HOME > Geral

Vocês querem que a FIFA vá embora?

Então gritem bem alto e com todas as letras: Vá, FIFA! Vá, FIFA!

Há uma espécie de alegria selvagem quando falamos um palavrão em público. Ou no mínimo uma palavra "proibida." Pra isso recorremos aos cacófatos e aos duplos sentidos que pululam na música brasileira. "Tem COCA AÍ NA geladeira, diz um sambista. "Vocês querem que a Gina vá embora? VÁ, GINA!" replica um espertinho. Esse versinho é o meu favorito:

"O Brasil vai lançar foguete
Cuba também vai lançar
Quero ver se CUBA LANÇA
Quero CUBA LANÇAR"

Sim, já está acontecendo. Em Rede Nacional. Em plena Rede Globo, por mais que eles se façam de desentendidos. Num link ao vivo, a repórter, acompanhada da dupla Chitãozinho e Xororó, escuta os brados da torcida, que grita claramente: "GALVÃO VIADO!" E ela: "A gente não está conseguindo entender o que eles estão falando." Imagina. A claque continua: "EI, GALVÃO, VAI TOMAR NO CU!" E a tonta: "Olha, está uma confusão aqui porque eles estão pedindo as músicas." Claro.

Não é mérito do Galvão. Dilma foi vaiada. Blatter foi vaiado. Estavam loucos pra vaiar a seleção, mas os 3 X 0 calaram a boca dos chatos. Por enquanto.

Por que tanta raiva? Simples: a Copa do Mundo sangrou muito além da conta os cofres públicos, como sabe qualquer um que lê os jornais. Os estádios foram superfaturados. A FIFA mandou e desmandou, cuspiu na soberania nacional. Disse que devíamos ser chutados. Fecha onde e quando quer o trânsito. Vende bebidas nos estádios, à revelia da lei brasileira. Cobra o olho da cara nos ingressos. Contrata "voluntários" (a pobrezinha) que trabalham o dia inteiro em troca de barrinhas de cereal e outros mimos.

No mundo dos milhões de dólares e dos milhões de votos, o camarada fica praticamente inimputável. Mas por quanto tempo? Neymar disse com todas as letras que não ia embora do Santos. "Gente, não tem nada disso." E todo mundo fingindo que estava acreditando. Dilma garante que a inflação está sob controle. Mas sobem o preço dos alimentos, das passagens de ônibus, e só o que não sobe é o salário mínimo. Vamos fingir que acreditamos nela até quando?

Foi ótimo que o aumento das passagens em São Paulo coincidisse com a abertura da Copa das Confederações, um torneio caça-níquel que custou milhões e milhões ao povo. Quando avisaram que a Copa ia ser no Brasil, garantiram: "Não haverá dinheiro público." Mentira. Mentira de novo.

Houve e muito. Nos últimos anos o lulopetismo se aliou à FIFA, ao Corinthians e a outros tubarões do capitalismo esportivo, revelando-se um exímio construtor de gigantescas arenas de concreto. Elas são lindas, admito, mas existe um país a ser construído no entorno.

A Folha de São Paulo estampou na capa dessa terça feira: "Milhares vão às ruas contra tudo." Não podemos deixar o movimento disperso, temos que encontrar um bode expiatório, precisamos de um inimigo.

"Mas, André, as consequências de cancelar a Copa do Mundo seriam desastrosas pra imagem do Brasil no mundo." Concordo. É o preço que se paga pra sentir orgulho. Não estão dizendo por aí que o brasileiro voltou a ser orgulhoso?

Quero ver CUBA LANÇAR. Na Rede Globo.