seu radar: “ele está animado com a possibilidade de ser presidente”, “está encantado com a ideia de ser presidente” e “namora a ideia de ser presidente”. Diz, porém, que votaria nele para presidente “só num segundo turno”.

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Em Lula, só votaria “se fosse contra o Bolsonaro”.  “Tudo tem limite”, afirma. Filiada ao PPS, partido que votou a favor do impeachment de Dilma e tem dois ministros no governo Temer – Roberto Freire, na Cultura e Raul Jungman, na Defesa – ela afirma que “isso não quer dizer que eu goste de Temer”. Muito ao contrário, nunca gostou de Temer, desde quando ele foi escolhido para ser o vice na chapa de Dilma: “O Temer pra mim era uma das provas de que o PT fazia qualquer coisa pra eleger um presidente”.

A ex-petista também afirmou que as divergências entre Serra, Alckmin e Aécio no PSDB são irreconciliáveis: “Se um deles se eleger presidente não vai convidar os outros dois para ministro”. Ela faz elogios à Lava Jato, mas critica a demonização da esquerda: “Parece que o problema agora é a esquerda. A ditadura era de direita e aí entrou a esquerda e estragou tudo! Pronto, quem é de esquerda é vagabundo, safado, ladrão e, portanto, a saída é pela direita! A gente sofre tanto no PPS, por exemplo, porque você apanha do PT e do PCdoB porque somos golpistas e o pessoal da direita também nos odeia porque nós somos comunistas”! 

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E aí? Tudo certinho?

Tudo certinho mais ou menos...

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Primeira demissão ao vivo! O que foi isso? Reality show?

Não foi ao vivo, foi gravado. Aliás, foi uma coisa que eu perguntei pra ele: não é ao vivo não, né? Ele disse não, vamos gravar. E, assim, eu perguntei, tipo, será que a gente grava? E se eu chorar, né? Às vezes vem uma emoção na hora, um nó na garganta. E se eu chorar? Ele falou: se você chorar é você, tipo “é a sua verdade, o seu coração”. Eu falei, “então tudo bem, né... já que é assim...”

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E você gostou do resultado?

Então... o vídeo, sinceramente, é o que menos me importa. Eu não queria era sair daqui! Estou terminando de empacotar minha mudança. O vídeo, claro, o vídeo foi o que as pessoas viram, o modo como elas ficaram sabendo que eu estava sendo exonerada. Mas, pra mim, o vídeo foi só isso mesmo, uma comunicação, eu estava superchateada, supertriste... eu já sabia... eu já estava, vamos dizer, de aviso prévio.

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Mas qual é o motivo de demitir você depois de apenas três meses? O que foi?

Do ponto de vista do prefeito o que não bateu foi o método. A eficiência. Na visão dele, pra mim faltou eficiência. Do contrário eu já teria feito mais coisas. Como ele esperava. Do meu ponto de vista foi um problema de expectativa. Eu tenho certeza que fiz um bom trabalho, embora eu quisesse ter feito mais e melhor. Só que um bom trabalho em assistência social não é algo que se revele em 90 ou 100 dias. O que para ele foi um defeito de método, incapacidade de gestão, pra mim foi um erro de expectativa. O que mais me incomoda no vídeo, mais que a demissão propriamente, é ele ter dito que eu sou uma pessoa de muito bom coração, mas ruim de gestão. Eu sou boa de gestão! Eu falei que isso era o que me doía, além da frustração de não poder continuar fazendo o que estava começando era a injustiça de dizer que eu sou ruim de gestão. A minha cara... o vídeo... a forma...não me importa. O que me importa, o que me deixa chateada é o conteúdo. Dizer que eu sou ruim de gestão.

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Você é ruim de gestão e ele é bom de demissão. Ele demite e ainda quer se dar bem com isso, não quer passar por algoz, por isso no começo diz que vocês dois chegaram à conclusão que era melhor você voltar pra Câmara Municipal, uma decisão de comum acordo...ninguém consegue fazer muita coisa em três meses... o que ele fez em três meses além de propaganda?

De estruturante nada. Mas fez algumas coisas importantes. Atitudes simbólicas do tipo cortar a boca livre do camarote da prefeitura no carnaval. Tem alguns gestos que têm um efeito prático, porque são milhões gastos nos quatro dias de camarote da prefeitura pra oferecer uma boca livre. E é um gesto simbólico que anima as pessoas. Agora, isso está longe de ser uma coisa estruturante. O que está sendo feito de estruturante, de muito bom é o trabalho do Daniel Annenberg, por exemplo, que é o cara que está mexendo com os processos dentro da prefeitura para deixar de ser esse monte de pastas pra cima e pra baixo, 200 cópias de não sei que, isso é bacana, é ótimo e também não aparece, assim, da noite pro dia. Além de tudo, essa expectativa de 90 dias seria irreal para todas as pastas, todas, todas...

Pois é, por que ele escolheu logo você?

Porque eu acho que era aonde ele tinha a expectativa mais irreal. Ele depositou muita confiança em mim.

Mas não teve um componente político nisso?

De que tipo?

Você é uma pessoa de esquerda, sempre foi e ele é uma pessoa de direita, sempre foi...vocês têm concepções de mundo diferentes...

Talvez ele tenha achado que o fato de eu ser de esquerda equivale a não ser muito boa de gestão. Pode ser. Mas eu acho que ele acredita mesmo que eu tenho muita sensibilidade e a parte que ele não disse no vídeo é que, pra ele, a sensibilidade atrapalha na hora de ser prático, de ser efetivo. Então, assim, sensibilidade é uma qualidade, mas pode atrapalhar o desempenho. Isso é um pouco do que a gente viveu num relacionamento conturbado nas últimas semanas. Não foi uma ruptura que me surpreendeu.

Vocês tiveram discussões?

A gente teve vários embates, várias discussões.       

Pois é, não teria sido porque você é de esquerda e ele de direita?

Se eu fosse de esquerda que desse resultado isso pra ele não faria a menor diferença. O problema não é esse. Tem muita gente de esquerda no seu governo apesar de não ser nem um pouco o perfil dele – ele é, evidentemente, um liberal do ponto de vista da economia – tem o Natalini, que é o baluarte... O problema, mesmo, é que eu podia ser qualquer coisa contanto que desse resultado. Esse é o problema.   

No que vocês não concordaram?

Por exemplo, a convicção de que se você tiver um lugar muito bom pra acolher as pessoas e se tiver oportunidade de trabalho pra elas todas vão sair da rua. Isso não é verdade! Não basta você criar um lugar maravilhoso para o acolhimento e as pessoas vão, de onde elas estiverem, andar até esse lugar, porque esse lugar tem uma cama confortável num lugar bonito e acolhedor. A gente tem que oferecer isso para as pessoas, elas têm que ir para um lugar onde elas sejam tratadas com carinho, respeito... isso tem que acontecer. Mas, primeiro: não é de um dia pro outro. Não é de um dia pro outro. E segundo: não dá pra acreditar que as pessoas que entraram, que aceitaram ir para esse centro de acolhida se você oferece uma capacitação para elas elas saem de lá com emprego e a fila vai andar. Ela vai pro centro de acolhida, ela é recebida, retoma a sua autoestima, a sua autoconfiança, a sua dignidade, aí você oferece uma oportunidade de trabalho pra ela e pronto, ela pode sair do centro de acolhida porque tem outras pessoas precisando entrar. Esse fluxo que pra ele, e também pro meu adjunto  parece uma coisa infalível...

Esse adjunto foi nomeado por você ou pelo Doria?

Foi um rapaz indicado por ele, de quem eu gostei muito no primeiro contato, eu nem imaginava que ele seria indicado pra ser meu adjunto, e provavelmente nem ele. Então, a gente discutiu muito, divergiu muito em relação a essa ideia de que isso é o caminho para que São Paulo não tenha mais moradores de rua. Um lugar bacana para acolhê-los e uma oportunidade de trabalho. Eu nunca consegui convencê-los da imensa complexidade das coisas. E do tempo que leva. Não é o tempo só de uma obra – o Doria fala expressamente nisso. Eu demorei e ele precisa de obras mais rápidas. Sim, a gente precisa de obras para abrigar as pessoas em lugares dignos e decentes, precisa. Mas, e depois que o lugar está pronto? Quem é que gere o espaço? Quem é que cuida do lugar? Quem é o orientador sócio-educativo? Quem faz a segurança? Quem compra? De onde vem o rodo e a vassoura? Coisas muito práticas! Então, é curioso: eles achavam que eu era pouco prática! Que eu era um tipo “a sonhadora”, entendeu? E eu era muito prática! Muito prática! Tipo, legal, a gente vai arrumar um galpão com recurso privado, com doação de tinta, com doação de mão de obra, ótimo! Mas, e depois? Depois, quem vai limpar o banheiro? De onde vai vir o desinfetante, o sabão em pó? Onde vai botar a roupa pra secar?

Ele não tinha verba para esse projeto?

Na verdade, eles nem chegavam a se ocupar disso. É como se bastasse o lugar. Eu dei vários exemplos. Se você juntar 80 alunos do Colégio Bandeirantes e mandar todo mundo em viagem de férias a Porto Seguro vai dar confusão! Oitenta pessoas super bem educadas! Imagina você colocar 200 moradores de rua juntos num lugar sem prever – e depois? É complicado, é difícil administrar um lugar como esse. Muitas vezes eu fui a mais prática! A mais concreta! Quem vai pagar a água, a luz, o telefone, o gás, a internet? É todo mês! Quem vai pagar o aluguel  do galpão? Então, a tal da obra que demorou pra sair... eu lembro que uma vez o prefeito ficou superirritado comigo numa reunião em que ele falou assim “bom, vamos conseguir doações de beliches, de colchões e de lençóis”, e aí eu levantei a mão e falei assim “prefeito, isso é o de menos, colchão a gente tem, beliche a gente tem; o difícil é a gestão desse espaço”! Você acredita? Quem falou em gestão, que é difícil a gestão desse espaço fui eu! E aí isso foi interpretado como se eu estivesse confessando a minha incapacidade! Tipo assim “como assim é difícil a gestão”? Você entende a conversa de surdos? Eu não estava dizendo que era difícil pra mim! Eu estava dizendo que é difícil em si! Tem que pensar na gestão do espaço! Então, você vê, até nas horas em que a gente concorda a divergência ficou mais gritante. Como é que alguém que é de gestão não consegue pensar nisso? Depois que inaugura a obra como é que faz?

Ele queria tirar as pessoas da rua vapt-vupt pra fazer a fachada do Cidade Linda, é isso?

Não por causa do Cidade Linda, mas por entender que é o certo. Tipo assim: a rua não é lugar pras pessoas ficarem. Ter gente morando na rua, embrulhada em cobertor ou em papelão é um sinal de fracasso. E é um fracasso, de certa forma; é um fracasso da civilização. É um fracasso do modo como a gente se organizou, em cidades e que não funcionou em lugar nenhum do mundo, não há uma cidade rica e bem resolvida no mundo que não tenha morador de rua, alguns deles porque têm problemas mentais graves, outros porque não se adaptam a outro modo de vida. Não se adaptam a parede, teto, interruptor. Tem um filme maravilhoso chamado “O Solista” que devia passar nas escolas. É um jornalista que conhece um músico supertalentoso que vive no buraco de um viaduto debaixo de uma avenida. Ele aluga um apartamento pro cara e o cara quase enlouquece! Tem muita gente morando na calçada, embrulhado numa lona, num papelão, é um fracasso, mas é um fracasso nosso, da civilização. Mas isso pro Doria era um sinal de fracasso pessoal. “Eu não estou conseguindo”. Se ele não está conseguindo e se eu, Sonia, sou a responsável pela Assitência Social, então eu é que estou fracassando.

Ele é um centralizador, não deixou você desenvolver o seu projeto, não confiou em você. Ele se intromete na seara dos outros. Essa performance dele com o papa foi um bom exemplo.

Sabe que eu não acompanhei? 

Foi ridículo! Primeiro ele pede pro papa reconsiderar a recusa em visitar ao Brasil. Ora, ele já tinha recusado ao Temer por que Doria se imiscuiu na história? Depois, quando eles se deram as mãos Doria tentou puxar a mão do papa para beijá-la à força e o papa tirou a mão!

O papa não é muito dessas coisas...         

Por isso não entendi por que você aceitou o convite dele.

Ele confiou em mim, mesmo sabendo que eu sou meio doida, de esquerda, espontânea e heterodoxa, mesmo nós dois tendo perfis tão diferentes. Com o tempo isso foi mudando, ele foi resistindo cada vez mais e aceitando cada vez menos as coisas que eu alertava que não iam dar certo. Às vezes eu não estava nem discordando do que ele se propunha a fazer; eu estava concordando, mas alertando: “assim não vai dar certo”, “desse jeito não vai adiantar”, “não vai adiantar pra todo mundo”, “não vai adiantar nessa escala que vocês estão imaginando”. E aí eu fui ficando pra trás no conceito do prefeito, como aquela que até certo ponto não quer tirar as pessoas da rua. E não tem habilidade pra isso. 

Ele meio que desqualificou as mulheres, alegando que você não teria força para tocar as obras necessárias...

Eu sou ruim de gestão, foi o que ele disse, em resumo. Na hora do vídeo, tinha uma assessora minha assistindo a gravação e ela disse “olha, eu não gostei muito, não, parece que você tá dizendo” falando pra ele, porque o Doria perguntou “e aí”? “Não sei, tá dando impressão que você tá dizendo que ela é uma pessoa de muita sensibilidade, mas que ela é incompetente”. Aí eu virei pra ela e disse “mas é isso mesmo que ele está dizendo, não é que ele se expressou no vídeo”. Oras bolas, por que é que ele está me demitindo? Porque apesar de eu ser uma pessoa de muita sensibilidade coisa e tal eu sou uma incompetente. E ela falou “não, mas não foi”. “Mas foi isso o que ele concluiu, e ele tem direito”. E é melhor assim, senão, fica aquela coisa “ela é ótima, ela fez um trabalho excelente, mas eu estou pedindo pra ela sair”. Então... é como despedida de técnico na CBF. “Olha, o Dunga é maravilhoso, fez um grande trabalho, devemos muito ao Dunga, mas é o fim do ciclo dele”.

Mas não tem nada que ver comparar você com Dunga...

(Risos) Mas tem a ver... eu não quereria, isso eu não aceitei: que alguém pensasse que eu queria sair. 

Você não ficava incomodada com esse discurso do Doria de ódio a Lula, sempre repetindo que Lula é bandido, que tem ir preso?

Não é a minha linha de discurso, mas isso pra mim era uma questão à parte. Eu discordava de várias coisas no discurso dele. Em algumas a gente conseguiu, não só eu, a gente conseguiu melhorar o discurso dele várias vezes... em relação àquela coisa do pixador... ou em relação à Cracolândia, ele dizia “vamos acabar com isso”... “de braços abertos pra morte”. Criticando o programa anterior. Em relação ao Lula, nunca me dei ao trabalho. Porque, pra mim... não gosto, não é desse jeito, mesmo achando que há motivos suficientes para que Lula cumpra pena, eu não falo assim, eu não xingo as pessoas, eu não vocifero. Nessa hora, cada um é cada um.

Você acha que esse confronto com Lula é sinal de que ele quer ser candidato a presidente em 2018?

Eu acho que agora ele tá bastante animado com a possibilidade de ser presidente. Acho – totalmente achismo da minha parte – que ele está se encantando com a ideia. Nem que seja pra namorar... imaginar, sabe? “Puxa, como seria se eu fosse presidente”? Não sei se é um plano, mas é uma imagem agradável. Mas eu não acho que... há muito tempo ele fala de Lula e como o Lula é também do tipo que responde...acaba criando um antagonismo...

Dessa vez ele não respondeu.

De que vez?

Essas últimas vezes.

Entendi...

Você acha que esse namoro do Doria com a ideia da presidência cresceu com as delações que despencaram sobre o Alckmin, o Aécio?

Não, eu acho que o que fez com que ele namorasse a ideia foi o fato de ele se sentir muito satisfeito com o andamento do primeiro mês de governo e ver isso refletido em taxas enormes de aprovação e recepções incríveis onde quer que ele ande, as pessoas aplaudem, é uma coisa de doido, ele vai ao shopping e não consegue sair, de tanto selfie e autógrafo, entra no avião, um cara começa a bater palmas e mais da metade do avião bate palmas também. Foi mais essa aprovação muito grande ao trabalho dele que o animou.

Se ele e o Lula fossem candidatos você votaria nele ou no Lula?

Eu não votaria no Lula.

E nele?

Bom, se fosse um segundo turno...um segundo turno em que Lula... olha, eu não sei... a gente ficou até brincando de hipóteses outro dia...o meu pessoal... Lula e Fulano? Fulano. Lula e Sicrano? Sicrano. Lula e Bolsonaro? Lula! Pra tudo tem limite! Mas o Lula não é mais meu candidato.

Teu partido apoia o governo. Que avaliação você faz de Temer?

Tomou medidas que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo e que ninguém se atreveu a tomar, tipo a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. São duas reformas que todos os governos desde Fernando Henrique tentaram fazer. Não quer dizer que eu concorde com a proposta em si. Pra mim, a transição tinha que ser muito mais bem definida.

Está havendo um grande debate principalmente pós delações da Odebrecht. O PSOL já pediu renúncia de Temer, dos ministros e até de todos os deputados, e eleições gerais, outro pedem uma nova constituinte. O que você pensa disso? Oito ministros acusados. O PSDB enfraqueceu. Todo dia tem delações na TV. Qual é a saída?

Quanto à Lava Jato, durante muito tempo a gente que era a minoria, a oposição clamava pelo dia em que banqueiro fosse preso, que dono de empreiteira fosse preso, que político de alto escalão fosse preso porque nunca chegava neles. Quando muito caía um senador e um juiz. O Nicolau. O Collor. O Luiz Estêvão. E agora tem ex-governador preso. Com uma qualidade a mais que é voltar o dinheiro. Essa semana mesmo voltaram 150 milhões pros cofres do Rio de Janeiro. Recuperar 150 milhões de dinheiro roubado é muito positivo. Apesar de algumas barbeiragens aqui e ali do Judiciário... como a Dilma cair antes do Cunha, o contrário do que eu previ, eu achei que o Cunha caía e a Dilma ficava e aí cairam os dois, meu Deus do Céu! Cai a Dilma e não cai o Cunha! Meu Deus do Céu, ninguém nunca vai conseguir derrubar esse cara?! Nem nunca vai pegar o Eike Batista!? O Sérgio Cabral?! E essas obras absurdas da Copa do Mundo?! Que todo mundo sempre soube que foi um negócio mal falado e mal contado. Então, tem um lado da Lava Jato que a gente sempre pediu e nunca acreditou que fosse acontecer. Mas a política caiu no descrédito. Outro dia eu tentei fazer um financiamento junto com um conhecido meu. Eles recusaram o financiamento porque eu sou uma figura de proeminência política. Isso pra mim é discriminação. Aí acontece o mesmo perigo de Collor de Mello, de... Deus que nos livre... de Jair Bolsonaro... é o cara que vende a ideia de que... comigo não tem moleza! Eu sou o cara! Isso é muito ruim!

Agora, tem que ficar claro que a corrupção não é coisa da Nova República, na ditadura a Odebrecht já atuava...

Exatamente. Quantas vezes já tive que explicar isso para colegas meus mais novos do que eu! É graças à democracia que a gente fica sabendo! Não é que a democracia falhou. Você só pode falar hoje sobre o Bolsonaro porque o Bolsonaro não tá lá. Se ele tivesse você não poderia discordar dele.   

O fato de não estar na Lava Jato não pode ser credencial para ser presidente...

Nem ser anticomunista! E atribuir todos os erros dos anos recentes à esquerda! Parece que o problema agora é a esquerda. A ditadura era de direita e aí entrou a esquerda e estragou tudo! Pronto, quem é de esquerda é vagabundo, safado, ladrão e, portanto, a saída é pela direita! A gente sofre tanto no PPS, por exemplo, porque você apanha do PT e do PCdoB porque somos golpistas e o pessoal da direita também nos odeia porque nós somos comunistas! Isso é azar! Azar!  Teve um debate com o MBL no qual a plateia perguntou pro Doria “Doria, por que você chamou uma comunista maconheira pro seu governo”?

E ele respondeu o que?

“Porque eu confio nela”.

Falando em maconheiro, eu estava vendo ontem o site de um jornal português, acho que o Diário de Notícias com uma reportagem chamada “As freiras da canabis”...

Ah, é?

São freiras tradicionais, nenhuma noviça rebelde, velhinhas algumas, outras novas, que cultivam a canabis em estufa, fumam...e são boazinhas... acreditam em Deus... e Deus não castiga...

(Risos)

Nenhuma malucona, nenhuma bicho grilo, todas família, daquelas que fazem bolo aos domingos...

Bem comportadas...a gente sempre achou tão normal que os mosteiros produzissem vinho ou que monges plantassem chá...daqui a 50 anos alguém vai olhar pra cá e falar assim “nossa... fumar era crime? Por que”? Como se fosse bacon... porque faz mal...

E o PSDB, como é que ficou depois dessas delações? Você tem falado com o Serra ou não fala mais com ele?

Não precisa nem falar com o Serra pra saber... faz muito tempo o PSDB está o P pra um lado o S pro outro o D pro outro o B pro outro. Que haja divergências de pensamento, de postura dentro do partido é inevitável. Mas a impressão que eu tenho é que são diferenças estruturais. Não é um ponto de vista ou outro. É um pensamento muito diferente. Em relação de como funciona a política. Em relação à Economia...

Você está falando de Aécio, Alckmin e Serra?

Nossa, são pessoas de baixa compatibilidade! Se um deles fosse presidente não acredito que algum dos outros dois seria convidado para ser ministro.

Você acha que o Aécio ficou enfraquecido?

Ficou fraquinho como não poderia. E como não ficaria?

Ele está fora de 2018?

Eu acredito que sim. Fique registrado que, como eu disse que está fazendo reformas que há muito tempo precisavam ser feitas, não necessariamente nesse formato que fique registrado que isso não quer dizer que eu gosto do Temer. O Temer pra mim era uma das provas de que o PT fazia qualquer coisa pra eleger um presidente. Eu falava: gente, eles não estão enxergando? Pelo amor de Deus! Mas aí é a coisa da regra: eu não posso ser a favor do impeachment da presidente e querer que o vice seja outro.

Mas ele como presidente é um desastre. Tanto que a aprovação dele só despenca...

É doido porque, mesmo assim, há alguns ministros muito bons...o Roberto Freire faz um bom trabalho...o Mendoncinha na Educação está indo muito bem...

O Temer vai se aguentar até 2018? Vai ter eleição? Todo mundo vai renunciar?

Eu acredito que é o seguinte: quem se elegeu foi uma chapa. Dilma-Temer. Então, se houver uma condenação no TSE da chapa, então o vice faz parte da chapa. Não dá pra desmembrar. Eles se elegeram juntos. A decisão do TSE é imprevisível. Que sei eu a essa altura? Já errei vários palpites antes.

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