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Ideias

Possibilidade de catástrofe nuclear é causa da busca incessante dos EUA por hegemonia, diz Jeffrey Sachs

Nesta fase, a diplomacia, e não a escalada militar, é o verdadeiro caminho para a segurança global, diz o economista Jeffrey Sachs

Joe Biden e Vladimir Putin (Foto: Reuters)
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Artigo de Jeffrey D. Sachs, publicado no Common Dreams. Tradução mecânica do Consortium News. Edição do Brasil 247

O mundo está à beira de uma catástrofe nuclear em grande parte por causa do fracasso dos líderes políticos ocidentais em serem francos sobre as causas da escalada dos conflitos globais. A narrativa ocidental implacável de que o Ocidente é nobre enquanto a Rússia e a China são más é simplória e extraordinariamente perigosa. É uma tentativa de manipular a opinião pública, não de lidar com uma diplomacia muito real e urgente. 

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A narrativa essencial do Ocidente está embutida na estratégia de segurança nacional dos EUA. A ideia central dos EUA é de que a China e a Rússia são inimigos implacáveis ​​que estão “tentando corroer a segurança e a prosperidade americanas”. Esses países estão, segundo os EUA, “determinados a tornar as economias menos livres e menos justas, aumentar suas forças armadas e controlar informações e dados para reprimir suas sociedades e expandir sua influência”.

A ironia é que, desde 1980, os EUA estiveram em pelo menos 15 guerras de escolha no exterior (Afeganistão, Iraque, Líbia, Panamá, Sérvia, Síria e Iêmen, apenas para citar alguns), enquanto a China não esteve em nenhuma, e a Rússia apenas em uma (Síria) além da antiga União Soviética. Os EUA têm bases militares em 85 países, a China em três e a Rússia em um (Síria) além da antiga União Soviética. 

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O presidente Joe Biden promoveu essa narrativa, declarando que o maior desafio do nosso tempo é a competição com as autocracias, que “procuram aumentar seu próprio poder, exportar e expandir sua influência ao redor do mundo e justificar suas políticas e práticas repressivas como um maneira mais eficiente de enfrentar os desafios de hoje.” A estratégia de segurança dos EUA não é obra de um único presidente dos EUA, mas do establishment de segurança dos EUA, que é amplamente autônomo e opera por trás de um muro de sigilo.

O medo exagerado da China e da Rússia é vendido ao público ocidental através da manipulação dos fatos. Uma geração antes, George W. Bush Jr. vendeu ao público a ideia de que a maior ameaça dos Estados Unidos era o fundamentalismo islâmico, sem mencionar que foi a CIA, com a Arábia Saudita e outros países, que criou, financiou e mobilizou os jihadistas em Afeganistão, Síria e outros lugares para lutar nas guerras da América.

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Ou considere a invasão do Afeganistão pela União Soviética em 1980, que foi retratada na mídia ocidental como um ato de perfídia não provocado. Anos depois, soubemos que a invasão soviética foi na verdade precedida por uma operação da CIA destinada a provocar a invasão soviética!

A mesma desinformação ocorreu em relação à Síria. A imprensa ocidental está cheia de recriminações contra a assistência militar do presidente russo Vladimir Putin a Bashar al-Assad da Síria a partir de 2015, sem mencionar que os EUA apoiaram a derrubada de al-Assad a partir de 2011, com a CIA financiando uma grande operação (Timber Sycamore) para derrubar Assad anos antes da chegada da Rússia.

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Ou, mais recentemente, quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, voou imprudentemente para Taiwan, apesar das advertências da China, nenhum ministro das Relações Exteriores do G7 criticou a provocação de Pelosi, mas os ministros do G7 juntos criticaram duramente a "exagerada reação" da China à viagem de Pelosi. 

A narrativa ocidental sobre a guerra na Ucrânia é que é um ataque não provocado de Putin na busca de recriar o império russo. No entanto, a história real começa com a promessa ocidental ao presidente soviético Mikhail Gorbachev de que a OTAN não se expandiria para o Leste, seguida por quatro ondas de engrandecimento da OTAN: em 1999, incorporando três países da Europa Central; em 2004, incorporando mais sete, inclusive no Mar Negro e nos Estados Bálticos; em 2008, comprometendo-se a alargar à Ucrânia e à Geórgia; e em 2022, convidando quatro líderes da Ásia-Pacífico à OTAN para mirar na China.

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A mídia ocidental também não menciona o papel dos EUA na derrubada do presidente pró-Rússia da Ucrânia, Viktor Yanukovych, em 2014; o fracasso dos governos da França e da Alemanha, garantes do acordo de Minsk II, em pressionar a Ucrânia a cumprir seus compromissos; os vastos armamentos dos EUA enviados para a Ucrânia durante as administrações Trump e Biden no período que antecedeu a guerra; nem a recusa dos EUA em negociar com Putin o alargamento da OTAN à Ucrânia. 

É claro que a OTAN diz que isso é puramente defensivo, para que Putin não tenha nada a temer. Em outras palavras, Putin não deve tomar conhecimento das operações da CIA no Afeganistão e na Síria; o bombardeio da OTAN à Sérvia em 1999; a derrubada de Muammar Kadafi pela OTAN em 2011; a ocupação do Afeganistão pela OTAN por 15 anos; nem a “gafe” de Biden pedindo a deposição de Putin (o que obviamente não foi uma gafe); nem o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmando que o objetivo de guerra dos EUA na Ucrânia é o enfraquecimento da Rússia.

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No centro de tudo isso está a tentativa dos EUA de permanecer como a potência hegemônica do mundo, aumentando as alianças militares em todo o mundo para conter ou derrotar a China e a Rússia. É uma ideia perigosa, ilusória e ultrapassada. Os EUA têm apenas 4,2% da população mundial e agora apenas 16% do PIB mundial (medido a preços internacionais). De fato, o PIB combinado do G7 é agora menor que o dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), enquanto a população do G7 é apenas 6% do mundo, em comparação com 41% dos BRICS. 

Há apenas um país cuja fantasia autodeclarada é ser a potência dominante do mundo: os EUA. Já passou da hora de os EUA reconhecerem as verdadeiras fontes de segurança: coesão social interna e cooperação responsável com o resto do mundo, em vez da ilusão de hegemonia. Com essa política externa revisada, os EUA e seus aliados evitariam a guerra com a China e a Rússia e permitiriam que o mundo enfrentasse sua miríade de crises ambientais, energéticas, alimentares e sociais. 

Acima de tudo, neste momento de extremo perigo, os líderes europeus devem buscar a verdadeira fonte de segurança europeia: não a hegemonia dos EUA, mas arranjos de segurança europeus que respeitem os interesses legítimos de segurança de todas as nações europeias, certamente incluindo a Ucrânia, mas também incluindo a Rússia, que continua a resistir aos alargamentos da OTAN ao Mar Negro. A Europa deveria refletir sobre o fato de que o não alargamento da OTAN e a implementação dos acordos de Minsk II teriam evitado esta terrível guerra na Ucrânia. Nesta fase, a diplomacia, e não a escalada militar, é o verdadeiro caminho para a segurança europeia e global.

Jeffrey D. Sachs é professor e diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, onde dirigiu o The Earth Institute de 2002 a 2016. Ele também é presidente da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU e comissário da Comissão de Banda Larga da ONU para desenvolvimento. Ele foi conselheiro de três secretários-gerais das Nações Unidas e atualmente atua como defensor dos ODS sob o secretário-geral Antonio Guterres. Sachs é o autor, mais recentemente, de A New Foreign Policy: Beyond American Exceptionalism (2020). Outros livros incluem: Construindo a Nova Economia Americana: Inteligente, Justa e Sustentável (2017) e  A Era do Desenvolvimento Sustentável, (2015) com Ban Ki-moon.

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