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Mídia

A internet e a busca pela eternidade

A rede é assim. Se você não é profundo, culto e não cita os clássicos, você não presta

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A internet, como vocês podem atestar todo santo dia, exacerbou certos comportamentos que antes eram de nicho, e abafou outros. Na sua coluna de hoje n´O Globo, o Jabor usou uma frase que traduz tudo o que eu sempre pensei sobre o assunto e nunca conseguir compilar em algumas palavras: “O Brasil é um país onde ninguém escreve um bilhete sem buscar a eternidade”. Permita-me, Jabor, mudar o sentido da sua frase. Ouso dizer que na internet ninguém escreve um bilhete sem buscar a eternidade.

Quando eu era moleque existiam uns livros de primeira comunhão, que quando a criança terminava, os amigos iam lá escrever. Você não lia nem um “parabéns”, “felicidades” ou “estou muito feliz por você.” Eram somente frases profundas tiradas de algum livro de frases, pensamentos filosóficos ou letras de músicas. Todos que escreviam ali buscavam a eternidade com suas poucas palavras. A internet é assim. Se você não é profundo, culto e não cita os clássicos, você não presta. Na literatura vejo esta injustiça com o Mestre Luis Fernando Verissimo, que, por escrever principalmente crônicas, não tem lugar ao lado dos “clássicos” na voz da crítica. Por quê? Porque o Verissimo simplesmente escreve. Simplesmente e genialmente, ele não tenta buscar a eternidade. Ele escreve. Ao contrário das frases de filosofia de botequim de Guimarães Rosa, da poesia óbvia ululante redundantemente vomitada por intelecutalóides do Cario Fernando Abreu entre outros.

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Na internet, se você não cita Truffaut você não é cineasta, se não cita os franceses não é escritor, se não idolatra o Sebastião Salgado não é fotógrafo. Na internet é crime ser simples, é crime falar sobre o cotidiano, sobre o concreto, sem se buscar a eternidade através de frases falsamente rebuscadas e citações de autores que nunca lemos mas temos que citar para parecermos profundos. É incrível como escritores iniciantes se apegam a essa lenda de que para escrever tem que sofrer, e fazem textos que parecem que foram escritos com uma caneta banhada nas próprias vísceras. Incrível como eles precisam sofrer, se corroer, anular a própria vida em prol de uma “literatura” suja de sangue.

Ainda na sua coluna, Jabor cita uma frase do Nelson Rodrigues, que é um dos membros da minha Santa Tríade Literária, da qual volto a falar em outra oportunidade. Nelson o disse uma vez que “o problema da literatura nacional é que nenhum escritor sabe bater um escanteio”. Os escritores, em grande parte, estão muito ocupados sofrendo, fingindo que estão lendo os clássicos ou se encontrando para recitar frases feitas e poesias sem sentido que todos fingem que entendem. Eles não têm tempo para coisas mundanas, como futebol ou TV. Até porque, na vida de verdade, se você não conhece, você não cita. Já na internet, o Google não deixa faltar profundidade e referências a ninguém. E acreditem, é muito mais difícil fazer um retrato do cotidiano e do comum como o Nelson Rodrigues fazia do que escrever frases desconectas para parecer intelectual. Até porque, essas frases todo mundo vai fingir que conhece mesmo, e depois citar algum verso do Caio F. Abreu que ninguém entende, mas todo mundo cultua, afinal, algo tão profundo e sofrido não pode estar errado.

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