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Ideias

Intelectual russo aponta plano de desenvolvimento econômico e bem-estar social para o 'Terceiro Mundo'

Sergey Glazyev comenta sobre a “economia da vitória russa” indicando um plano econômico que pode servir para o crescimento em países do chamado ‘Terceiro Mundo’, como o Brasil

(Foto: Council of the Federation | Reuters)
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A economia da vitória russa, Sergey Glazyev

*Ensaio originalmente publicado no site Stalker Zone em 18.03.22. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

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cidadas russas relatam impactos das sancoes na vida cotidiana
Moscou(Photo: Reuters)Reuters

Precisamos de um poderoso impulso inicial na formação acelerada de um novo paradigma tecnológico

No seu estimulante artigo “Ideologia da Vitória Russa”, Aleksander Prokhanov afirmou que “a Rússia está sendo comida por dentro por bolsões de escuridão: uma cultura de dessecação está florescendo, quando os lacres estão sendo rompidos em todos os baús proibidos, todas as caixas de Pandora estão sendo abertas, e a energia demoníaca extingue os fogos eternos...” Dentre os atuais protetores, ele elenca “estadistas que pregam a prestação de serviços, e não acumular dinheiro.” No entanto, para uma defesa de sucesso e, especialmente, para a Vitória, não é suficiente pregar – é necessário agir. Na atual situação de guerra híbrida global, faz-se necessário agir rápida e eficazmente, sem considerar as reprimendas de jargão sobre oposicionistas que querem dinheiro e, mais ainda, às forças hostis que se fizeram mostrar, que construíram uma linha de camadas de resistência às forças de criação da Rússia sobre uma nova base tecnológica e ovas-antigas bases ideológicas e de visão de mundo, o que pressupõe um modelo convergente de desenvolvimento – uma síntese de conquistas econômicas dos períodos imperial e soviético, multiplicado pela experiência de superar as fases agudas do desenvolvimento da história moderna russa.

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Esta abordagem é a base da ideia proposta pelo Presidente da Federação Russa para formar a Parceria Eurasiana Maior (GEP – Greater Eurasian Partnership). Se implementada de acordo com o seu desenho original, esta será uma parceria que evitará a filosofia de “suserano-vassalo” de agravamento e oposições com relação ao sistema de relações econômicas internacionais construídas neste espírito; esta será inicialmente guiada pela premissa da possibilidade de coexistência harmônica e, em termos econômicos, sobre a participação de parceiros de crescimento econômico, sem prejuízo aos interesses de cada parte. Obviamente, as idéias clássicas sobre os limites da divisão de trabalho dentro do quadro das trajetórias tecnológicas emergentes e, no sentido mais amplo, das zonas tecnológicas, não são um anacronismo, porém as ferramentas práticas da GEP não visam a confrontação e redistribuição de esferas de influência, mas sim como criar uma atmosfera de confiança na Eurásia através de meios puramente econômicos, de buscar e achar consenso até mesmo onde, digamos, os interesses da União Econômica Eurasiana (EAEU - Eurasian Economic Union) e da Parceria Econômica Regional Abrangente (Regional Comprehensive Economic Partnership) divergem. Em outras palavras, a GEP é um modelo universal de assembleia com um conceito, uma estratégia e prioridades definidas de longo-prazo claros. Ela estabelece diretrizes claras e possibilita a formulação e refinamento das estratégias nacionais de desenvolvimento. Para a Rússia, este é o programa de desenvolvimento avançado proposto pela comunidade acadêmica (e amplamente revisado pelos círculos de especialistas), tendo como base no desenvolvimento acelerado de indústrias de um novo paradigma tecnológico e a formação de instituições de um novo paradigma econômico mundial - “Justiça social e crescimento econômico”.

Este programa – o qual também se tornou doutrinário dentro do quadro da seção econômica do Conselho Popular Russo Mundial (World Russian People's Council) – provê uma transição da política artificialmente prolongada do status quo (ou o cenário de inércia) para um cenário de mobilização baseado em projetos múltiplos do Clube Izborsk e de cientistas da Academia Russa de ciências.

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russia e china pedem a onu para verificar potencial de guerra biologica dos eua
Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping(Photo: REUTERS)REUTERS

Quais devem ser as metas

Dentro do contexto do emergente paradigma econômico integrado do mundo, baseado nos processos de integração que unem diferentes nações em uniões de rede — a EAEU, a União Europeia, a Associação das Nações do Sudeste da Ásia (ASEAN – Association of Southeast Asian Nations), o MERCOSUR, etc. —, precisamos estabelecer metas claras, super intensivas, porém equilibradas e factíveis que correspondam às principais tendências do século XXI, e precisamos desenvolver algoritmos para realizá-las. Baseando-se no pano de fundo externo que passa por mudanças dinâmicas (substituição de estruturas tecnológicas e de economia mundial, em conjunção com a necessidade de reestruturação interna segundo o cenário de mobilização), as metas de desenvolvimento econômico de longo-prazo são formuladas como se segue:

  • Manter o crescimento anual do PIB ao nível de pelo menos 10% nos próximos 5 anos (ultrapassando a duplicação do aumento de investimentos em ativos fixos) e pelo menos de 7% no futuro – baseado no uso integral das capacidades de produção existentes, no aumento da produtividade do trabalho, no aumento da competitividade na produção de bens e serviços, estimulando atividades de inovação e progresso científico e tecnológico, e a criação de um clima favorável de investimento e empreendedorismo. Isso triplicará o PIB da Rússia até 2050;
  • Elevar a expectativa de vida para 80-85 anos, de modo que a Rússia possa alcançar o nível dos países avançados nesta estatística;
  • Trazer o volume da construção de habitações a 1 metro quadrado por pessoa, o que duplicará o estoque de habitações da Rússia e proverá totalmente habitações para a população inteira da Rússia;
  • Melhorar o nível e a qualidade de vida do povo e trazê-lo ao nível dos países avançados do mundo em termos reais;
  • Dominar totalmente as tecnologias da quinta e sexta especificações técnicas, garantindo o desenvolvimento tecnológico de primeira linha no mundo e a competitividade na produção de bens e serviços.

Os alvos da política do Estado social para o futuro previsível deveriam ser:

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  • Aumento da expectativa média de vida dos cidadãos russos aos melhores indicadores globais:
  • Até 2050, a média de renda per capita da população excederá o nível existente nos países desenvolvidos (isso significa que esta precisará ser triplicada, devido ao crescimento econômico, com um aumento mais rápido do salários, cuja participação na estrutura de distribuição da renda nacional deve chegar pelo menos a 70%, comparada com os atuais 50%); a Rússia atingirá o nível da União Europeia em termos do índice de desenvolvimento humano;
  • Eliminação da pobreza e superação da anomia social: observância com padrões sociais mínimos legalmente aprovados para o consumo de produtos básicos de alimentação, habitação e fornecimento de energia, cuidados médicos grátis; provisão daqueles com necessidade, às custas do orçamento federal e segundo os padrões anualmente estabelecidos, bem como a adoção de um programa de medidas de emergência, incluindo a distribuição grátis e padronizada de comida e necessidades básicas de crianças, idosos, incapacitados e outros grupos carentes;
  • Implementação de medidas para o apoio integral da família, da maternidade e da infância, incluindo elevar o abono de cuidados com crianças ao nível mínimo de subsistência, restaurando e desenvolvendo uma rede de organizações educacionais, criativas e esportivas para crianças, protegendo os valores da família e impedindo a propaganda de violências e devassidão nas mídias;
  • Restauração das obrigações do Estado na esfera social ao nível legislativo e observância das garantias sociais;
  • Inclusão das obrigações do Estado estipuladas pela lei federal “Sobre a Restauração e Proteção das Economias dos Cidadãos da Federação Russa” na composição da dívida interna e a implementação de um programa de medidas para o serviço destas e re-pagamentos baseados na provisão de bens e serviços de produção doméstica à população, como um crédito para a quitação de débitos;
  • Superar a estratificação da sociedade segundo o nível de bem-estar, isenção de imposto para rendas abaixo do dobro do mínimo de subsistência por membro da família, restauração da escala progressiva de taxação de renda que exceda em mais de cinco vezes este valor;
  • Restauração do direito dos cidadãos à habitação aquecida e eletrificada, com todas as amenidades; preservação dos direitos sobre habitações já ocupadas sem pagar imposto de propriedade sobre apartamentos privatizados e aluguéis para uso de apartamentos de propriedade do Estado providas antes de 1992; adoção de um sistema preferencial de empréstimos hipotecários para a construção de habitações, com empréstimos por um período de pelo menos 10 anos, com juros zero; restauração de programas massivos de construção de moradias para famílias necessitadas, com a provisão grátis de apartamentos para aluguéis indefinidos; revogação de normas legislativas que permitem o despejo forçado de pessoas em apartamentos pelo não-pagamento de contas de serviços públicos; introdução de um sistema automático para prover subsídios planejados para serviços públicos, baseado no fato de que o custo destes não devam exceder a 10% da renda total dos membros da família.

Estas metas podem ser alcançadas somente se a economia se desenvolver de uma maneira equilibrada e planejada, baseada numa estratégia mista de desenvolvimento avançado, levando em conta as capacidades das novas instituições tecnológicas e criativas de um novo paradigma econômico mundial.

fmi
Logo do FMI

Timoneiros da estagnação

No entanto, como Aleksandr Prokhanov diz no seu artigo mencionado acima, até que nós “limpemos as nossas instituições de Estado do lixo, expulsemos delas os gananciosos por dinheiro, os estupradores e traidores”, este programa não pode ser implementado. A imitação de atividades violentas e a incessante reprodução de simulacros, com a sua preparação como bondade para consciência pública, foi muito conveniente para os gananciosos por dinheiro e os traidores, e não para os ascetas e os heróis. Os apaixonados que estavam prontos para criar foram marginalizados, espremidos para fora, sujeitos a difamações massivas e a repressão de informações. O esforço excessivo sobre a saúde mental e as qualidades profissionais dos servidores públicos conscientes foi neutralizado pelos parasitas que contentavam os seus superiores, que se esgueiravam através de mentiras e bajulações aos altos escalões do poder do Estado.

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As qualidades mais predominantes na elite russa foram manifestadas na política econômica seguida por uma parte desta — a qual, como é bem sabido, é sempre e em todos os lugares o resultado de interesses econômicos. Não importa quão sofisticados sejam os seus proponentes, a apresentação da política como sendo objetivamente condicionada, baseada no conhecimento e buscando atingir as metas públicas de aumentar a produção e a prosperidade, na realidade estas estavam protegendo os interesses daquela parte da elite dominante que se beneficia da política, desconsiderando as suas consequências para o povo e a economia nacional. Os lacaios dos novos rentistas que estão na sua folha de pagamento, escondendo-se atrás de dogmas científicos, supostamente estavam disfarçando a sua política de forma que o precarizado não suspeitasse de coisa alguma e, melhor ainda, para agradecer a eles pela estabilidade em face à incerteza global.

Qualquer disfunção na economia russa feita pelos responsáveis pelo estado macroeconômico era explicada tão somente pelo impacto dos choques externos num mercado aberto, e não pelas políticas domésticas feitas por seres humanos que torpedearam o crescimento da produção, o investimento e a renda real disponível dos cidadãos. Se nós somos encorajados a aceitar explicações externas para falhas sistêmicas, estas se baseiam na derrota das autoridades financeiras e econômicas às menores flutuações. Se não fosse por esta derrota de uma parte da elite ao nível ideológico, de visão de mundo e mental, então a política teria sido conduzida de acordo com padrões diferentes, baseada em ideias e abordagens diferentes para estimular o crescimento econômico. E, numa situação na qual os grupos liberais viram no FMI o seu alter-ego, adotando as avaliações da organização em seu valor nominal e seguindo cegamente as suas recomendações, eles não poderiam esperar qualquer outra coisa: a economia estava num círculo vicioso, o qual só pode ser rompido por uma mudança no paradigma de desenvolvimento.

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A obsequiosidade de um estrato significativo das elites quasi-nacionais e as instituições internacionais condenou a economia russa a um atraso inescapável a longo prazo, enquanto a definição de metas políticas corretamente dita a necessidade de se assegurar taxas de crescimento acima da média global. O dano acumulado deste servilismo, segundo as estimativas mais conservadoras, já excedeu os 30 trilhões de rublos de produtos sub-produzidos em base cumulativa desde 2014. E isto é apenas o topo do iceberg.

A prévia aderência de pouca vontade às diretrizes do FMI segue a política imposta pelo Consenso de Washington, o qual sempre e em todos os lugares equivale a uma sistema de dogmas que são destrutivos para a economia nacional: a rejeição das restrições monetárias em favor de movimentos desimpedidos de passagem de capitais através de fronteiras; a rejeição da política monetária soberana e a vinculação da questão da moeda nacional ao crescimento das reservas em moedas estrangeiras; a privatização sem restrições da propriedade, incluindo os recursos naturais, para o capital estrangeiro; o abandono da regulação de preços e do planejamento, deixando o mercado doméstico ao dispor dos monopólios globais.

A implementação destes dogmas no nosso país [a Rússia] levou à degradação e primitização da economia, o que custou mais de 100 bilhões de dólares por ano em trocas econômicas estrangeiras desiguais, seguindo os interesses do sistema financeiro dos EUA — na verdade, era um colosso com pés de barro, os limites do qual são delineados pela hegemonia do declínio final do paradigma da economia mundial, baseado nas emissões monetárias ilimitadas e no clube das sanções militares, e a formação de um novo paradigma integrado da economia mundial baseado numa abordagem diametralmente oposta — a de construir parcerias iguais e não-discriminatórias tanto ao nível interestatal quanto no inter-regional.

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Banco Central da Rússia(Photo: Maxim Shemetov/Reuters)Maxim Shemetov/Reuters

O jogo da imitação

Um exemplo vívido da natureza imitativa do sistema anterior de gerenciamento foram os resultados da implementação do Conceito de Desenvolvimento Socioeconômico de Longo Prazo até 2020, o qual foi adotado com uma grande fanfarra em 2008. Porém, como tudo que foi gerado segundo o modo de imitação, isso resultou sendo um fracasso. Ao invés de atingir a meta de um crescimento anual de 6,5% do PIB – a taxa média anual está abaixo de 2%; ao invés de aumentar a renda real disponível da população em 64-72%, esta fracassou, como resultado da implementação do conceito: no período de 2008-2012, a participação da população com rendas abaixo do nível mínimo de subsistência caiu para 10,7%; então, o número de pessoas pobres começou a crescer novamente e, ao final de 2016, totalizada 13,3% e, segundo as estatísticas oficiais, mais de 18 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza na Rússia. A realocação do sistema orçamentário à favor de gastos com desenvolvimento humano — indo de 8,6% do PIB em 2007 a 11,7% do PIB em 2020 — levou à sua redução: na educação, de 4% para 3,7%; na saúde, de 3,6% para 2,9% do PIB. 

Para justificar uma afronta desta magnitude (com a sua repetição contínua no quadro de implementação dos decretos presidenciais sobre as metas de desenvolvimento), os imitadores apontaram para várias circunstâncias de força maior: a crise financeira global, o golpe de Estado na Ucrânia em 2014, as sanções dos EUA e da Europa, e a pandemia. Porém todos estes desastres externos, se fosse assim desejado, poderiam ter sido habilmente transformados em benefícios para a Rússia e teriam estimulado o seu crescimento econômico. Mostraremos como os traidores e gananciosos por dinheiro não permitiram que isto fosse feito.

Como enunciamos, a crise financeira global poderia ter sido usada para implementar a estratégia de desenvolvimento rápido da economia russa se as autoridades monetárias tivessem impedido o fluxo de capitais ao exterior e tivessem providenciado empréstimos ilimitados de juros baixos aos investimentos para a criação e expansão de um novo paradigma tecnológico, o uso generalizado das suas inovações básicas, a implementação do acima mencionado Conceito de Desenvolvimento de Longo Prazo e outros documentos de planejamento estratégico. Isso não foi feito em 2009, nem em 2014, quando a Rússia foi atingida por sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos e os seus satélites.

Para evitar um colapso, e com a introdução das sanções e o colapso do rublo em 2014, a crise afundou firmemente a economia russa num estado de estagflação, o Banco da Rússia teria que ter aplicado rapidamente mecanismos de refinanciamento de longo prazo para compensar o embargo do crédito sobre os devedores russos. Estes mecanismos deveriam ser similares aos usados na Europa e nos EUA, os quais provêm refinanciamentos ilimitados de bancos e corporações ocidentais em uma base de longo prazo a uma porcentagem simbólica de juros – ao final de contas, numa economia moderna sem crédito, não só estendido, mesmo a simples reprodução [do capital] é impossível.

Como foi demonstrado em numerosos estudos, os fatores monetários de inflação nas condições modernas da Rússia não são os principais; teórica e empiricamente, está provado que as tentativas de suprimir a inflação através da quantificação da emissão de moeda ou pelo aumento do custo do crédito não dão os resultados desejados numa economia moderna com a sua retroalimentação complexa, suas dependências não-lineares e a competição imperfeita. Além disso, estas tentativas têm sido contraproducentes há duas décadas: ao invés de reduzir a inflação, a produção e suprimento de bens sempre diminuem e, como resultado disso, os preços sobem. Segundo a teoria quantitativa do dinheiro seguida pelas autoridades monetárias, não há espaço qualquer para o processo de produção, assim como para o progresso científico e tecnológico, os monopólios, a concorrência externa e outros fatores da economia real.

Como é sabido, a política econômica não é neutra em relação aos interesses econômicos; esta é conduzida segundo os interesses dos grupos dominantes de influência, os quais são estranhos aos interesses públicos e são profundamente afiliados ao capital internacional. Como demonstrado pelo livro de não-ficção de John Perkins, ‘Confissões de Um Assassino Econômico’ (‘Confessions of an Economic Hitman’), este é o destino dos países em desenvolvimento, ou de países com economias em transição, que são amarrados ao Consenso de Washington, cujas pseudo-elites estão integradas nas elites ocidentais como sátrapas coloniais. Porém, sendo ardentes aderentes aos valores locais, ele atura a vassalagem em troca de garantias imaginárias de preservação dos capitais exportados e dos ativos retirados.

Permitir que os dogmatistas obsequiosos continuem a sabotar as claras instruções políticas da liderança russa equivale a um crime. Permitir que isso ocorra é o mesmo que, após junho de 1941, se a liderança soviética tivesse continuado a suprir o Terceiro Reich com matérias-primas russas para o Reichsmark (o marco alemão) e tivesse dado empréstimos para a produção de equipamentos militares. Está claro como tal política teria terminado naquela época. Também está claro que a política monetária seguida anteriormente implicaria naturalmente na dolarização do sistema financeiro, na sua contração devido à exportação de capitais e às políticas monetárias restritivas, uma queda no investimento e na produção, um declínio nos padrões de vida, com óbvias oportunidades para uma rápida recuperação econômica. Nos anos de 1990, isso ainda poderia ser justificado: os EUA apadrinharam as autoridades russas, criando um cenário de política externa favorável à autodestruição da economia russa e ao seu extermínio. Atualmente, junto com os seus lacaios europeus, eles [os EUA] estão fazendo uma guerra contra a Rússia e o mais importante nesta guerra é a frente econômica, o desejo de impedir a soberania econômica da Rússia e a ascensão da União Econômica Eurasiana. Por isso, é aqui que o cenário de mobilização deve ser desenvolvido com uma revisão radical da direção da qualidade da política econômica.

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Manifestaçã golpista promovida pelos EUA na Praça Maidan, 2014, na Ucrânia(Photo: REUTERS/David Mdzinarishvili)

A ameaça ao mundo russo

Os eventos fatais de fevereiro de 2014, com o golpe de Estado na Ucrânia e o caos disseminado, foram apenas o último fio de uma operação especial maior, cuja meta era estabelecer uma plataforma anti-Rússia na Ucrânia, dentro do espírito das narrativas que já estão colocadas. No campo historicamente determinado do conflito e da agressão do Ocidente contra a Rússia, movendo a sua “Drang nach Osten” (Expansão para o Leste), a Ucrânia sempre teve o papel principal. Bismark expressou a mais vívida atitude do Ocidente com relação à Ucrânia, dizendo: “o poder da Rússia só pode ser minado com a separação da Ucrânia dela... não se faz necessário apenas arrancá-la, mas também colocar a Ucrânia em oposição à Rússia. Para fazer isso, você só precisa encontrar e nutrir traidores dentre a elite nacional e, com a ajuda deles, mudar a autoconsciência de uma parte do grande povo de tal modo que eles odiarão tudo que é russo, odiarão a sua própria gente, sem se dar conta. Todas as outras coisas são apenas uma questão de tempo” (Bismarck, O. - Thoughts and Memories. Moscow: Association of State Books and Magazines. SOTSEKGIZ, 1940). Seguindo o pensamento do chanceler prussiano, Zbigniew Brzezinski expressou a atitude concentrada do Ocidente com relação à Ucrânia no seu livro “The Grand Chessboard” [O Grande Tabuleiro de Xadrez], ao escrever que “sem a Ucrânia, a Rússia deixa de ser um império euroasiático” (Brzezinski, Z. The grand chessboard: American primacy and its geostrategic imperatives – New York: Basic books, October 1997).

O chanceler do Império Alemão foi preciso, assinalando que a tecnologia de arrancar a Ucrânia do útero russo ao contrastar, essencialmente, dois princípios de um único todo. É improvável que Leonid Kuchma — que era considerado bastante pró-russo — soubesse sobre as obras de Bismarck quando, na ausência de qualquer necessidade, ele propôs a oposição “A Ucrânia não é a Rússia” no título do seu livro — o qual pré-determinou o desmoronamento da república pós-soviética, levando-a ao último lugar em crescimento na Europa em termos de pobreza, afundando-a numa guerra civil fratricida e levando à restauração das formas mais horrorosas de construção de uma nação.


O regime fantoche nazista está praticando plenamente o formato da Ucrânia como a anti-Rússia. Devemos prestar uma homenagem à sequência de arquitetos da atual imagem da Ucrânia — que perdeu completamente a sua subjetividade e mantém a sua existência:

  • Russofobia radical e ideologia nazista;
  • Propaganda total anti-russa combinada com repressão contra dissidentes;
  • Completa dependência das agências de inteligência dos EUA, cujos agentes na verdade operam o governo ucraniano;
  • Uma ditadura política, com a supressão violenta de todas as forças de oposição;
  • A dominação de uma oligarquia pró-ocidental nos negócios, intimamente ligada à elite política.

Foi uma delusão e uma ingenuidade acreditar que a Ucrânia não irá a lugar algum longe da Rússia, porque o nível de interpenetração econômica entre elas é tão alto que seria um suicídio renunciar a milhares de laços cooperativos e projetos conjuntos. Mas foram precisamente estes laços e o temor de uma integração econômica íntima que motivaram o Ocidente e seus agentes na liderança ucraniana a realizar ações decisivas para torpedear a formação de um espaço econômico único com a participação da Ucrânia. O que detonou a preparação do golpe de estado de 2014 foi a tardia decisão das autoridades de Kiev em atrasar a assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia (UE) — que era desigual e discriminatória para a economia ucraniana.

Com a entrada em vigência do Acordo de Associação com a UE, a Ucrânia perdeu a sua soberania e submeteu-se às políticas de comércio, econômicas, de relações exteriores e políticas da UE. Ao assinar este acordo, a Ucrânia comprometeu-se a participar da resolução de conflitos armados regionais sob a liderança da UE. Ao mesmo tempo, a própria Ucrânia foi “encarregada” de um conflito militar com a Rússia. Assim foi escrito: a Ucrânia é anti-Rússia.

Não fosse pela natureza do governo ucraniano e a dominância da linha ocidental nas principais decisões de Kiev, assim como da inação de longa data dos emissários de Moscou (“para onde irão longe de nós”), a escolha mais provavelmente teria sido feita à favor da integração na união de costumes e da economia com a Rússia, o que teria aberto enormes perspectivas de desenvolvimento para a economia ucraniana e um grande mercado para uma ampla gama de produtos de alta tecnologia produzidos dentro do quadro dos laços tradicionais e dos recém-formados. A integração eurasiana na ausência a Ucrânia dentre os membros da União também perde significativamente, já que o seu desenvolvimento ulterior está inteiramente associado com a implementação de projetos conjuntos de larga escala, os quais tornam-se difíceis na ausência de zonas de convergência tecnológica e a interface de indústrias (se não se leva em conta o par Rússia-Belarus). Segundo cientistas da Academia Russa de Ciências e da Academia Nacional de Ciências, a retirada da Ucrânia do Espaço Econômico Unificado — (UES – Unified Economic Space) iniciado por ela em 2003 — levou à perda de cerca de um terço do potencial econômico total da EAEU, a qual foi pega pelo controle de um cenário inercial de desenvolvimento.

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Pandemia(Photo: Reuters)Reuters

'Lock step' 

Assim como nos exemplos ilustrativos com os condutores do modelo implementado de regulação monetária dentro do quadro do mandato publicado por instituições ocidentais e com o acordo tácito da destruição da cooperação industrial auto-valiosa russo-ucraniana às vésperas do golpe de Estado de 2014, os “cavaleiros da luta contra o apocalipse” desempenharam meticulosamente a sua função prescrita no aparentemente inocente cenário inicial de modelagem da Fundação D. Rockefeller — já que Bill Gates é um conhecido “filantropo” que patrocina as ideias de um governo mundial como sendo uma ferramenta necessária para salvar a humanidade das ameaças de superpopulação e da poluição do planeta Terra. Vale recordar que, num estágio crítico anterior de desenvolvimento técnico e econômico, quando a economia mundial afundou numa crise devido ao encerramento do ciclo de vida do quarto paradigma tecnológico, ele [Gates] iniciou a criação do Clube de Roma, o qual expediu o relatório “Os Limites do Crescimento” [“The Limits of Growth”] (que foi publicado em 1972 e contém os resultados de uma modelagem de crescimento da população humana e o esgotamento dos recursos naturais; Donella Meadows, Dennis Meadows, Jorgen Randers e William Benders III contribuíram para este relatório).

Hoje em dia, o tópico da auto-restrição do consumo de recursos pelos países em desenvolvimento está sendo novamente atualizado e suplementado pela ameaça de autodestruição da humanidade por vírus sem precedentes que emergem dos restos da natureza selvagem e do descongelamento da permafrost.

A previsão de uma pandemia viral preparada pela Fundação Rockfeller há dez anos é chocante na sua precisão de coincidência com a situação atual. Em 2010 foi publicado o relatório da Fundação e da Rede Global de Negócios (Global Business Network) intitulado “Cenários para o Futuro da Tecnologia e o Desenvolvimento Internacional” (“Scenarios for the Future of Technology and International Development”).

Em um dos cenários do relatório com um título dentro do espírito das operações especiais das agências de inteligência dos EUA tirado dos filmes de sucesso de Hollywood — “Lock Step” — na realidade, era apresentada uma simulação da desestabilização global provocada através de um vírus pandêmico. Este cenário dizia: “Durante a pandemia, os líderes nacionais do mundo aplicaram as suas autoridades e impuseram regras e restrições herméticas [...] Mesmo depois que a pandemia despareceu, este controle e vigilância mais autoritários dos cidadãos e das suas atividades foi mantido e até intensificado. A fim de proteger a sí mesmos da propagação dos crescentes problemas globais — da pandemia ao terrorismo transnacional, às crises ambientais e a crescente pobreza — os líderes do mundo todo agarraram-se mais ainda ao poder”. Ao mesmo tempo, a inevitabilidade da emergência de regimes autoritários mencionados no relatório não é uma declaração acidental, é um comando de “ataque” para o capital global, escrito entre as linhas, de uma luta intransigente contra regimes “não-democráticos” que não se dão bem com a comunidade liberal de nações. Para fazer parecer esta expansão pelo menos como algo respeitável, a pauta internacional é cuidadosamente saturada com metas e objetivos falsos — como a necessidade de coordenar o esforços globais para combater a crise climática, sob as quais, por sua vez, projetos lucrativos são inventados, como, por exemplo o imposto europeu sobre o carbono, que é repleto de custos multibilionários para os maiores exportadores de combustível e energia, produtos químicos e metalúrgicos da Rússia.

Deve-se presumir que, a fim de confirmar o seu status de um posto avançado anti-russo e russofóbico dos EUA e da OTAN, foi designado à Ucrânia um papel significativo (senão decisivo) dentro de cenário de “Lock Step”. Se assim não fosse, a Ucrânia não teria hospedado uma dúzia de laboratórios biológicos que “estudam” patógenos — incluindo infecções por coronavírus, anthrax e outras doenças infecciosas especialmente perigosas. O reconhecimento pelas autoridades oficiais dos EUA sobre a existência de tais laboratórios e a confirmação deste fato pelo financiamento apropriado do Departamento de Defesa dos EUA não deixa dúvidas sobre a premeditação de tais experimentos “inocentes” na vizinhança imediata da parte densamente populosa da Rússia europeia.

Em contraste com instituições que harmonizam a colaboração e cooperação internacional, o cenário de “Lock Step” e seus derivativos formam um tipo diferente de uma nova ordem econômica mundial e, na realidade, pressupõe a continuação da tendência liberal de globalização, suplementada por tecnologias de controle total sobre as populações de países destituídos de soberania nacional. Sob esta abordagem, está sendo construído um sistema global de instituições que regulam não só a reprodução da economia mundial, mas também da humanidade inteira através das tecnologias de informação, financeiras e de bioengenharia. O principal problema de tal sistema político é a sua irresponsabilidade e imoralidade, a aderência da sua elite dominante às visões Malthusianas, racistas e misantrópicas. Tudo isso sob a cobertura óbvia de uma folha de parreira de valores liberais, os quais, como pode se ver pelas experiências de reformas na Rússia moderna e outras regiões de presença ativa dos “luminares” do liberalismo, degeneraram em formas extremas, chamadas de “fascismo liberal”.

Arma biológica biohazard

Vladimir Pantin definiu isto da seguinte maneira: “este é um poder ilimitado, a ditadura das maiores corporações multinacionais (incluindo as corporações de TI), estruturas financeiras globais e organizações de máfias criminosas, que são servidas por exércitos de políticos, jornalistas, bloggers, 'estrelas' de showbusiness corruptos e sem princípios, junto com destacamentos de militantes terroristas e 'buchas de canhão' na forma de uma juventude zumbificada, deseducada e processada nas redes sociais. Esta ditadura global 'soft' [suave] que 'envolve' imperceptivelmente as consciências das pessoas, busca impor os seus próprios valores comuns a todos os países e nações, normas comuns de comportamento, leis comuns, padrões comuns e regras comuns de vida. E por violar estes valores, normas e regras comuns, a ditadura já pune e continuará punindo todos aqueles que discordam — por expulsão de facto do espaço público e da política, prisões, 'reeducação' em campos correcionais, o uso do terror moral e físico até à exterminação”. (V. Putin “Liberal fascism in the modern world: lessons from Russia”). A operação especial preventiva da Rússia para desmilitarizar e, mais importante, para desnazificar a Ucrânia confirma plenamente o fato de que o fascismo liberal ocidental e o etnocídio que este comete (os mesmos desenvolvimentos de laboratório para visar representantes de certas raças e povos com vírus) usando o território e o povo da Ucrânia como um campo experimental de treinamento, obrigado a disparar armas contra tudo que é russo no momento acordado com os curadores ocidentais, está disposto a fazer quaisquer sacrifícios para finalmente completar a missão falida de desmembrar e destruir a Rússia.

O perigo deste fenômeno é que o mesmo deixa para trás um rastro falso: a completa falta de liberdade, mesmo de pensamentos e sentimentos, sob o disfarce de ser a “liberdade completa”. E, como é sabido, não há uma escravidão mais longeva e abrangente que a escravidão total — se o escravo está convencido que é livre.

Uma das metas geopolíticas da expansão sectária liberal — a qual, na verdade, os seus agentes do campo da pseudo-elite nacional não escondem — é o desmembramento e a destruição da Rússia, a qual, apesar das suas falhas econômicas, conseguiu manter-se na vanguarda da resistência. No entanto, até que seja formada uma coalizão de países contra a guerra, que defendam uma transição pacífica para um novo paradigma econômico mundial, a nossa [da Rússia] posição é precária e só poderia ser fortalecida pela nacionalização da elite, pela eliminação das disfunções sistêmicas no gerenciamento do sistema, e movendo-se para o cenário de mobilização do desenvolvimento econômico.

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Rublo(Photo: REUTERS/Dado Ruvic)

As ferramentas econômicas da vitória russa

A ideologia da Vitória Russa proclamada por Aleksandr Prokhanov fica atolada nas laterais dos departamentos de economia. A direção destes pensa em outras categorias: equilíbrio de mercado, vantagens competitivas comparativas, racionalidade econômica atual. A política macroeconômica executada nestas categorias condena o país a uma perda deliberada na competição geoeconômica com outras potências e, consequentemente, à derrota na guerra híbrida de aniquilação no mundo que está sendo travada contra nós. E não pode ser de outra maneira, visto que os contornos de reprodução econômica são estabelecidos para beneficiários fora da jurisdição russa, e os agentes da política financeira e econômica estão numa prolongada e consciente emigração.

Se os nossos czares pensassem desta maneira, não existiria a Ferrovia Transiberiana ou o milagre econômico russo no início do século passado. A Rússia teria permanecido como um país agrícola atrasado e de florestas. Se a liderança soviética pensasse assim, nós não teríamos passado correndo em 10 anos, por ordem de Stalin, o segmento de desenvolvimento econômico que os nossos concorrentes cobriram em um século, e teríamos morrido na guerra com o fascismo europeu-alemão.

Precisamos de um poderoso impulso inicial na formação acelerada de uma nova ordem tecnológica e a formação de instituições de uma nova ordem econômica mundial. Porém, antes de tudo, é necessário expurgar o sistema de gerenciamento do Estado das autoridades irresponsáveis e da criminalização de uma quantidade das instituições mais importantes da sua regulação.

Apesar das sanções impostas, a economia russa continua sendo capaz de fazer um desenvolvimento rápido. A produção, os recursos científicos e técnicos e o potencial intelectual existentes nos permitem esperar um crescimento anual do PIB de 5-10% com um aumento de 10-15% no investimento. Isso requer enfrentar os hiatos no nosso sistema de segurança econômica e alinhar as nossas políticas macroeconômicas com as nossas metas nacionais de desenvolvimento socioeconômico.

Após a introdução das sanções anti-Rússia em 2014, os cientistas da Academia Russa de Ciências advertiram repetidamente a direção do Banco da Rússia sobre a necessidade de abandonar o uso do dólar, do euro e da libra esterlina, bem como dos ativos denominados nestas moedas como parte das reservas em moedas estrangeiras no contexto de uma guerra híbrida sendo travada contra a Rússia pelos países emissores destas moedas. Dúzias de notas analíticas e relatórios sobre este tópico foram escritos e enviados às autoridades monetárias. Porém, ao invés de implementar estas propostas e substituir estes ativos por ouro, a direção do Banco Central continuou a aumentá-los até recentemente, limitando a parte do ouro nas reservas de ouro e de divisas a um pequeno montante (20%). Para piorar as coisas, os bancos russos, incluindo os bancos estatais, enviaram mais de 500 toneladas de ouro para o estrangeiro nos últimos anos, vendendo-o pela agora-inútil moeda que foi apreendida nas suas contas no exterior.

Como um resultado da política seguida pelo Banco da Rússia, as nossas reservas em moedas estrangeiras, o giro de capitais privados através de zonas de offshore e a bolsa de valores de Moscou estão sob o controle dos países da OTAN; eles recebem orientações metodológicas do Banco da Rússia.

A fim de superar estas disfunções e colocar a economia russa no caminho do desenvolvimento avançado, faz-se necessário introduzir um mecanismo transversal de responsabilidade institucional e pessoal em todos os níveis de gerenciamento do desenvolvimento econômico.

Nós precisamos de uma política de mobilização sistemática para o desenvolvimento da economia russa, uma política que deva ser construída como uma estratégia mista de ultrapassar o crescimento do novo paradigma tecnológico, de um alcançar dinâmico em áreas com um pequeno atraso tecnológico, e de alcançar rapidamente indústrias irremediavelmente atrasadas. Isso requer a adoção do seguinte conjunto de medidas para concentrar recursos em áreas-chave para a formação de uma nova ordem tecnológica, ativando o potencial científico e técnico existente e importando tecnologias para superar o hiato tecnológico.

A política prioritária de desenvolvimento deve incluir:

1.1) O desenvolvimento e implementação de um programa que tenha como alvo o desenvolvimento econômico avançado baseado num novo paradigma tecnológico que preveja medidas para aumentar o investimento no desenvolvimento da sua produção constituinte e de complexos tecnológicos de até 25% ao ano, e a formação de instituições e quadros de gerenciamento apropriados.

1.2) A criação de um sistema de planejamento estratégico que inclua a determinação de prioridades para o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico e a formação de planos e programas indicativos para a implementação destes.

1.3) A subordinação das atividades de todos os órgãos regulatórios macroeconômicos, incluindo o Banco Central e o Ministério das Finanças, bem como as corporações estatais, às tarefas de modernização e crescimento econômico e a completa abertura do seu potencial científico e tecnológico. Isto requer o planejamento indicativo de atividades conjuntas do Estado e das empresas, tendo como base contratos de investimento que prevejam procedimentos de responsabilidade mútua para alcançar o conjunto de metas. Faz-se necessário estabelecer objetivos para o desempenho das instituições estatais de desenvolvimento, bancos, corporações e agências nas suas áreas de atividades e introduzir mecanismos para a responsabilização real da sua realização oportuna.

1.4) A redução da taxa de juros para 2-4% e a criação de mecanismos para o refinanciamento de investimentos e atividades de inovação através da emissão monetária planejada contra as obrigações do governo, das instituições estatais de desenvolvimento, das empresas estipuladas por programas federais e regionais de investimento, projetos de instituições de desenvolvimento e contratos especiais de investimento.

1.5) Isenção de taxação de renda de empresas alocadas para investimentos em desenvolvimento de produção, P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e o desenvolvimento de novas tecnologias e a introdução de esquemas de depreciação acelerada para ativos fixos, enquanto se monitora o uso pretendido dos encargos de depreciação.

1.6) A duplicação do financiamento para P&D, a alocação de um sistema de programas científicos e técnicos planejados que deem apoio estatal para a atividade de inovação em áreas promissoras de desenvolvimento econômico.

1.7) A criação de uma infraestrutura digital moderna de informação para as atividades de pesquisa e negócios.

2) Uma política sistemática para assegurar o crescimento econômico acelerado é impossível sem a estabilização da taxa de câmbio do rublo, alcançando a estabilidade do sistema monetário e financeiro nacional e impedimento a fuga de capitais.

2.1) Suprimir o “vórtex” especulativo através da cessação de empréstimos para a especulação de moedas e financeira às custas do Banco Central, dos orçamentos do Estado e dos bancos estatais, bem como impedir o conluio para manipular o mercado de câmbio.

2.2) Redução da alavancagem com a restauração do controle estatal sobre a Bolsa de Valores de Moscou. Introdução de um imposto sobre moedas especulativas e transações financeiras (taxa Tobin) e a exportação de capitais.

2.3) Proibição de fundos diretos recebidos por bancos e empresas através de canais direcionados de refinanciamento de operações especulativas. Uso de tecnologias digitais para controlar de maneira planejada o movimento de dinheiro emitido.

2.4) Estabelecimento de uma reserva aumentada de fundos sobre contas de moedas estrangeiras; no caso de uma ameaça de “congelar” ativos em moedas estrangeiras de indivíduos e entidades legais russas — até 100%. A introdução de controle sobre operações transfronteiriças de capital através do licenciamento aberto.

2.5) Garantir a estabilidade do câmbio do rublo, expandir os instrumentos regulatórios do fornecimento e demanda de moedas estrangeiras, prover a possibilidade de cobrança de impostos de exportação em moedas estrangeiras, com a sua acumulação em contas do governo em moedas estrangeiras numa situação de excesso de oferta de moedas estrangeiras e a introdução pelo Banco da Rússia de uma regra para a venda mandatória total ou parcial de rendas em moedas estrangeiras de exportadores no mercado doméstico, em caso de fornecimento insuficiente.

2.6) Permitir que tomadores de empréstimo apliquem mecanismos de force majeure [inadimplência] à empréstimos concedidos por países que impõem embargos financeiros à Rússia. Proibir, pela duração das medidas de sanções, que as subsidiárias de bancos estadunidenses e europeus arrecadem fundos novos de indivíduos e entidades legais russas.

2.7) Terminar com a provisão de empréstimos em moedas estrangeiras a organizações não-financeiras por bancos russos. Proibição legislativa de empréstimos de organizações não-financeiras denominadas e providas em moedas estrangeiras.

2.8) Exclusão de obrigações de dívidas em reservas em moedas estrangeiras de países participantes de sanções contra a Rússia. Exclusão de depósitos denominados nestas moedas do sistema de seguros sobre depósitos. Ao mesmo tempo, liberalizar o giro de dinheiro, ouro e prata como meios de economia de longo-prazo. Abolição do VAT [imposto sobre valor agregado] sobre as compras já efetuadas de barras de ouro de bancos e a introdução de um imposto sobre a exportação de ouro e prata para o exterior.

2.9) Para desoffshorisar a economia:

  • Prover acesso a recursos minerais e outros recursos naturais, pedidos estatais, programas estatais, subsídios estatais, empréstimos, concessões, propriedade de bens e gerenciamentos imobiliários, habitação e construção de infraestrutura, operações com economias populares, bem como outras atividades estrategicamente importantes para o Estado e socialmente sensíveis apenas para empresas nacionais e cidadãos residentes na Rússia;
  • Clarificar a definição legal do termo “empresa nacional” para que se cumpram os seguintes requisitos: registro, taxação de residência e atividades principais de negócios na Rússia, pertencentes a residentes russos que não sejam ligados a entidades e jurisdições estrangeiras;
  • Obrigar os proprietários últimos de participações acionárias em empresas estratégicas russas a registrarem os seus direitos de propriedade em cartórios russos, abandonando a “sombra” offshore;
  • Terminar os acordos sobre a troca de informações sobre impostos com empresas offshore, denunciar os acordos existentes com estes sobre a evitação de taxações duplas;
  • Proibir legalmente a transferência de ativos para jurisdições offshore com quem não exista um acordo sobre a troca de informações sobre impostos sob o modelo de transparência desenvolvido pela OCDE [Organisation for Economic Co-operation and Development];
  • Manter exigências sobre companhias de offshore de propriedade de residentes russos de cumprir a legislação russa e prover informações sobre os participantes da empresa (acionistas, depositantes, beneficiários), bem como na divulgação de informações sobre impostos com o propósito de taxação na Rússia de todas as rendas recebidas de fontes russas, sob a ameaça de impor um imposto de 30% sobre quaisquer operações.

2.10) Adotar um conjunto de medidas para reduzir perdas de impostos sobre exportações de capitais não autorizadas: 1 - restituição do VAT a exportadores apenas após o recebimento das rendas de exportação; 2 - coleta de pagamentos adiantados de VAT por bancos autorizados quando houver transferências de adiantamentos sobre importações para fornecedores não-residentes; 3 - introdução de penalidades sobre contas a receber atrasadas sob contratos de importação; 4 - terminar com a inclusão de dívidas duvidosas de não-residentes a empresas russas em gastos não-operacionais.

2.11) Introduzir restrições sobre o volume de ativos estrangeiros e passivos fora do relatório de balanço para não-residentes sobre derivativos de organizações russas, limitar os investimentos de empresas russas em títulos estrangeiros, incluindo letras de tesouro dos EUA e outros países estrangeiros com um déficit orçamentário ou dívida pública altos.

3) Aumentar o potencial e a segurança do sistema monetário russo e fortalecer a sua posição na economia global, dando ao rublo as funções de uma moeda internacional de reserva.

3.1) Encorajar a troca de liquidações mútuas em EAEU e CIS para rublos em liquidações financeiras com a União Europeia — para rublos e euros — e com a China — para rublos e yuans. Recomendar que as entidades de negócios mudem para liquidações em rublos para bens e serviços exportados e importados. Prover a alocação de empréstimos conectados ao rublo para países importadores de produtos russos, a fim de manter o giro comercial e usar trocas de crédito e moedas para este propósito.

3.2) Expandir radicalmente o sistema de serviços de pagamentos em moedas nacionais entre empresas do EAEU e os Estados do CIS através do CIS Interstate Bank e com outros Estados – usando organizações financeiras internacionais controladas pela Rússia (IBEC, IIB, EDB, etc.). Criar um sistema de pagamentos e liquidações financeiras nas moedas nacionais dos Estados-membros da EAEU com o seu próprio sistema para trocas de informações bancárias, avaliação de riscos de crédito e ofertas de taxas de câmbio de moedas. Desenvolver e implementar o seu próprio sistema independente de liquidações financeiras internacionais na EAEU, SCO e BRICS que possa eliminar a dependência crítica do sistema SWIFT controlado pelos EUA.

3.3) O banco da Rússia deve executar o refinanciamento planejado dos bancos comerciais para os empréstimos denominados em rublo para operações de exportação-importação a taxas razoáveis em bases de longo prazo, e também de levar em conta as direções principais da política monetária e a demanda adicional por rublos devido à expansão do giro de comércio estrangeiro em moeda doméstica e a formação de reservas estrangeiras em rublos em Estados e bancos estrangeiros.

3.4) Organizar o comércio de câmbio em petróleo, derivados de petróleo, madeira, fertilizantes minerais, metais e outras matérias-primas em rublos; para garantir preços de mercado e evitar o uso de preços de transferência para evasão de impostos, para obrigar os produtores de bens comercializados com câmbio a vender pelo menos metade dos seus produtos, incluindo aqueles fornecidos para exportação, através de câmbios registrados pelo governo russo.

3.5) Limitar a tomada de empréstimos dos bancos e corporações controlados pelo Estado no exterior; substituir gradualmente os empréstimos tomados por empresas controladas pelo Estado em moedas estrangeiras por empréstimos em rublos junto a bancos comerciais controlados pelo Estado, devido ao seu refinanciamento planejado feito pelo Banco Central a taxas apropriadas de juros.

3.6) Organizar um clube-Moscou de credores e investidores para coordenar as políticas de crédito e investimentos dos bancos e fundos russos no exterior, procedimentos para repagar empréstimos ruins e desenvolver uma posição comum em relação a países tomadores inadimplentes.

4) Fazer emendas e adições à lei “Sobre o Banco Central”.

4.1) Expandir o Artigo 3 da Lei Federal com a seguinte redação:

“Os objetivos das atividades do Banco da Rússia são:

  • promover o alto emprego e o crescimento econômico sustentável ao garantir um nível suficiente de monetização da economia e taxas de juros acessíveis;
  • proteger e garantir a estabilidade do rublo;
  • garantir o desenvolvimento e sustentabilidade do sistema bancário da Federação Russa;
  • garantir o desenvolvimento e funcionamento estável do sistema nacional de pagamentos;
  • garantir o desenvolvimento estável do mercado financeiro da Federação Russa.

Gerar lucro não é a meta das atividades do Banco da Rússia”

4.2) Expandir o Artigo 34.1 da Lei Federal com a seguinte redação:

O principal objetivo da política monetária do Banco da Rússia é proteger e garantir a estabilidade do rublo, incluindo a sua taxa de câmbio; promover o alto emprego e o crescimento econômico sustentável ao garantir um nível suficiente de monetização da economia e taxas de juros acessíveis; organizar os empréstimos para o desenvolvimento da economia russa, garantir o crescimento dos investimentos e das atividades de negócios, criar condições para o crescimento da produção e da renda da população; manter um sistema orçamentário balanceado da Federação Russa.

5) Aumentar a competitividade das empresas ao envolver os trabalhadores nos seus sistemas de gestão.

5.1) Estabelecer legislativamente os direitos do coletivos de trabalhadores, especialistas e gerentes para criarem o seus próprios corpos colegiados (Conselhos de Funcionários, Conselhos Científicos e de Engenharia, Conselhos de Diretores) e para eleger os seus representantes no corpo de gerenciamento estratégico supremo (Conselho Diretor), que garante que os interesses de todos os participantes das atividades da empresa são levados em conta, em combinação com os interesses de desenvolvimento da própria empresa enquanto uma entidade econômica.

5.2) Estabelecer padrões de responsabilidade para as ações de todos os participantes nas relações industriais: gerentes — por consequências negativas de decisões feitas em condições de conflito de interesses; especialistas — por violações de padrões e regulações técnicas; empregados — por violações da disciplina industrial. O grau de responsabilidade civil, administrativa e criminal deve corresponder à quantidade de danos causados à empresa e ao nível de autoridade dos empregados culpados. Os proprietários também devem responder pela sua parte de responsabilidades caso eles interfiram diretamente nas atividades da empresa ou disponham de direitos de propriedade em detrimento dos interesses da empresa roubando lucros e ativos, forçando operações fictícias, falências mal-intencionadas, saques, etc.).

5.3) Realizar um censo de empresas que preencherão os hiatos existentes na identificação de proprietários, gerenciamento e empregados das empresas, e restaurar a correspondência entre entidades econômicas e entidades legais. É necessário expandir a prática de prover as empresas com a chamada comunicação integrada, o que torna possível acessar abrangentemente não apenas o estado presente, mas também as perspectivas de funcionamento de uma empresa num ambiente em mudanças através de uma ampla gama de indicadores da sua atividade.

5.4) A fim de coletar, acumular, analisar e resumir informações estatísticas, de levantamentos e fenomenológicas sobre o estado das empresas domésticas, recomenda-se criar um Centro para monitorar as atividades das empresas.

5.5) Encorajar a expansão do número de cooperativas e empresas nacionais baseadas em experiências estrangeiras comprovadas, bem como as melhores práticas domésticas;

6) Subordinação da política de Estado às metas de realizar um avanço no desenvolvimento econômico.

6.1) Criação de um fundo estatal extra orçamentário de investimento e crédito, por conta da emissão de objetivo de crédito correspondente ao dinheiro retirado da economia pelo Banco Central (até 8 trilhões de rublos).

6.2) Considerando a importância do sistema de planejamento estratégico e o fato que o governo da Federação Russa, enquanto um corpo executivo central, é encarregado das tarefas correntes e não pode formular metas estratégicas e monitorar a realização destas, propõe-se criar um Comitê Estatal para o Planejamento Estratégico, sob a direção do Presidente da Federação Russa, concedendo-lhe os poderes apropriados.

6.3) A fim de implementar uma abordagem sistemática ao gerenciamento do progresso científico e tecnológico e estimulação das atividades de inovação de ponta a ponta e completo, é aconselhável criar-se um corpo federal supra-departamental responsável por desenvolver políticas científicas, técnicas de inovação do Estado, coordenando as atividade de ministérios e departamentos setoriais na sua implementação — o Comitê Estatal para o Desenvolvimento Científico e Técnico da Federação, sob o Presidente da Rússia.

6.4) Criar um sistema unificado de informações sobre a moeda e de controle de impostos que contenha a declaração eletrônica de passaportes de transações, com a transferência dos mesmos para os bancos de dados de todos os corpos de controle.

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