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Estudo global aponta que avanço das mudanças climáticas compromete meta de 1,5°C do Acordo de Paris

Relatório publicado por 60 cientistas de 17 países indica que dez indicadores climáticos essenciais estão em alerta vermelho em 2024

Estudo global aponta que avanço das mudanças climáticas compromete meta de 1,5°C do Acordo de Paris (Foto: Reuters/Rogan Ward)

247 - As mudanças climáticas estão progredindo em ritmo alarmante e colocam em risco a principal meta do Acordo de Paris — limitar o aquecimento global a 1,5°C. A constatação é de um estudo publicado nesta quinta-feira (19) na revista Earth System Science Data e divulgado pela RFI. De acordo com os autores, cerca de dez indicadores climáticos fundamentais, como o nível de emissões de gases de efeito estufa e a elevação dos oceanos, estão em alerta vermelho.

O levantamento, conduzido por cerca de 60 cientistas de 17 países, baseia-se nos métodos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU). Os especialistas alertam que o aquecimento causado pela ação humana atingiu um ritmo “sem precedentes” nas últimas décadas, avançando 0,27°C por década entre 2015 e 2024. “O limite de 1,5°C agora é inevitável”, declarou Pierre Friedlingstein, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França) e um dos autores do relatório.

“O que podemos fazer para limitar a velocidade e a magnitude da elevação do nível do mar? Reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível”, afirmou a climatologista Valérie Masson-Delmotte, ao destacar que ainda há margem para mitigar os impactos, mesmo diante de indicadores tão preocupantes.

Entre os dados mais alarmantes, o estudo aponta que as emissões de CO₂, impulsionadas sobretudo pelo uso de combustíveis fósseis, atingiram um novo recorde em 2024. Na última década, a média anual foi de 53 bilhões de toneladas. Paralelamente, a concentração de partículas poluentes que ajudam a resfriar a atmosfera diminuiu, agravando o desequilíbrio térmico.

O aquecimento global observado neste ano já chega a 1,52°C em relação à era pré-industrial — sendo 1,36°C diretamente atribuíveis à ação humana. A diferença, segundo os pesquisadores, é explicada por fatores naturais como o El Niño. Embora esse valor ultrapasse o limite de 1,5°C, ele não significa necessariamente que a meta do Acordo de Paris foi superada, já que o cálculo leva em conta médias de longo prazo. Ainda assim, os sinais são inequívocos de que a janela de ação está se fechando rapidamente.

O chamado “saldo de carbono restante” — quantidade de CO₂ que ainda poderia ser emitida mantendo 50% de chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C — foi reduzido de cerca de 200 bilhões de toneladas em 2024 para 130 bilhões no início de 2025. Isso equivale a pouco mais de três anos de emissões no ritmo atual.

Dois novos indicadores foram adicionados ao relatório deste ano, incluindo a elevação do nível do mar, que mais do que dobrou sua velocidade nos últimos anos. Entre 2019 e 2024, o aumento foi de cerca de 26 mm, contra uma média de menos de 2 mm ao ano no século XX. Desde o início do século passado, os oceanos subiram 22,8 cm — elevação suficiente para ampliar o impacto de tempestades e ameaçar ilhas e regiões costeiras.

“Tenho tendência a ser uma pessoa otimista”, comentou o principal autor do estudo, Piers Forster, da Universidade de Leeds. “Mas, se olharmos para a publicação deste ano, tudo está indo na direção errada.”

A poucos meses da COP30, que será realizada no Brasil, o cenário exige decisões políticas urgentes. Os pesquisadores alertam que ações governamentais contrárias à redução de emissões, como a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante o governo de Donald Trump, têm efeitos diretos e duradouros no clima global. “Qualquer mudança de trajetória ou de políticas públicas que aumente ou mantenha emissões que, de outro modo, seriam reduzidas, terá implicações sobre o clima e o nível de aquecimento nos próximos anos”, frisou Aurélien Ribes, do Centro Nacional de Pesquisas Meteorológicas da França.