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Bloomberg: discursos de Bolsonaro são fagulhas com que os fazendeiros queimam a Amazônia

A agência de notícias Bloomberg publicou artigo em que aponta como o discurso de Jair Bolsonaro insufla a ação de fazendeiros que se sentem autorizados a fazer o desmatamento com fogo na Floresta Amazônica

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Da Bloomberg, com tradução de Regina Aquino - Uma hora de estrada poeirenta abaixo, a partir da cidade brasileira de Porto Velho, Irany Paradela usa um frágil ancinho para limpar um terreno carbonizado. O fogo que ela e seu marido tocaram na vegetação “se tornou uma besta real”, disse a proprietária de 48 anos de idade. “ Nós não conseguimos apagá-lo”.

O tamanho pode não ter sido intencional mas não era inteiramente indesejável. “ Algumas vezes você precisa tocar fogo”, disse Paradela. “ Quem tem máquinas para limpar a terra?”

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A Amazônia está se queimando por semanas e muitos incêndios, em um dos mais devastados estados do Brasil, Rondônia, foram provocados por pequenos fazendeiros como Paradela, os quais ganham precariamente sua subsistência, as margens da floresta, com uma agricultura do tipo cortar-e-queimar. Isolados e independentes eles estão imunes as pressões de Brasília e para além dela. E o endosso explícito do Presidente Jair Bolsonaro os encoraja a queimar mais do que eles tem feito, em anos.

Nos primeiros oito meses de 2019, o Brasil teve quase 94.000 focos de incêndio, o maior desde 2010. Mais da metade ocorreu no bioma da Amazônia, um viveiro de biodiversidade cuja preservação é essencial para controlar as mudanças climáticas.

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Bolsonaro tem dito que o desenvolvimento da economia local tem preferência sobre os interesse globais. Não importa a onda de indignação dos ambientalistas nas esquinas ricas do Rio de Janeiro e São Paulo – sem mencionar França e EUA – Bolsonaro acredita que ele tem o apoio da região e o suporte tácito de muitos conterrâneos.

Como a Floresta Amazônica depende de um poucos Governos instáveis: um resumo.

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“Ele está nos defendendo” disse Valéria Souza, uma secretaria de serraria de 27 anos de idade na empoeirada cidade de Vila Samuel. Giovani Rabel, que aluga equipamentos pesados na região, recordou seus gritos de alegria quando votou em Bolsonaro. O homem de 44 anos de idade se regozija com um governo que celebra o trabalho cruel de desenvolvimento da maior floresta tropical do mundo.

Boa parte da Amazônia foi colonizada durante o regime ditatorial militar ocorrido entre 1964 e 1985. Sob o mote “uma terra sem homens para homens sem terra”, meeiros eram encorajados a se aventurar em estados a noroeste do país, como o de Rondônia, aonde eles teriam que tornar os terrenos produtivos para ganhar os títulos de posse. Ainda hoje, por volta de 80% das propriedade em Rondônia são menores que 100 hectares (250 acres), de acordo com Moises Fernandes, um consultor ambientalista e agrônomo cujos pais migraram para a Amazônia vindos do Sul do Brasil.

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“A colonização foi feita com motosserra, fogo e casco de vaca,“ele disse em uma entrevista em Porto Velho, a capital de Rondônia.

Hoje o governo proporciona a estes pequenos proprietários quase nada em subsídios, créditos, assistência técnica, tecnologia ou equipamento, ele conta.

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“Incêndios são um tipo de desespero,” disse Luis Novoa, um professor da Universidade Federal de Rondônia que coordena um grupo de pesquisa nos territórios da Amazônia. Os fazendeiros vivem a tentativa de “ ganhar a vida ou se tornar rico - a miragem de vir para a Amazônia e ficar rico”.

Governos brasileiros anteriores direcionaram bilhões de reais para o setor agrícola como forma de conter as fronteiras da floresta aos espaços já livres para cultivo de soja e pasto para o gado. Mas também, fortaleceram as regulações ambientais e demarcações de áreas para conservação. Essas iniciativas preservaram essencialmente a floresta tropical, deixando muitos pioneiros se sentindo despossuídos e desamparados.

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Bolsonaro não tem tentado manter esse equilíbrio, ao contrário ressuscita a visão da era ditatorial de abertura da áreas de proteção da Amazônia para o desenvolvimento. Ele defende os fazendeiros, ao dizer que não se pode ganhar a vida honestamente diante de restrições ambientais repressivas.

Uma pesquisa de opinião do Datafolha publicada no domingo mostra que a maioria dos Brasileiros desaprova as políticas do presidente para a Amazônia. Em particular, no entanto, Bolsonaro tem grau de aprovação ligeiramente mais alto no Norte, aonde está a Amazônia.

Os governadores da região organizaram uma reunião de emergência, na semana passada, para discutir sobre os incêndios. Alguns questionam o estilo de Bolsonaro mas nenhum se opõe a sua decisão de priorizar o desenvolvimento econômico.

“Existem pessoas necessitadas nesse estados”, disse o governador de Rondônia, Marcos Rocha. “ Nós temos tido presidentes que sempre se preocuparam com a preservação ambiental. Agora temos um presidente que se preocupa com as pessoas.”

No interior da região, as comunidades indígenas estão sofrendo a pressão maior dos planos de desenvolvimento de Bolsonaro.

Invasões de potenciais fazendeiros tem se tornado mais frequentes desde 2015, de acordo com Adriano Karipuna, um líder e porta-voz indígena em Porto Velho, mas eles tem se intensificado desde que o povo passou a acreditar que Bolsonaro ganharia a eleição do ano passado.

Invasores de terras queimaram a guarita de segurança localizada nos arredores do território Karipuna - o líder carrega o nome de sua tribo - e ocuparam a única estrada para a vila deles.

“Bolsonaro está se aproveitando de um desejo que está em suas mentes há muito tempo”, ele disse.

A retórica renovada de expansão tem desencadeado um desejo reprimido de confrontar a legislação, disse Tatiana Versiani, uma promotora pública de equipe da Força Tarefa na Amazônia, que lida com crimes ambientais. Ela fala, entre acessos de tosse, numa entrevista no escritório em Rondônia : a fumaça foi tão intensa que ela contraiu pneumonia.

A legislação do Brasil está entre as mais rigorosas do mundo mas sua execução é uma trabalho de Sísifo nesta enorme e inacessível região. Alguns grandes fazendeiros queimam e desmatam mas aqueles que exportam não podem arriscar sua reputação e mercados, disse Novoa. Ainda que se beneficiem, no longo prazo, comprando dos pequenos proprietários que limpam seus terrenos com fogo.

Para André Lino Dias de Carvalho, de 69 anos, um pequeno fazendeiro em Rondônia, a ameaça de sanções pelas agências ambientais é ridícula. Dois anos atrás ele e sua esposa compraram 100 hectares de floresta densa, e ele convidou madeireiros para remover dúzias de caminhões carregados de madeira. Então, ele ateou fogo nos arbustos, ele conta isso enquanto passeia pela propriedade, se balançando sobre os troncos de árvore queimados.

“Quando Deus expulsou o homem do Eden, ele disse, ‘Tu deverás descer a terra, tu deverás cultivar a terra e com o suor de seu rosto produzirás o pão nosso de cada dia”’, disse Lino. “ Como você vai colher se você não tem lugar para plantar?”

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