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Ideias

“A Bíblia é um livro extremamente machista”, declara historiador Emerson Borges

Estudioso dos textos sagrados, o pesquisador considera que “a Bíblia reflete a personalidade dos homens daquela época”. Ele falou ao programa Um Tom de Resistência, na TV 247, que também recebeu a cineasta e coreógrafa Carmen Luz. Assista

(Foto: Reprodução)
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Por Nêggo Tom - O historiador e pesquisador Emerson Borges falou no programa Um Tom de Resistência, na TV 247, sobre um debate presente entre estudiosos dos textos sagrados: a suposta inspiração divina contida nas escrituras. “Eu fui aprofundando os meus estudos, não apenas das religiões, mas, principalmente, da Bíblia, que é a base de todas as religiões. Assim fui percebendo que a Bíblia possui muitas contradições, muitas incoerências, discrepâncias, antagonismos, erros científicos, históricos, mitos, lendas, valores de moral absurdos e desequilibrados. E, estudando cada vez mais, me aprofundei na história da Bíblia, na história da Mesopotâmia, e fui observando que se fizermos um escrutínio profundo, percebemos que a Bíblia não é um livro inspirado por Deus. Ela é um livro escrito por homens da época, homens tribais, simples, rudes, que criaram um deus e um sistema religioso que refletiam a própria personalidade deles. Eram homens homofóbicos, xenofóbicos, machistas, genocidas, que destruíam civilizações e promoviam guerras terríveis. Tudo isso se refletiu nos textos bíblicos escritos por eles, em especial, no Velho Testamento, que é a maior parte da Bíblia”, explicou.

A submissão da mulher ao homem como recomendação bíblica, foi analisada e classificada por Emerson como um “machismo” característico nos homens da época. “Como eu disse anteriormente, a Bíblia é um reflexo dos pensamentos e da cultura da época em que ela foi escrita. Os homens que a criaram espelharam nela o que eles pensavam. E a Bíblia é um livro extremamente machista do começo ao fim. A começar pelo livro do Gênesis, onde a mulher, a Eva, é a culpada de tudo. Foi ela quem comeu o fruto proibido, ela que foi a responsável por se deixar seduzir pelo mal. Inclusive, a Bíblia dá a entender que o homem comeu do fruto proibido por culpa da mulher. E sugere que ele o teria feito por amor a ela. A mulher é a vilã da história. Ela comeu do fruto por querer se igualar a Deus, depois que a serpente lhe disse que ela teria todo o conhecimento se o fizesse. A Bíblia imputa à mulher uma motivação egoísta e o apóstolo Paulo ratifica essa ideia em uma de suas cartas, quando ele diz que a mulher foi corrompida pela serpente. Outro detalhe, é que a nenhuma mulher é atribuída a autoria de escritos bíblicos. Sem falar dos grandes patriarcas, como Abraão, Jacó, Davi e Salomão, que tiveram várias mulheres ao mesmo tempo. A poligamia era normal e a mulher era vista como um objeto, uma serva submissa, que tinha como único objetivo procriar. Tanto é que aquelas que não podiam ter filhos eram consideradas inferiores e praguejadas”.

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O historiador ainda lembra que, segundo as leis mosaicas, o estupro só era caracterizado se a mulher gritasse ou reagisse ao ato. Do contrário, ela seria considerada culpada. “Se o cara pegasse uma mulher e a estuprasse, e ela não gritasse, a culpa era sua. Imagina uma mulher naquela situação de vulnerabilidade, com medo, sendo ameaçada e violentada, tremendo de pavor e mal conseguindo falar qualquer coisa, ser considerada culpada pelo crime que sofreu. E ainda corria o risco de ser apedrejada e morta, segundo a lei da época. Então, você percebe que isso não era da vontade de Deus, mas sim dos homens daquela época. “ Emerson falou ainda a respeito da abordagem bíblica em assuntos como racismo e homofobia e sobre a suposta autoridade que Deus confere aos homens, segundo as escrituras sagradas. “Essa questão da autoridade, é mais uma tática usada pela religião para manipular e dominar as pessoas. Eles precisam apelar para alguma autoridade que legitime as suas ações, e nada melhor do que inventar um deus que concedeu tal autoridade, e que passa ser o responsável pelas ordens que eles determinam que os fiéis cumpram”.

A arte como processo revolucionário

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O primeiro bloco do programa “Um Tom de resistência” teve como convidada a diretora de teatro Carmen Luz. Bacharel em Letras e pós-graduada em Teatro pela UFRJ, Carmen considera a arte um instrumento para o despertar das consciências. “A minha percepção de arte é que ela ajuda o mundo a se pensar e faz com que as pessoas reflitam mais sobre a coletividade e o mundo a qual pertencem. A arte, por si mesma, é um processo revolucionário”, conceituou a artista.

Sobre a representação da africanidade no seu trabalho, ela entende que é de suma importância que os negros conheçam a sua ancestralidade. “O primeiro ponto é que nós, negros e ‘negres’, precisamos saber das nossas ancestralidades. Precisamos nos perceber como pessoas que viemos sequestrados para este mundo ocidental. Viemos de um território originalmente fantástico, criador, de fato, da humanidade. Ter essa consciência, faz com que a gente não se perceba a partir de uma lente branca, que diz que nós somos filhos e filhas de escravos. Principalmente, ter a consciência de onde a gente vem, dos processos históricos, sociais, culturais e artísticos, que nos constituem através de tantos séculos de existência que habitam até hoje o nosso corpo.”

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A corporeidade dos jovens negros periféricos e as gestualidades das mulheres negras também são abordados no trabalho artístico de Carmen Luz. “Corporeidade é um conceito muito importante e o que eu gosto de frisar, principalmente, no que se refere aos jovens negros, é que ela é plural. Há uma atitude corporal que, muitas vezes, é defensiva perante os perigos do mundo urbano, mas também há uma série de gestualidades que saem desse mesmo corpo que indicam para a festa, para alegria e para geração de vocabulários, que é o que me interessa mais profundamente. Há uma produção de vocabulários contida nas nossas gestualidades. Na sua maneira de balançar a cabeça, por exemplo, na maneira de andar dos jovens, uma diferenciação de gingas, a maneira com que as mulheres negras movem o quadril. São essas coisas que me interessam, essas gestualidades, esses comportamentos advindos de uma gestualidade e de uma corporeidade profunda”. Carmen também falou sobre a agressividade através da qual a branquitude reage às gestualidades negras e à sua expressão corporal no dia a dia.

A coreógrafa avalia que “o corpo vai criando alguns signos e alguns símbolos de defesa. E uma das estratégias do racismo é identificar esses signos e transformá-los em estereótipos. Então, trabalha o tempo inteiro com o universo do estereótipo e tudo, absolutamente tudo, cabe dentro dessa lente estereotipada do mundo branco. Esse é o grande problema.” 

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