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Ideias

Trump matou a Pax Americana

O economista estadunidense Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, autor de diversos livros e colunista do New York Times, não acredita, que depois do governo Trump ainda será possível ver o renascimento da civilidade e da cooperação na política dos Estados Unidos

(Foto: Reprodução | Reuters)
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Por Paul Krugman, na Carta Maior, tradução de Isabela Palhares - Ainda existem, eu imagino, algumas pessoas que ainda imaginam que se e quando Donald Trump deixar o cargo, veremos o renascimento da civilidade e da cooperação na política dos EUA.

Elas são, é claro, irremediavelmente inocentes. 

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Os EUA nos anos 2020 permanecerão uma nação profundamente polarizada, repleta de teorias da conspiração malucas e, possivelmente, atormentada pelo terrorismo de direita.

Mas esse não será o legado de Trump. 

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A verdade é que já estávamos trilhando esse caminho antes dele chegar. 

E no outro lado, se os Democratas conquistarem uma grande vitória, eu espero ver muitas das políticas substanciais de Trump revertidas, e depois outras mais. 

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A proteção ambiental e a rede de proteção social provavelmente ficarão mais fortes, os ricos serão mais taxados do que eram com Barack Obama.

O duradouro legado de Trump, eu suponho, será visto nas relações internacionais. 

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Por quase 70 anos os EUA tiveram um papel especial no mundo, um que nenhuma outra nação teve. 

Agora, perdemos esse papel, e não vejo como poderemos retomá-lo.

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Veja, a dominância estadunidense representava uma nova forma de hegemonia para as superpotências.

O comportamento do nosso governo não era santo; fizemos coisas terríveis, apoiamos ditadores e prejudicamos democracias do Irã ao Chile. 

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E, às vezes, parecia que um dos nossos principais objetivos era tornar o mundo seguro para corporações multinacionais.

Mas não somos exploradores grosseiros, saqueando outros países para nosso ganho pessoal. 

A Pax Americana possivelmente data da promulgação do Plano Marshall em 1948; ou seja, do momento em que uma nação conquistadora escolheu ajudar seus adversários derrotados a se reerguerem ao invés de exigir que pagassem impostos.

E éramos um país que cumpria com sua palavra.

Para falar da área que eu sei mais, os EUA tomaram a liderança na criação de um sistema de regras para o comércio internacional. 

As regras foram criadas para se adequar às ideias estadunidenses sobre como o mundo deveria funcionar, estabelecendo limites na habilidade dos governos de intervir nos mercados. 

Mas, uma vez que as regras estavam determinadas, nós as seguimos por nós mesmos. 

Quando a OIT decidiu contra os EUA, como fez no caso das tarifas do aço de George W. Bush, o governo dos EUA aceitou o julgamento.

Também nos mantivemos ao lado de nossos aliados. Podemos ter algumas disputas comerciais ou outras com a Alemanha ou a Coréia do Sul, mas ninguém considerou a possibilidade de que os EUA não interviriam se algum dos países fosse invadido.

Trump mudou tudo isso.

Por exemplo, qual é o motivo de um sistema de comércio regulamentado quando o criador do sistema e outrora guardião impõe tarifas baseadas em argumentos explicitamente de má-fé – tais como a afirmação de que importações de alumínio do Canadá (!) ameaçam a segurança nacional?

Quão útil são os EUA como aliados quando o presidente sugere que ele pode não defender as nações europeias porque, de acordo com sua opinião, elas não investem o suficiente na OTAN?

Os EUA ainda são líderes do mundo livre quando agentes do alto escalão parecem ser mais amigáveis com nações como a Hungria, onde a democracia efetivamente colapsou – ou até mesmo com autocracias assassinas como a Arábia Saudita – do que com aliados democráticos de longa data?

Agora, se Trump perder, uma administração Biden provavelmente fará o seu melhor para restaurar o papel tradicional dos EUA no mundo. 

Começarão a seguir as regras comerciais; reingressaremos no Acordo de Paris e rescindiremos planos de saída da OMS. 

Iremos garantir aos nossos aliados que os defenderemos, e reconstruiremos alianças com outras democracias.

Mas mesmo com a melhor vontade do mundo, alguns processos são irreversíveis. 

Não importa o quanto os EUA se tornem bons samaritanos nos próximos anos, todos lembrarão que fomos um país que elegeu alguém como Donald Trump, e que poderá fazê-lo novamente. 

Levará décadas se não gerações para reconquistar uma confiança perdida.

Os efeitos podem ser sutis a princípio. 

Outros países provavelmente não vão se apressar para confrontar uma administração Biden. 

Ainda pode haver um tipo de lua-de-mel global, enquanto o mundo respira aliviado.

Mas a perda da confiança nos EUA terá gradualmente um efeito corrosivo. 

Um expert em comércio uma vez me disse que o grande perigo, se os EUA se tornarem protecionistas, não será a retaliação, seria a rivalidade: se ignorarmos as regras, outros países farão o mesmo. 

O mesmo será verdade em outras frentes. 

Veremos um maior bullying econômico e militar dos grandes vizinhos contra países menores. 

Veremos farsas eleitorais mais evidentes em nações teoricamente democráticas.

Em outras palavras, mesmo se Trump for embora, o mundo se tornará um lugar mais perigoso e menos justo do que era antes, porque todos irão se perguntar e se preocupar se os EUA se tornaram um país onde esses tipos de coisas podem acontecer de novo.

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