Holanda não deve subestimar a determinação da China em proteger seus direitos, diz editorial do Global Times
Intervenção do governo holandês na empresa Nexperia, de capital chinês, é classificada como “pirataria do século 21”
247 – O jornal chinês Global Times publicou um editorial contundente nesta segunda-feira (13) criticando duramente a decisão do governo da Holanda de intervir na Nexperia, subsidiária da empresa chinesa Wingtech.
A publicação do Global Times afirma que o país europeu está praticando uma “severa perseguição” sob o pretexto de preocupações de “segurança nacional” e alerta que Pequim não aceitará a violação de direitos de suas empresas.
Intervenção inédita e reação chinesa
No dia 30 de setembro, o Ministério da Economia da Holanda impôs uma ordem administrativa limitando as decisões empresariais da Nexperia, o que, segundo o editorial, “efetivamente privou os acionistas chineses do controle normal da empresa”.
A medida foi descrita pelo governo holandês como uma decisão “altamente excepcional” para proteger a “segurança econômica da Holanda e da Europa”.
A Wingtech reagiu imediatamente, emitindo um comunicado de protesto contra o que chamou de “tratamento discriminatório dirigido a empresas financiadas pela China”.
O Global Times classificou a intervenção como “pirataria do século 21”, destacando que ela busca “apropriar-se do capital e das conquistas tecnológicas que empresas chinesas levaram anos para construir”.
Escalada das tensões entre China e o Ocidente
A decisão do governo holandês gerou forte repercussão internacional. O Financial Times afirmou que a medida “aumenta as fricções entre países ocidentais e a China no setor de alta tecnologia”, enquanto a Bloomberg alertou que a ação pode “agravar ainda mais as tensões entre Pequim e a União Europeia”.
Segundo o editorial, as ações holandesas “vão muito além da regulação comercial normal” e possuem “características de coerção política e discriminação flagrante”. O texto também argumenta que a medida “viola os princípios da economia de mercado e da concorrência justa”, minando a confiança de investidores internacionais no mercado europeu.
"Violar as regras internacionais", diz o Global Times
“O que está em jogo não é apenas uma disputa entre o governo holandês e uma empresa chinesa, mas uma afronta às regras internacionais”, diz o Global Times. “A comunidade internacional não pode tolerar tais ações predatórias disfarçadas de medidas legais ou de segurança.”
O jornal destacou ainda que a intervenção segue o exemplo dos Estados Unidos, que, sob o governo do presidente Donald Trump, intensificou a repressão a empresas chinesas sob o mesmo argumento de “segurança nacional”.
Pequim promete reagir e proteger suas empresas
Na segunda-feira, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que o país “se opõe à ampliação indevida do conceito de segurança nacional” e “a qualquer ato discriminatório contra empresas de determinados países”. O governo chinês, segundo o porta-voz, está “firmemente determinado a defender seus direitos legítimos”.
O editorial lembrou que a China possui um arcabouço jurídico sólido para reagir a medidas desse tipo, incluindo a Lei Antissanções Estrangeiras, que protege os interesses de empresas chinesas no exterior. “Ninguém deve subestimar a firme determinação e a plena capacidade da China de defender seus próprios interesses”, reforçou o texto.
"Colonialismo econômico" e advertência histórica
O Global Times comparou as ações holandesas às práticas coloniais de séculos passados, acusando o país de “revestir de legalidade um confisco de ativos motivado por interesses políticos”. “Alguns países ocidentais tratam hoje a ‘segurança nacional’ como uma licença de pirataria — uma manifestação dos genes coloniais despertando no século 21”, criticou o jornal.
O texto recorda que, desde que a Wingtech adquiriu a Nexperia em 2019, a empresa vem operando de forma estável e contribuindo positivamente para a economia holandesa. Ainda assim, “o principal risco enfrentado pelas companhias chinesas hoje não vem da concorrência de mercado, mas de práticas de pilhagem comercial travestidas de medidas de segurança”.
Crescimento econômico chinês reforça resiliência
Apesar das pressões externas, os dados da Administração Geral de Alfândegas da China mostram que as exportações do país cresceram 8,3% em setembro em relação ao ano anterior, enquanto as importações subiram 7,4%. Exportações de robôs industriais avançaram 54,9% no acumulado do ano, e produtos verdes — como locomotivas elétricas — registraram alta de dois dígitos.
Para analistas citados pelo Global Times, esses números refletem a resiliência da economia chinesa e indicam que, mesmo diante do protecionismo e das restrições ocidentais, as relações comerciais da China com o mundo continuam se aprofundando.
A escolha entre abertura e protecionismo
O editorial conclui que o mundo enfrenta uma escolha clara: “ou volta aos caminhos coloniais do protecionismo e do unilateralismo, ou constrói um novo modelo de abertura, inclusão e prosperidade compartilhada”.
A publicação adverte a Holanda de que “ignorar o rumo da história é levantar uma pedra para deixá-la cair sobre os próprios pés”, reiterando que Pequim está preparada para responder a qualquer tentativa de restringir ilegalmente os direitos de suas empresas.



