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Biografia de Carlos Castelo Branco supre dívida com o jornalismo

Escrito pelo também jornalista Carlos Marchi, que com ele conviveu na redação do finado Jornal do Brasil, livro resgata a figura do colunista político ímpar, sem sucessores e substitutos; "Castellinho, como era chamado, atravessou duas ditaduras e curtos períodos democráticos exercendo o jornalismo em sua dimensão maior, como serviço público, informando o cidadão sobre os fatos e sobre o que eles significavam", diz trecho da resenha de Tereza Cruvinel; "Todo aquele imenso mar de liberdade", editado pela Record, será lançado em Brasília na noite desta terça-feira 14

Escrito pelo também jornalista Carlos Marchi, que com ele conviveu na redação do finado Jornal do Brasil, livro resgata a figura do colunista político ímpar, sem sucessores e substitutos; "Castellinho, como era chamado, atravessou duas ditaduras e curtos períodos democráticos exercendo o jornalismo em sua dimensão maior, como serviço público, informando o cidadão sobre os fatos e sobre o que eles significavam", diz trecho da resenha de Tereza Cruvinel; "Todo aquele imenso mar de liberdade", editado pela Record, será lançado em Brasília na noite desta terça-feira 14 (Foto: Gisele Federicce)
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Por Tereza Cruvinel

O Brasil pode não ser um país completamente sem memória mas é negligente com a história da imprensa e do jornalismo na construção da sociedade e da democracia que temos. Pouco foi escrito sobre o tema desde que, aqui chegando em 1808, D. João VI mandou desembarcar a gráfica que veio encaixotada no porão de um dos 14 navios que trouxeram a família real. O maquinário permitiu a implantação da Imprensa Régia e a impressão do primeiro jornal que circulou no Brasil, A Gazeta do Rio de Janeiro. Da fase pré-independência, as melhores notícias que temos devemos a Isabel Lustosa, em seu livro "Insultos impressos". Se pouca atenção nossa historiografia deu aos jornais, nenhuma deu aos jornalistas que neles se destacaram, com exceções como a de Machado de Assis, não por ter sido cronista mas pela genialidade da obra literária.

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A biografia de Carlos Castello Branco, escrita pelo também jornalista Carlos Marchi, que com ele conviveu na redação do finado Jornal do Brasil, supre esta nossa dívida resgatando a figura do colunista político ímpar, sem sucessores e substitutos. "Todo aquele imenso mar de liberdade", editado pela Record, será lançado em Brasília na noite desta terça-feira, 14/4, no bar e restaurante Carpe Diem.

Castellinho, como era chamado, atravessou duas ditaduras e curtos períodos democráticos exercendo o jornalismo em sua dimensão maior, como serviço público, informando o cidadão sobre os fatos e sobre o que eles significavam. Nunca deixou de criticar o autoritarismo e pedir democracia mas nunca se afastou dos fatos e da realidade. Jamais instrumentalizou o jornalismo. Mesmo no auge da censura, foi fiel ao ofício de informar, escrevendo com um estilo peculiar que lhe permitia dizer o proibido nas entrelinhas, para irritação dos militares de plantão.

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Como tantos outros jornalistas de minha geração, tive-o como mestre e numa condição muito especial. Evandro Carlos de Andrade, de saudosa memória, e Carlos Lemos, outros dois grandes nomes de um jornalismo que não se faz mais, fizeram-me colunista política de O Globo em 1986. Embora eu fosse uma boa repórter, tendo participado da cobertura dos grandes lances da transição (abertura, diretas, eleição de Tancredo e Constituinte), como colunista eu era uma foca diante do monstro sagrado do jornal concorrente. Escrevi a coluna "Panorama Político" durante 22 anos e quando a deixei Castello já havia morrido. Mas dele, nos primeiros tempos, recebi estímulos generosos e até graciosos, importantes para minha consolidação neste ofício de dores e delicias.

A democracia engatinhava e nem mesmo nós, jornalistas, sabíamos lidar com a liberdade que borbulhava, esta mesma que Marchi, com sua sensibilidade, evocou para dar título ao livro. Castello escrevia uma coluna inteira de análise e informação. Um tijolão, como diríamos mais tarde no jargão jornalístico. A minha era uma coluna de notas. Nos jantares e tertúlias políticas das noites de Brasília (num tempo em que as disputas do dia se dissipavam quando o sol se punha), eu ia lá beijar-lhe a mão. Metaforicamente. Beijava a Élvia, sempre simpática. Ele ali, rodando pedras de gelo no copo de uísque com o dedo indicador, mandava que eu sentasse um pouquinho. Eu sentava e mais ouvia que falava, embora ele perguntasse o que estava achando disso ou daquilo. Aprendia.

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Entre um encontro e outro, recebi dele alguns bilhetes manuscritos, que guardo com muito carinho. Não havia email, gente. Eram bilhetes mesmo, que o contínuo levava do edifício Denasa, onde ficava o JB, ao prédio do outro lado da rua, o Oscar Niemeyer, onde ficava a sucursal de O Globo. No primeiro, desejou boa sorte, em outros elogiou uma ou outra nota e num outro deu-me conselhos: eu devia, dizia ele, ir alongando a primeira nota da coluna, e nela tratar do assunto mais importante do dia. E devia ir agregando também minha visão das coisas, fazendo minha interpretação e minha análise. Eu tateava neste sentido e, com este estímulo, nele prossegui. Evandro deixou-me ir andando neste rumo, e a coluna acabou ganhando aquele formato final. A metade superior do corpo era ocupado pela análise, a metade de baixo por notas informativas.

Num jantar na casa de Thales Ramalho perguntei-lhe se, com texto tão limpo e estiloso, não pensara em ser romancista. Ah, claro que sim, mas o jornalismo "é como isso aqui", disse ele mexendo as pedras no copo de uísque. E mandou-me no dia seguinte um exemplar dedicado de "Arco de Triunfo", um novela que não fez sucesso. Havia escrito também um livro de contos.

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Não fomos amigos. Dele fui aprendiz e ele para mim foi um mestre generoso, que ensinava discretamente, sem ostentar o brilho e o talento que o distinguiram e o tornaram insubstituível.

Quem saberá, entre os jovens, quem foi Castellinho? Quem saberá que, naqueles tempos difíceis, quem se interessava pelos rumos do pais em sua noite escura, começavam o dia lendo sua coluna? Acredito que poucos. Com esta biografia, que ainda não li mas de cuja qualidade não duvido, por conhecer o autor e seu talento profissional, Carlos Marchi faz justiça à memória de Castello e presta um serviço à História.

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