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Indústria química enfrenta importações predatórias e registra déficit de US$ 48,7 bilhões em 2024

Setor sofre com alta ociosidade, enquanto importações asiáticas e americanas impulsionam concorrência desleal e ameaçam a fabricação nacional

Indústria química enfrenta importações predatórias e registra déficit de US$ 48,7 bilhões em 2024 (Foto: Agência Brasil )

247 - A indústria química nacional segue enfrentando dificuldades em meio a um cenário de forte concorrência com importações predatórias, especialmente de países asiáticos e dos Estados Unidos. De acordo com dados divulgados nesta terça-feira (4) pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o Brasil importou US$ 63,9 bilhões em produtos químicos em 2024, um dos maiores volumes da última década, atrás apenas do recorde de US$ 80,3 bilhões registrado em 2022. As importações cresceram 11,5% em volume físico, atingindo 65,3 milhões de toneladas.

Os intermediários de fertilizantes representaram uma fatia expressiva desse volume, totalizando 41,1 milhões de toneladas — um aumento de 7,4% em relação a 2023. Esses produtos poderiam ser fabricados no Brasil se houvesse políticas que garantissem maior oferta de gás natural a preços competitivos. A competição desleal tem sido impulsionada pela compra de matérias-primas russas a preços reduzidos, devido à guerra no Leste Europeu, o que impactou diretamente os preços médios das importações, reduzindo-os em 6,3%.

Produção nacional em risco

A entrada massiva de produtos importados a preços reduzidos teve impacto direto na fabricação local, resultando no encerramento da produção nacional de itens estratégicos para diversas cadeias industriais. Houve aumentos significativos nas importações de segmentos com forte presença produtiva no Brasil, como resinas e elastômeros (32,4%), químicos orgânicos (14,3%), químicos inorgânicos (9,1%) e outros produtos químicos de uso industrial (9,3%).

A Ásia (excluindo o Oriente Médio) se consolidou como a principal fornecedora de produtos químicos para o Brasil, respondendo por 31% das importações, equivalentes a US$ 19,6 bilhões. O déficit comercial do setor com essa região chegou a US$ 18 bilhões, evidenciando o desbalanceamento da balança comercial.

Exportações e balança comercial

As exportações brasileiras de produtos químicos totalizaram US$ 15,2 bilhões em 2024, com crescimento de 4,3% em relação ao ano anterior. No entanto, em termos de volume físico, houve uma ligeira queda de 0,2%. Esse cenário reflete a dificuldade dos produtos brasileiros em competir nos mercados internacionais frente à concorrência de químicos asiáticos com preços artificialmente reduzidos.

Apesar do crescimento das exportações, o déficit comercial do setor atingiu US$ 48,7 bilhões. Esse valor só não superou o recorde de 2022 (US$ 63 bilhões) devido à redução nos preços dos importados. O Brasil teve saldo positivo apenas no comércio com os países do Mercosul (US$ 1,4 bilhão) e da Aladi (US$ 180 milhões). Em contrapartida, o déficit somado com União Europeia e Nafta ultrapassou US$ 20,7 bilhões, além do já mencionado desequilíbrio com a Ásia.

Reação e perspectivas

O presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, avalia que 2024 foi um ano desafiador, mas que trouxe avanços importantes, como a elevação emergencial das tarifas de importação para 30 produtos químicos. Segundo ele, a medida começou a surtir efeito no último trimestre do ano, impulsionando a produção doméstica em 6,35%.

“Sabemos que esse é só um primeiro passo, todavia, fundamental para enfrentarmos o cenário internacional extremamente adverso, com excesso de capacidade produtiva de produtos químicos no mundo e programas pesados de subsídios nos principais produtores mundiais de químicos”, afirma Passos.

O executivo destaca que a transição para uma economia de baixo carbono será fundamental para o futuro do setor químico. “A indústria química está pronta para liderar essa transição. A química de baixo carbono está relacionada ao uso de tecnologias que reduzam ou neutralizem a emissão de gases de efeito estufa. A química renovável, a captura e estocagem de carbono e a reciclagem química são alguns exemplos dessa liderança que pode ser exercida pela indústria química brasileira”, conclui.

O setor espera que o governo mantenha políticas de incentivo para equilibrar a competição internacional e garantir que a indústria química nacional possa se fortalecer diante do atual cenário desafiador.