Alma Preta lança manual de Redação antirracista
"A gente tentou produzir um material olhando para nós, enquanto sujeitos negros, mas sob uma perspectiva universal", afirmou Pedro Borges, editor-chefe da agência de notícias
247 - A Alma Preta lançou nesta quarta-feira (9) um manual de Redação antirracista, para auxiliar jornalistas e comunicadores na cobertura da temática racial no Brasil. O "Manual de Redação: o jornalismo antirracista a partir da experiência da Alma Preta" foi lançado durante evento na sede do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo. As informações foram publicadas nesta quinta-feira (10) na coluna Novo em Folha.
"A gente tentou produzir um material olhando para nós, enquanto sujeitos negros, mas sob uma perspectiva universal", afirmou o jornalista e editor-chefe da agência de notícias, Pedro Borges. "Um jornalista que quiser trabalhar para qualquer outro veículo ou canal, que tenha ou não um manual de Redação, pode olhar para o da Alma Preta e usá-lo como base", disse. "Óbvio que tudo isso a partir do nosso olhar. Todo manual de Redação carrega a perspectiva e a visão do canal de imprensa que o está produzindo, e naturalmente falar de Alma Preta é falar a partir de uma perspectiva antirracista", complementou.
Segundo Borges, O Outro Lado - princípio editorial que prevê a escuta de todos os envolvidos em determinado acontecimento - nem sempre é suficiente para equilibrar narrativas. "Ouvir os dois lados é uma coisa que jornalismo faz, mas muitas vezes as versões de um mesmo fato são incompatíveis. Uma família [que sofreu com uma chacina] pode dar uma versão, e a polícia dar outra completamente diferente", afirma.
"Em uma equipe de jornalistas comprometidos com o antirracismo, é importante que a gente priorize a versão desses familiares. A imprensa mais corporativa tem como tendência dar como prioridade a versão oficial. O jornalismo vai dizer que isso é objetividade, mas a objetividade já está posta na medida em que você checa os dois lados e faz a apuração. Nós, enquanto imprensa negra, deixamos isso explícito no nosso manual. Até porque não existe pena de morte no Brasil. Mesmo que uma pessoa estivesse envolvida com o crime organizado, ela não teria que ser julgada pelo policial naquele momento. Cabe a ele prender".
