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Meio Ambiente

Ailton Krenak: ataque às terras indígenas é capitalismo voraz comendo o mundo

Para líder indígena, devastação do meio ambiente é global, e brasileiros fecham os olhos para a pandemia e guerra na Europa

Ailton Krenak (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
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Opera Mundi - “Quando a Europa faz guerra, o resto do mundo paga a conta", com essa formulação, o líder indígena e escritor da etnia crenaque Ailton Krenak afirmou que o ataque brasileiro a terras indígenas integra uma escalada global em direção à destruição da vida na Terra. 

Durante o programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (13/06), com o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, Krenak disse que a Europa em guerra está o "perturbando". "Estou vendo que no Brasil as pessoas viraram as costas para dois eventos gravíssimos: a pandemia e a guerra. É uma renúncia, uma indiferença, um egoísmo. A pessoa está preocupada em consumir coisas", disse.

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“Do ponto de vista real, estamos exaurindo a vida e as fontes de suprimento do planeta. É igual alguém que está acabando de comer o armário, e quando acabar a prateleira acabou”, comparou, atribuindo ao capitalismo neoliberal o estado de coisas. 

Para ele, o avanço atual sobre as terras indígenas não é isolado e vale do mesmo modo para unidades de conservação, parques nacionais, rios, florestas e assim por diante. “É um leilão determinado pelo capitalismo selvagem que está comendo o mundo. A gente deveria prestar mais atenção na situação de risco global que vivemos, na situação climática. Recife, Petrópolis e muitas cidades estão desmoronando em cima da população. Aqui em Ouro Preto (Minas Gerais, onde Krenak nasceu e vive), quase o patrimônio histórico foi devastado pela lama”, exemplifica.

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O ambientalista e filósofo é autor do livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo (Companhia das Letras, 2019), já publicado ou em vias de publicação em mais de 12 idiomas além do português. Krenak tem acompanhado em 69 anos de vida o abandono a que o Brasil submete seus povos originários.

Lembrando que o direito de ir e vir dos povos originários é garantido não apenas pela Constituição brasileira, mas por tratados internacionais, como a Convenção de Genebra, Krenak reflete sobre a transformação estatística da ditadura militar (1964-1985) para cá: “descobriram que a gente não desapareceu, que somos parte da sociedade brasileira, com todas as suas diferenças. Da mesma maneira que aqui tem turco, japonês, italiano, francês e todo mundo, e tem um povo originário daqui, que já estava aqui. A gente não veio para cá de lugar nenhum. Não ficamos sujando os rios, destruindo a floresta e dizendo que estamos fazendo o Brasil crescer, porque isso é uma mentira. A gente não aprendeu a falar mentira”. 

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Não faltam exemplos que demonstrem a permanência do abandono. O escritor observa que o modelo econômico aplicado no Brasil é de hostilidade contra as pessoas, que em grande medida vivem alienadas de sua própria identidade.

"Nem a cartografia das fronteiras agrícolas vai ser atualizada, da mesma maneira que estão retardando ao máximo os compromissos do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] de fazer o Censo. A desinformação é um modo autoritário de governar. Os ciclos econômicos sempre arrocham, o tema é sempre arrochar a economia, criar inflação, desemprego”, disse.

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"Segundo ciclo da Transamazônica"

O líder indígena compara com outros períodos históricos o retrato atual do Brasil, que soma eventos como os desastres ambientais provocados pela mineração no vale do Rio Doce, incêndios e desmatamento na floresta, no pantanal e no cerrado, assim como o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na Amazônia. 

“Notei que estamos vivendo um segundo ciclo igual àquele da Transamazônica”, interpreta, em referência à rodovia federal construída pelos militares entre 1969 e 1974.

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O neoliberalismo, para ele, é o detonador do processo (auto)destrutivo. A pobreza crescente no país, segundo o pensador, é uma indústria produzida pela sobreposição da economia às vidas humanas. “O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro diz que nos últimos 10 anos o Brasil tem se configurado como um país especializado na produção de pobreza”, descreve. 

“Você pega uma comunidade que caça, pesca, coleta, vende produtos artesanais, vive bem, se alimenta bem, tem boa saúde e transforma em favelados em volta de uma hidrelétrica ou rodovia. Depois tem que criar programa social para dar R$ 300 para as pessoas morarem em favela. É desse jeito que se produz pobre", afirmou o escritor.

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Krenak se notabilizou nacionalmente durante a formulação da Constituição de 1988, que viria a encerrar a tutela legal do Estado sobre os povos originários, “do ponto de vista formal”. Numa sessão pública durante a Constituinte, pintou o rosto com jenipapo enquanto discursava em protesto contra a invisibilidade e os retrocessos na luta pelos direitos dos indígenas brasileiros. “Nós conhecemos as leis do Brasil e os acordos internacionais. A ONU sabe muito bem que o Brasil está violando direitos indígenas”, constata o líder, que ajudou a redigir o capítulo dos direitos dos indígenas na Carta Magna brasileira.

O líder indígena explica a relação com o rio pós-devastação: “imagina alguém que entrou em coma ficou internado na UTI. Os Krenak ficam velando o corpo do rio. O rio é uma pessoa que está em coma, estamos acompanhando ele, não sabemos quando vai sarar”. 

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