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Trans é ameaçada de morte depois de palestrar em evento de TI

“Eu vou te matar”, dizia o título do e-mail que chegou à caixa de entrada de Evelyn Mendes, desenvolvedora de programas, mulher trans, 43 anos, no final de agosto, quando ela participava da conferência BrazilJS, em Porto Alegre; Evelyn foi uma das palestrantes no evento que é considerado o maior do mundo sobre JavaScript; o resto da mensagem seguia: “Sua abominação, eu estudei anos em TI para que eu ficasse desempregado formatando computadores, enquanto você e a sua panela (…) estão aí ocupando o meu lugar. (…) quando você menos esperar eu vou te matar com requintes de crueldade”; o autor da mensagem ainda prometia filmar o ato e postar em um fórum online

“Eu vou te matar”, dizia o título do e-mail que chegou à caixa de entrada de Evelyn Mendes, desenvolvedora de programas, mulher trans, 43 anos, no final de agosto, quando ela participava da conferência BrazilJS, em Porto Alegre; Evelyn foi uma das palestrantes no evento que é considerado o maior do mundo sobre JavaScript; o resto da mensagem seguia: “Sua abominação, eu estudei anos em TI para que eu ficasse desempregado formatando computadores, enquanto você e a sua panela (…) estão aí ocupando o meu lugar. (…) quando você menos esperar eu vou te matar com requintes de crueldade”; o autor da mensagem ainda prometia filmar o ato e postar em um fórum online (Foto: Leonardo Lucena)
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Fernanda Canofre, Sul 21 - “Eu vou te matar”, dizia o título do e-mail que chegou à caixa de entrada de Evelyn Mendes, desenvolvedora de programas, mulher trans, 43 anos, no final de agosto, quando ela participava da conferência BrazilJS, em Porto Alegre. Evelyn foi uma das palestrantes no evento que é considerado o maior do mundo sobre JavaScript. O resto da mensagem seguia: “Sua abominação, eu estudei anos em TI para que eu ficasse desempregado formatando computadores, enquanto você e a sua panela (…) estão aí ocupando o meu lugar. (…) quando você menos esperar eu vou te matar com requintes de crueldade”. O autor da mensagem ainda prometia filmar o ato e postar em um fórum online.

A ameaça, no entanto, teve efeito contrário. Ao invés de se intimidar com os e-mails, Evelyn resolveu expor os autores publicamente. Primeiro, no palco da edição da BrazilJS, em Fortaleza, depois, publicando prints das mensagens, onde os próprios remetentes se identificam, fornecem dados pessoais e fotos, na internet.

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“Eu sempre ficava isolada quando ia [nos eventos], porque a diferença de gênero ali era eu. Agora, conheço as outras meninas e a gente se protege, vamos sempre juntas. Fora que também fiquei um pouco conhecida e não deixo mais quieto, dou respostas na hora, para tirá-los da zona de conforto”, conta Evelyn, explicando sua decisão.

O machismo na área de tecnologia de informação não é novidade. E é o que colabora para que as mulheres ainda sejam minoria. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), realizada pelo IBGE no ano passado, elas são apenas 20% dos 580 mil profissionais atuando na área, no Brasil. Nas faculdades, de acordo com a mesma pesquisa, o preconceito faz com que 79% das mulheres que decidem estudar TI deixem o curso ainda no primeiro ano. Durante a Brazil JS, o Sul21 conversou com algumas das palestrantes para falar sobre questões de gênero no setor.

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Antes dos e-mails, ainda durante a conferência, um participante já havia postado críticas no Twitter às mulheres que estavam participando. A reclamação dele era que feminismo não deveria ser misturado com tecnologia. Para as mulheres da área, algo comum de se ouvir.

“É só uma menina se destacar, eles começam a vir. Não é só comigo. Mas as coisas estão mudando e isso é um efeito rebote. Tem uma minoria que grita alto e acabam dando atenção. O que eu estou fazendo agora é ridicularizando os e-mails que estou recebendo e expondo os caras”, diz Evelyn.

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No último dia 05, ela registrou um boletim de ocorrência para que as ameaças sejam investigadas, junto à Delegacia Especializada da Mulher (DEAM), em Porto Alegre. A desenvolvedora diz que as mensagens parecem ser escritas por duas pessoas, embora venham assinadas com nomes variados. Um deles, por exemplo, faz referência a Elliot Rodgers, um atirador de 22 anos que, em 2014, matou seis pessoas e cometeu suicídio, no campus da Universidade da Califórnia. Eles ameaçam processá-la, pedem depósitos de R$ 10 mil, enviando conta corrente, agência e CPF, para deixá-la em paz.

Nas mensagens, os assediadores chamam Evelyn de “meu caro travesti” e insistem em tratá-la por pronomes masculinos. As ameaças são pesadas e envolvem também a mãe dela. Quem envia os e-mails cita o nome e endereço dela, para assustar a filha. “Não duvide de encontrar a cabeça de sua mãe em uma lixeira”. “Talvez eu decida ir aí te estuprar”. “Seus amigos negros empoderados vão fugir em manada”. “Eu queria viver em um país onde homens que se vestem de mulheres seriam enviados para campos de concentrações e eliminados pelo Estado”. “Eu também queria viver em um país em que lugar de mulher fosse fazendo coisas de mulher, e não bostejando em palestras, enchendo o saco e perturbando os outros”. “Mulheres destroem tudo o que é bom”.“Você não sabe com quem está lidando”.

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Os organizadores do evento também acompanham a situação. “Desde o ocorrido, ficamos em permanente contato com a Evelyn, pois não podemos simplesmente deixar isso de lado. Estamos acompanhando na comunidade do Brasil inteiro, investigando e acionando todas as pessoas que possam ajudar de alguma maneira”, afirma Jaydson Gomes, CEO da BrazilJS, em nota.

Evelyn diz que ainda não teve retorno sobre o caso, por parte da Polícia Civil. O Sul21 entrou em contato com a DEAM, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

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Mesmo com o teor violento, Evelyn navega a situação e diz que não irá desistir de denunciar o assédio. “Muitas e muitas meninas vieram falar comigo agradecendo por eu estar postando, expondo essas pessoas, porque elas também passaram pelas mesmas coisas. Muitas já pensaram até em cometer suicídio por causa [das ameaças]. Eu quero que elas vejam que é uma bobagem e ignorem esses caras”.

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