Um drible do dinheiro no futebol

Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris – Por mais que a França tente esquecer o fiasco da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, o assunto volta a assombrar o País. O então treinador da equipe, Raymond Domenech, ressurge à cena para reclamar o pagamento de 2,9 milhões de euros, contestando sua demissão por justa causa. Ele ainda exige o prêmio ligado ao mundial de 100 mil euros. Todos os jogadores, menos William Gallas e Nicolas Anelka, aceitaram renunciar esse valor depois da patética atuação que tiveram ano passado.

A Federação Francesa de Futebol bem que tentou um acordo menos custoso para se livrar de vez do problema. Mas com um sorrisinho que deixou escapar no canto direito do lábio, Domenech disse simpesmente não. A questão será levada a julgamento no dia 13 de janeiro de 2012. Três conselheiros do Tribunal do trabalho ficarão encarregados de determinar se o ex-técnico cometeu ou não as fautas graves de que é acusado: leitura do comunicado dos jogadores em greve e a recusa de apertar a mão do treinador sul-africano, Carlos Alberto Parreira, ao final da partida contra os Bleus no mundial.

O presidente da Federação, Fernand Duchaussoy, foi categórico e disse que não pagará um centavo ao treinador. “Os jogadores renunciaram aos prêmios. Raymond Domenech está fazendo isso de provocação? Cabe a vocês julgarem…”, disse ele na saída da comissão. Para a ministra do Esporte, Chantal Jouanno, a soma exigida é indecente. Segundo ela é lamentável que o papel social do futebol seja perturbado e manchado por mais um caso de dinheiro. A declaração, no entanto, ganhou um ar de hipocrisia depois que a Nike, patrocinadora da equipe francesa, decidiu apelar para a moda para levantar a moral do futebol no país.

Decidida a quebrar todas as tradições dos Bleus, a Nike transformou os jogadores franceses em marinheiros no amistoso com a Croácia, no final de março. O uniforme será usado pela equipe em todos os jogos fora do País. Com esse novo modelito, a marca americana pretende penetrar no terreno da moda e se focar em uma população mais jovem e feminina. Segundo Gilles Portelle, diretor geral da agência Havas Sports Entertainment, quando se vê Karl Lagarfeld, diretor artístico da maison Chanel, fotografar os jogadores da equipe da França, os Bleus em campanhas publicitárias ao lado de artistas e camisas oficiais sendo vendidas em lugares luxuosos como na Colette, percebe-se que a Nike decidiu claramente deixar os códigos do esporte de lado. A Nike quer mostrar aos franceses que o futebol não é apenas uma questão de resultados, mas também de espetáculo.

Ridicularizados de Popeye por uns… enaltecidos pela lembrança dos marinheiros de Charles de Gaulle por outros. A verdade é que a equipe de futebol da França não teve muita escolha diante dos 42 milhões de euros anuais pagos pela patrocinadora oficial americana – o que torna o então humilhado uniforme francês no mais caro do mundo. É uma pena que o lado social do futebol seja perturbado e manchado por mais um caso de dinheiro, como diria a ministra Chantal Jouanno.