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‘Ditadura queria a mulher em casa cuidando dos filhos’, diz Maria Cláudia Badan Ribeiro

Historiadora traçou breve panorama das mulheres na luta armada contra a ditadura militar, cujas vozes, segundo ela, seguem sem ser ouvidas; veja video na íntegra

(Foto: Reprodução)
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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta terça-feira (08/03), o jornalista Breno Altman entrevistou Maria Cláudia Badan Ribeiro, especialista em história social e autora do livro Mulheres na Luta Armada (Editora Alameda, R$ 110). Neste Dia Internacional da Mulher, a escritora falou sobre a luta armada das mulheres brasileiras durante a ditadura militar e como essa história ainda se relaciona com a luta feminista atual. 

“Se olhamos para a repressão contra as mulheres durante a época da ditadura e o cenário atual, persiste o mesmo pensamento de que a mulher é subalterna, é vista como um objeto”, argumentou a autora. A ditadura "queria a mulher em casa cuidando dos filhos", mentalidade que hoje é compartilhada pelo governo Bolsonaro.

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Segundo ela, ao longo da história, a luta das mulheres consistiu em dar dois passos para frente e um, para trás. As conquistas eram deturpadas ou eventualmente perdidas e elas se viam forçadas a voltar a lutar por direitos básicos.

“Por exemplo, as mulheres lutaram pelo direito à pílula anticoncepcional para poder aproveitar suas sexualidades, ter liberdade, a chamada revolução sexual. Só que posteriormente o Estado acabou usando isso para determinar um controle sobre a fecundidade, e elas tiveram que protestar contra a pílula. O Estado não coloca em prática as políticas públicas adequadas ou elas se mostram insuficientes. Em vez de criar creches, dar apoio às mães, decidiu exercer seu controle sobre os corpos. É sempre assim. No Brasil a gente avança um pouco, aí algo acontece e retrocedemos”, lamentou.

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Ainda que a situação atual, com o governo de Jair Bolsonaro, seja muito pior do que era durante governos de esquerda, por exemplo, pois muitas mulheres se sentem mais acuadas e se calam, Badan Ribeiro alertou que, mesmo entre as forças progressistas, o espaço dado às mulheres ainda é pequeno.

Ela citou a visão sobre a resistência à ditadura. “As mulheres perderam a voz, escrevem pouco, falam menos. Não é que não participaram, participaram muito, mas a memória também tem gênero. O estigma continua, então essas histórias não são contadas”, diz.

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Mulheres na luta armada

Quando ocorreu o golpe militar em 1964, de acordo com Badan Ribeiro, os movimentos feministas já haviam avançado muito: já discutiam a repressão da igreja, do Estado e do homem, questionavam o casamento, seu papel no espaço público. “E tudo isso foi perseguido pela ditadura, que não queria esse tipo de questionamento, queria a mulher em casa cuidando dos filhos", conta.

Muitas, entretanto, não aceitaram essa repressão e se uniram à militância e à luta armada. A autora destacou a presença feminina na Ação Libertadora Nacional, de Carlos Marighella, foco de seu livro. Ela explicou que, por sua configuração mais horizontal, a entrada de mulheres na organização era facilitada, as funções não eram conferidas de acordo com o gênero e “o próprio Marighella entendia a importância da mulher para a luta, sabia que quando elas participavam, puxavam o resto da família. Ele mesmo defendeu os direitos delas de que fossem treinadas em Cuba com o resto dos militantes, porque não queriam as militantes”.

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Na ALN, suas funções eram muitas, todas importantes. “Cada uma ajudava como podia, qualquer coisa era a diferença entre a vida e a morte, e tudo era motivo para ser preso e torturado”, relata - desde participar em assaltos a bancos ou realizar sequestros, até esconder perseguidos em suas casas ou ajudar na fuga de militantes do país. 

“A repressão tentava desqualificar a luta das mulheres o tempo todo em todos os aspectos. Não podiam nem reclamar sobre o preço da batata porque já era deslegitimar o suposto milagre econômico da época. Havia um ódio contra essas mulheres, a repressão começava na desqualificação das suas opiniões e terminava na tortura. Não dá para saber como elas viveram esse período, porque até as que foram presas muitas vezes eram colocadas como namoradas de alguém, coadjuvantes, não como militantes”, discorreu.

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Mesmo assim, muitos nomes se destacaram por suas contribuições naquele período — e muitas pagaram com suas vidas. 

Badan Ribeiro reforçou que a violência em geral e a violência de gênero não eram algo pontual, mas uma política de governo - as mulheres eram vistas como "butim de guerra", então havia uma violência agregada. 

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“O abuso sexual e o estupro eram ferramentas costumeiras da ditadura. O estupro é uma arma masculina, é uma forma de dizer que não valemos nada — que ainda existe. Enquanto houver um Arthur do Val [deputado estadual de SP pelo Podemos e ex-pré-candidato ao governo de São Paulo] que diga o que ele disse sobre as mulheres ucranianas, sem sofrer consequências, que coloque a mulher em um papel subalterno de carne a ser explorada, nós vamos continuar a sofrer essas violências”, denunciou.

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