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“A maior parte dos congressistas não tem nenhum interesse em destituir Bolsonaro”, diz especialista ao Libération

“A maior parte dos congressistas não tem nenhum interesse em destituir Bolsonaro”, diz o pesquisador francês Frédéric Louaul sobre a possiblidade da CPI da Covid resultar em um porcesso de impeachment contra Jair Bolsonaro

“A maior parte dos congressistas não tem nenhum interesse em destituir Bolsonaro”, diz especialista ao Libération (Foto: Reprodução | Jefferson Rudy/Agência Senado)

RFI - A CPI da pandemia no Brasil pode enfraquecer politicamente o presidente Jair Bolsonaro, mas as chances de levá-lo a um impeachment são quase nulas. Essa é a opinião do pesquisador francês Frédéric Louault, vice-presidente do Observatório Político da América Latina e Caribe, em Paris, e professor na Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica.

O jornal Libération traz em destaque no seu site, nesta quarta-feira (28), uma entrevista com o especialista em Brasil. “A maior parte dos congressistas não tem nenhum interesse em destituir Bolsonaro”, diz Louault. 

A Comissão Parlamentar de Inquérito foi iniciada na terça-feira (27) para investigar eventuais omissões do governo Bolsonaro no combate à pandemia, explica Libération. Durante três meses, os senadores vão tentar esclarecer as falhas do presidente brasileiro na administração da pandemia. Para o o jornal, Bolsonaro “minimizou o perigo do vírus desde o início e atacou todas as restrições sanitárias, fazendo de seu país um dos mais abalados pela pandemia”. 

A CPI da pandemia foi uma iniciativa do senador de oposição Randolfe Rodrigues, durante a crise de Manaus. O STF teve de intervir diante da reticência do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, em iniciar a comissão, que foi finalmente instituída pelo Senado.

Onze senadores foram escolhidos para integrar a CPI. “Entre eles, há quatro próximos do presidente, dois opositores ferrenhos e cinco considerados independentes, mas que pendem para o lado da oposição. É uma composição que não favorece Bolsonaro e isso o preocupa”, explica Louault.

Dificilmente o resultado levará ao impeachment

O cientista político não acredita que a CPI possa resultar no afastamento de Bolsonaro. “A partir do relatório, alguns processos penais e um pedido de destituição podem ser abertos”, diz.

Louault lembra que cabe ao presidente da Câmara dos Deputados decidir sobre a abertura de um processo de impeachment pelo Congresso. No caso, já existem mais de 80 pedidos em curso, que certamente não serão acatados, “pois o presidente da Câmara dos Deputados é um próximo de Bolsonaro e ele o protege". 

Para uma destituição, Louault acredita que “seria necessária uma pressão política enorme sobre Rodrigo Pacheco, que o relatório fosse verdadeiramente desmoralizador, que a popularidade de Bolsonaro caísse bastante e que ele se visse completamente isolado”. 

Outros especialistas entrevistados pela RFI, como Glauco Peres da Silva, cientista social pela USP, também acreditam que a CPI vai, no máximo, desgastar a imagem do presidente, mas não a ponto de levar a um impeachment. 

Loualt pensa que Bolsonaro tentará usar a estratégia clássica de diluir sua responsabilidade, cobrando contas dos repasses aos Estados, por exemplo. Além disso, as chances de que o presidente compareça ao Senado são mínimas, já que não existe essa obrigação.

“Ele é muito eficaz nas redes sociais, mas não sabe se defender quando o ataque é direto”, afirma o cientista político francês.

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