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Mídia

Demori ao 247: em um país desenvolvido, Moro e Dallagnol já teriam perdido seus cargos

Em entrevista ao 247, de Recife, o jornalista Leandro Demori, editor do Intercept, afirma que, se o sistema no Brasil funcionasse, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol também já "estariam respondendo a processos criminais gravíssimos por coisas absurdas que fizeram durante a Lava Jato". Ele também disse que Moro e Jair Bolsonaro estimulam ameaças a jornalistas e destaca que esse discurso de ódio "tem reflexo na sociedade"

Jornalista Leandro Demori, do Intercept (Foto: Divulgação / Agência Brasil)
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Leonardo Lucena, 247 (Recife) – Dois mil e dezenove. Ano em que a população brasileira passa a ter acesso pela imprensa a diálogos entre um juiz e procuradores do Ministério Público Federal que revelaram a violação de leis por quem deveriam guardá-las. Nascido na Itália, o filósofo Nicolau Maquiavel (1469-127), às vezes mal interpretado como supostamente defensor de uma ditadura, fazia um alerta que ainda se reflete nos dias atuais: “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. Após uma palestra em Recife (PE) nesta quinta-feira 3, o jornalista Leandro Demori, um dos editores do site The Intercept Brasil recebeu o 247 para uma rápida entrevista. E pôs o dedo na ferida: “em qualquer país minimamente desenvolvido, eles (Sérgio Moro e Deltan Dallagnol) estariam fora dos cargos e eventualmente respondendo a processos criminais gravíssimos por coisas absurdas que fizeram durante a Lava Jato”, afirma.

“Ironicamente, eles estão sendo protegidos pelo que o Brasil tem de mais pobre, um sistema institucional que não funciona. Se funcionasse, eles estariam em outro lugar que não fosse o ministério da Justiça e o Ministério Público Federal”, critica.

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De acordo com a série de reportagens que vem sendo publicadas pelo Intercept desde 9 de junho, o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, usava o cargo de juiz da Lava Jato em primeira instância para interferir no trabalho de procuradores do da força-tarefa da Lava Jato, no MP-PR, o que fere a equidistância entre quem julga e quem acusa. Ficou mais do que comprovado que o magistrado e outros membros do Judiciário do Paraná extrapolaram suas funções.

Uma conversa de 28 de abril de 2016, por exemplo, mostra que Moro orientou procuradores, coordenados por Dallagnol, o acréscimo de informações na denúncia contra um réu - Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a Petrobrás. No diálogo, o procurador avisa a procuradora Laura Tessler que o então juiz o havia alertado sobre a falta de uma informação na acusação.

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“Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e d tempo. Só é bom avisar ele”, diz ele, de acordo com reportagem publicada pelo Intercept em parceria com Veja (leia mais).

Na entrevista, Demori trata com naturalidade críticas ao Intercept com o argumento de que os jornalistas do veículo publicam reportagens com diálogos obtidos ilegalmente.

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“Tem muita gente que tem menos elementos para compreender, ou ignorância ou má-fé. Acreditou que a Lava Jato salvaria o Brasil e agora se vê obrigada a se considerar enganada. Ninguém gosta de dizer que foi enganado. Tem muita gente que já admitiu. O [cineasta] José Padilha, por exemplo. É natural, há reações de querer desacreditar (o trabalho do Intercept)”, afirma o jornalista.

Outra matéria, publicada em 26 de julho deste ano, apontou que Dallagnol participou de um evento secreto com representantes de bancos e investidores mais influentes do Brasil e do exterior. O encontro foi organizado pela XP Investimentos em junho de 2018. O procurador também usava a Lava jato para lucrar com palestras e chegou a discutir estratégias de marketing com a operação, num claro sinal de alçar voos maiores à custa da falta de transparência pública (relembre).

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Uma empresa investigada na Lava Jato, a Neomay, chegou a pagar R$ 33 mil a Dallagnol. A companhia de tecnologia havia sido mencionada em delação premiada (veja aqui).

Cobertura jornalística 

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Ao comentar as apurações sobre as irregularidades da Lava Jato, Demori destaca a necessidade de equilibrar as conversas entre jornalistas e fontes. De acordo com ele, é preciso ouvir mais as vítimas das ilegalidades.

“Jornalismo tem uma tendência a cobrir histórias a partir do poder. As histórias sobre crimes, por exemplo, começam a ser contadas a partir do delegado, a história de corrupção política é contada a partir do promotor, do juiz. O outro lado vira sempre o lado mais fraco, o vagabundo, o bandido, a p*, o que merece morrer”, continua. “A grande dificuldade de fazer jornalismo de forma diferente é cobrir de baixo para cima, ter como ponto de partida o lado mais fraco. O jornalismo é para fazer com que os poderosos andem na linha, respeitem a Constituição, não cometam abuso de poder. Toda pessoa com muito poder e pouco controle tende a cometer abusos”, complementa. 

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O jornalista conta sobre ameaças. “A gente recebe ameaças há muito tempo. Depois da Lava Jato isso aumentou. Tomamos as devidas precauções. Somos privilegiados, apesar da coisa terrível de viver com proteção, escolta, mas o grande problema são as pessoas que moram no interior, em pequenos jornais, rádios comunitárias, que não têm a proteção que nós temos. O Brasil é um dos países que mais matam jornalistas, mas quem morre são os do interior, que ninguém está vendo, que ninguém se importa”, acrescenta. 

Um levantamento da Press Emblem Campaign, Organização Não Governamental com sede em Genebra, apontou o Brasil como a quarta nação em números de jornalistas mortos de janeiro e junho. Foram duas mortes, dividindo a mesma posição com a Colômbia. Segundo um relatório divulgado em abril pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), 64 jornalistas e comunicadores foram assassinados no Brasil por causa da profissão entre 1995 e 2018. Segundo o jornalista, o trabalho de jornalistas no Brasil “é pior quando você tem um governo que vê a imprensa como inimiga do povo”.

“O aumento de assassinatos contra jornalistas, esse sangue está diretamente nas mãos de quem está no poder, nas mãos de Bolsonaro, de Moro. Eles dizem que nós, do Intercept, somos aliados de hackers criminosos. Ele está dizendo para a população é que somos pessoas a serem eliminadas, somos nós os vagabundos, as pessoas a serem presas, assassinadas. Esse discurso não pode sair impune”, afirma Demori.

“Eles passam a mensagem do tipo: ‘olha, essas são as pessoas a serem eliminadas, não vou fazer isso, mas se alguém aí embaixo quiser fazer, não tem problema algum. A responsabilidade não é mais minha’. Eles precisam botar a mão na consciência e entender que o que eles falam não é só disputa com mesinha política para se protegerem. Tem reflexo na sociedade, que é gente sendo assassinada”.

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