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Ideias

Império dá às pessoas a ilusão de lutar contra o poder sem colocar em perigo o poder real, diz Caitlin Johnstone

A maneira pela qual a guerra na Ucrânia permite que os liberais mainstream façam encenações como se fossem anti-imperialistas rebeldes é uma boa ilustração

(Foto: Reprodução)
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Artigo de Caitlin Johnstone originalmente publicado em 26/2/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

O aniversário de um ano da invasão russa na Ucrânia viu incontáveis segmentos emocionais de notícias e artigos de estraçalhar corações, postagens de parede a parede nas mídias sociais, e manifestações públicas condenando os males de Vladimir Putin em todo o mundo ocidental.

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Para aquilo que provavelmente foi o primeiro protesto “antiguerra” da maior parte das suas vidas, os liberais estadunidenses se reuniram no Memorial Lincoln em Washington, DC durante o fim de semana para condenar bravamente o líder de um governo estrangeiro a milhares de quilômetros de distância. Lá estavam eles, reunidos com gerentes do império como a virulenta belicista Samantha Power, que falou na manifestação se opondo ao belicismo russo na capital da nação mais guerreira no planeta.

No último ano, os ocidentais do ‘mainstream’ têm usado esta guerra para encenarem as suas fantasias de serem corajosos socadores anti-imperialistas, lutando contra poderosos tiranos com sede de sangue, em defesa dos necessitados, enquanto vivem diretamente sob o polegar do regime mais tirânico do mundo. Eles regurgitam sem pensar a propaganda do império mais poderoso que jamais existiu, papagueando as mesmas linhas que já estão sendo ditas o dia inteiro por todas as instituições mais poderosas do mundo ocidental. Todos a serviço das pautas hegemônicas da maior e mais assassina estrutura de poder, enquanto fazem de conta de se posicionarem em oposição aos poderosos.

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A maneira pela qual a guerra na Ucrânia permite que os liberais mainstream façam encenações como se fossem anti-imperialistas rebeldes é uma boa ilustração de como o império dá às pessoas a ilusão de lutar contra o poder sem jamais se oporem ao império. 

Vimos esta mesma tendência ocorrer nos EUA em todo o governo Trump, quando os liberais mainstream se autorrotularam como “A Resistência”, como se eles fossem revolucionários socialistas ou insurgentes se opondo a Hitler na França ocupada pelos nazistas. Na realidade, a presidência de Trump teve um impacto real pequeno sobre os confortos das vidas deles, porque por debaixo de todas as narrativas, Trump foi um presidente bastante normal dos EUA. Seus crimes mais hediondos foram da mesma variedade costumeira que vemos em todos os presidentes dos EUA — incluindo o seu predecessor e o seu sucessor. Os Democratas acabam de passar quatro anos fazendo LARP [live-action role-playing game / jogo de interpretação de papéis de ação ao vivo] como bravos revolucionários e, depois, Trump deixou o escritório da Casa Branca e o jogo acabou.

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Exatamente da mesma maneira, a presidência Trump permitiu que os direitistas fizessem de conta que faziam parte de um movimento contra o establishment, apesar de Trump jamais tivesse desafiado o establishment de qualquer maneira significativa. Eles acreditavam que ele estava lutando contra o Estado Profundo, mesmo depois que ele aprisionou Assange. Eles acreditaram que ele estava “acabando com as guerras” mesmo quando ele aumentou as agressões contra a Rússia, as quais ajudaram a nos fazer chegar até onde estamos hoje. Ele matou dezenas de milhares de venezuelanos com sanções de fome, vetou as tentativas de salvar o Iêmen do genocídio apoiado pelos EUA, trabalhou para fomentar a guerra civil no Irã usando sanções de fome e operações da CIA com a meta declarada de efetuar mudança de regime. Ele ocupou campos de petróleo na Síria com a meta de evitar a reconstrução da Síria, aumentou em muito o número de tropas no Oriente Médio e em outros lugares. Ele aumentou muito o número de bombas despejadas por dia, comparado com o governo anterior, matando quantidades recordes de civis e reduziu a responsabilização militar por aqueles ataques aéreos. Eles acreditaram que eles estava drenando o pântano após encher o seu gabinete com monstros pantanosos do establishment.

Os apoiadores de Trump são iguais aos apoiadores de George W Bush fazendo LARP como apoiadores de Ron Paul [senador ultra-conservador]. Eles desempenham papéis de luta contra o império que jamais ocorre de verdade, exceto nas suas imaginações.

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Isso seguiu acontecendo durante quatro anos, com os Democratas agindo como se estivessem lutando contra o poder, porque Trump era o poder, e os Republicanos agindo como se eles estivessem lutando contra o poder porque os inimigos de Trump eram o poder. E o tempo todo o verdadeiro poder permaneceu completamente não-desafiado, porque o império sempre marcha em frente, independentemente da marionete imperial sentada na Casa Branca.

Os tambores de guerra com a China se aquecem e vemos apoiadores de Trump se tornarem imagens espelhadas dos liberais estúpidos que agitam bandeiras da Ucrânia, como vemos atualmente. Engolindo todas as narrativas que as suas mídias lhes alimentam goela abaixo sem sequer a mais leve pontada de reflexo de vômito de pensamento crítico. Agora estamos vendo as mesmas pessoas que vomitavam vidro sobre os muçulmanos no Oriente Médio, de repente se metamorfoseando em heroicos campeões dos direitos humanos para os muçulmanos em Xinjiang. E as mesmas pessoas que faziam brilhar luzes resplandecentes de verdades sobre a propaganda sobre a Rússia, de repente desligam isto porque acreditam que Biden é uma marionete de Xi Jinping.

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Os gerentes das narrativas imperiais fomentam ativamente estes delírios de revolução e de socar outros dentre o gado do mainstream, porque esta é uma ótima maneira de matar a possibilidade se ter qualquer ‘zeitgeist’ revolucionário de verdade. Se você pode dar às pessoas a ilusão de que elas estão lutando contra o poder sem que elas jamais lutem de verdade contra o poder, aí você consegue permanecer sempre no poder.

Não é preciso muito. Apenas umas poucas vozes confiáveis na sua câmara de eco ideológica, posando de oponentes apaixonados da tirania e do abuso, e o desejo natural das pessoas de se oporem a estas coisas faz o resto. Parece naturalmente correto se opor à depravação dos poderosos em nome dos fracos e indefesos; tudo o que eles devem fazer é desviar aquele impulso humano saudável para algo ilusório.

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Aqui vai uma saudação a um número suficiente de nós, para que um dia vejamos através da ilusão.

Caitlin Johnstone (www.caitilinjohnstone.com) é uma experiente jornalista independente e escritora australiana, baseada em Melbourne, publicando o seu trabalho em diversos veículos internacionais.

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