Indústria química registra queda na produção e nas vendas no primeiro bimestre de 2025, aponta Abiquim
Produção caiu 5,6% e as vendas internas diminuíram 0,8% nos dois primeiros meses de 2025, segundo Relatório de Acompanhamento Conjuntural da Abiquim
247 - A indústria química brasileira iniciou 2025 em retração, com queda generalizada nos principais indicadores de desempenho. É o que revela o Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), elaborado em parceria com a Fipe. Segundo o levantamento, houve recuo na produção, nas vendas internas e na demanda nacional por produtos químicos de uso industrial no primeiro bimestre deste ano, em comparação com igual período de 2024.
De acordo com os dados divulgados pela Abiquim, a produção caiu 5,6%, as vendas internas diminuíram 0,8% e o consumo aparente nacional (CAN) — indicador que soma a produção às importações e subtrai as exportações — registrou queda de 4%. A utilização da capacidade instalada recuou para 60%, o menor nível desde o início da série histórica da entidade, em 1990. Com isso, o índice de ociosidade atingiu 40%, ultrapassando esse percentual em alguns segmentos, como os de intermediários para plastificantes (61%), plásticos (48%), fertilizantes (44%) e fibras sintéticas (41%).
Os resultados negativos foram fortemente influenciados pelo desempenho de fevereiro, quando a produção caiu 10,1% em relação a janeiro, as vendas internas recuaram 4,5% e o CAN despencou 17,1%. Ainda segundo a Abiquim, a queda na demanda foi agravada por uma redução de 26,8% nas importações dos produtos analisados. O mês também foi impactado por uma série de fatores operacionais, como paralisações de unidades industriais, restrições no fornecimento de matérias-primas e energia, baixa demanda e menor número de dias úteis.
Apesar do recuo nos volumes, os preços dos produtos químicos subiram. O Índice Geral de Preços da Abiquim-Fipe apontou alta de 5,1% entre janeiro e fevereiro. Descontando-se a inflação medida pelo IPA-Indústria de Transformação da FGV, a elevação real dos preços foi de 3,6%. Em moeda estrangeira, os preços reais subiram 11,3% em dólar e 11,2% em euro, influenciados pela valorização do real frente às moedas internacionais.
No acumulado de 12 meses até fevereiro de 2025, os números da Abiquim mostram que a produção cresceu 3,2%, as vendas internas aumentaram 7%, os preços subiram 19,3% e o consumo aparente nacional registrou avanço de 3,2%. As importações também cresceram (6,4%), o que elevou a participação de produtos importados na demanda total para 49%, frente aos 48% do período anterior. Entre os itens com maior aumento nas compras externas estão as resinas termoplásticas (+28,3%), produtos inorgânicos (+26,7%) e orgânicos (+25,1%).
A balança comercial da indústria química permanece deficitária. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, compilados pela Abiquim, o Brasil importou US$ 65,37 bilhões em produtos químicos entre março de 2024 e fevereiro de 2025, e exportou US$ 15,79 bilhões. O resultado foi um déficit de US$ 49,59 bilhões, superior ao saldo negativo de US$ 48,68 bilhões registrado no ano anterior.
Diante do agravamento da situação, o presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, defende que o governo adote medidas emergenciais para garantir competitividade à indústria química nacional. Segundo ele, o setor está sendo impactado por fatores externos, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, cujas economias têm reforçado programas de estímulo à produção local.
“O Brasil precisa reagir. Nossos concorrentes já estão se movendo com programas robustos. Se não fizermos o mesmo, corremos o risco de perder uma indústria estratégica”, alertou Passos. Ele destacou a importância da retomada do Reiq (Regime Especial da Indústria Química), que já resultou em R$ 760 milhões em investimentos efetivados e tem mais R$ 300 milhões em análise — totalizando R$ 1 bilhão previstos para 2025.
O executivo também defendeu a aprovação do Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), protocolado na Câmara dos Deputados, que prevê incentivos fiscais para estimular processos de baixo carbono. “Com isso, esperamos que a indústria volte a operar em plena capacidade, atingindo 95% da produção. Isso teria um impacto direto e indireto no PIB de R$ 112,1 bilhões até 2029”, afirmou.
Segundo estimativas da Abiquim, esse movimento pode gerar 81 mil empregos diretos e até 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos. Hoje, a indústria química já emprega mais de 2 milhões de brasileiros. “A nova lei ajudará a reduzir o déficit da indústria química, tornando-se uma fonte importante de arrecadação e agregação de valor ao país, através do uso sustentável dos recursos naturais. Esse plano pode salvar o setor”, concluiu Passos.
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