Transplante: mesma córnea ajuda dois pacientes

Goiás 247_  O Instituto Panamericano da Visão apresenta uma nova tecnologia de transplante de córnea inédita no Estado. Nesta sexta-feira cerca de 50 médicos oftalmologistas passarão por treinamento, laboratório e acompanharão, ao vivo, a cirurgia de dois pacientes que serão transplantados. O oftalmologista especialista em córnea Frederico Guerra do Instituto Benjamim Constant do Rio de Janeiro, vai ministrar as palestras e efetuar as cirurgias.

Segundo a Central de Notificações, Distribuição e Captação de Órgãos (CNCDO) da Secretaria Estadual de Saúde, de janeiro a 31 de agosto deste ano, foram realizados em Goiás 650 transplantes de córnea. E a quantidade de pessoas em busca do procedimento ainda é alto, são 2.976 na fila de espera. Porém, uma nova tecnologia traz a esperança de diminuir esses números e agilizar o procedimento. Isso porque o equipamento batizado de Microcerátomo Moriá é capaz de dividir uma córnea em duas partes (anterior e posterior), aumentando as possibilidades para indivíduos que aguardam o transplante.

A córnea é uma estrutura transparente localizada na parte anterior do globo ocular, ou seja, na frente do olho, é a principal lente do sistema ocular, com cerca de 45 “graus”. Esse tecido tem em sua formação duas partes fundamentais, a lamela anterior e o endotélio, parte posterior. O transplante de córnea é indicado quando uma de suas características é perdida: transparência, curvatura, número de células ou regularidade. O procedimento consiste em substituir uma porção da córnea doente de forma total ou parcial por uma córnea doadora saudável, a fim de melhorar a visão do paciente.

Antes dessa nova tecnologia, o método mais comum é o transplante penetrante. Nele, toda espessura do centro da córnea doente é retirada. O procedimento deixa um buraco, onde a nova córnea é colocada. Nesse ponto é que os dois transplantes se diferenciam. Com o novo equipamento apenas uma parte da córnea precisa ser retirada, ou a lamela anterior ou a posterior. A máquina, operada pelo médico especialista, faz esse trabalho com precisão e segurança. Além de mais rápido e apresentar melhores resultados para a visão do paciente, esse método é menos invasivo e oferece menos riscos no pós-operatório.

O fato de usar apenas uma parte do tecido não indica problemas para o transplante, isso porque na maioria dos casos o paciente apresenta problemas em apenas um lado da córnea. A doença que mais acomete os pacientes que necessitam do transplante é a ceratocone. Enfermidade que por sua vez atinge principalmente a parte anterior do tecido. Dos 650 casos de transplantes feitos em Goiás, neste ano, 62% foram em pessoas que apresentavam essa doença, o que significa 403 indivíduos.

Nos casos de transplante lamelar anterior existem outras vantagens. Uma delas é sobre a rejeição. Quando se troca apenas a parte da frente da córnea não existe rejeição, já que os casos de não compatibilidade são apresentados pelo endotélio. Outro ponto a se destacar é a quantidade de córneas disponíveis no banco para esses pacientes; vale lembrar que é a maioria dos casos. Como apenas a parte anterior do tecido é aproveitado, muitas córneas, que antes eram descartadas porque a parte posterior tinha alguma deformidade, podem ser aproveitadas nesses procedimentos.