Braço direito de Frias: Lula fez “trabalho sujo” ao pedir votos para Dilma
Editor do programa TV Folha usa mão pesada para comentar estreia do horário eleitoral gratuito; todos os defeitos atirados sobre o ex-presidente Lula, Dilma e o PT; tucano Aécio Neves, para Fernando Canzian, "fez o óbvio, ao dizer que o Brasil piorou com Dilma Rousseff"; mas a Lula, para o colunista, "coube o trabalho sujo"; entenda-se, por isso, pedir votos para Dilma e informar que uma crise global está em curso; "a peça petista se esforçou por humanizar Dilma: ela sabe cozinhar, passeia com o cachorro e fala errado", ironizou ele
247 – O pessoal está nervoso. Numa crítica à estreia do horário eleitoral gratuito que, como o nome diz, é eleitoral e também pode ser chamado de propaganda política, um dos homens de maior confiança do empresário Otavio Frias Filho, do Grupo Folha, baixou a sapata sobre o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e todo o programa do PT por terem feito... propaganda eleitoral!
A escolha do alvo é típica da política editorial da casa em que Fernando Canzian, colunista do jornal Folha de S. Paulo e editor do programa TV Folha, atua. Mas os termos usados, abaixo do desfoque de compreensão sobre o que é, repita-se, um horário eleitoral partidário, é emblemático do nível atual do debate.
Para Canzian, ao pedir votos na propaganda política, ao ex-presidente Lula "coube o trabalho sujo" de inserir na análise da situação econômica do Brasil "uma crise internacional de seis atrás" – e que, ao que se entende, não chegaria à atualidade. É isso?
Lula também teve de "suplicar votos para a sua criatura", referindo-se à presidente Dilma Rousseff. "A peça petista também se esforçou em humanizar Dilma: ela sabe cozinhar, passeia com o cachorro e fala errado". O certo para uma propaganda eleitoral teria sido atacar Dilma? Fazer uma anti-propaganda?
Criando talvez um novo padrão de equilíbrio a ser inserido no sempre mutável Manual de Redação da Folha, o colunista registrou, sobre o programa de Aécio Neves, do PSDB, que ele "fez o óbvio, ao dizer que o Brasil piorou com Dilma".
Abaixo, a íntegra do artigo veiculado hoje no site do jornal Folha de S. Paulo:
A Lula, o trabalho sujo
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
A julgar pelo conjunto do programa eleitoral gratuito na TV para presidente que estreou nesta terça-feira (19), o Brasil não vai nada bem desde que Lula saiu. Mesmo na versão oficial.
Enquanto Aécio Neves (PSDB) fez o óbvio, ao dizer que "o Brasil piorou" com Dilma Rousseff (PT), a presidente se apoiou largamente nos feitos de Lula para pedir mais quatro anos.
O próprio Lula teve de suplicar outra chance para sua criatura, logo na sequência de uma lista de problemas apresentados por Aécio: volta da inflação, baixo crescimento e, agora, diminuição no ritmo de criação de empregos. "O segundo mandato é sempre melhor que o primeiro", disse Lula. Em umasegunda chance, frisou, haverá mais "segurança e apoio" para governar.
Dilma fundiu seus quatro anos aos oito de Lula para citar números graúdos: 36 milhões saindo da miséria e 42 milhões ascendendo à classe C.
A Lula, que entregou o Brasil a Dilma com crescimento de 7,5%, o maior em 25 anos, coube o trabalho sujo. Além de pedir outra chance, o petista usou uma crise internacional de seis anos atrás para justificar o fato de o Brasil estar crescendo menos de 1% neste ano, com inflação ao redor de 6,5%.
Na propaganda, não interessa o fato de vários outros emergentes terem voltado a avançar rapidamente. A peça petista também se esforçou em humanizar Dilma: ela sabe cozinhar, passeia com o cachorro e fala errado.
"O 'cê' vê que melhorou", disse Dilma quando apresentadas imagens entregando diplomas de cursos e chaves para clientes do Minha Casa, Minha Vida.
Como não podia deixar de ser, Eduardo Campos, morto na semana passada, acabou aparecendo nas peças de PT e PSDB. Para Aécio, era um "amigo". Para Lula, "um filho".
A propaganda do PSB, partido de Campos, foi inteira em homenagem ao candidato morto. Com Marina Silva, a substituta, aparecendo só discretamente.
