Eliane: ‘encontro de Dilma com Papa só valeu pela foto’
Colunista da Folha diz que Dilma Rousseff perdeu a chance de aparecer bem ao lado do Papa Francisco, no Rio de Janeiro, desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27: “Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida”
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247 – A colunista da Folha Eliane Cantanhêde diz que a presidente Dilma Rousseff perdeu a chance deaparecer bem ao lado do Papa Francisco, no Rio de Janeiro, desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27.
Leia o artigo:
Discurso errado na hora errada
BRASÍLIA - O encontro com o papa Francisco no Rio foi a grande chance de Dilma Rousseff aparecer bem desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27. No mínimo, ela ganhou uma excelente foto, num dia em que as pessoas foram às ruas felizes por receber o papa --e não só para reclamar.
Nesse momento de profunda descrença nos partidos e muita crença na chegada de um papa que simboliza ruptura e humildade, o contraste só pode ter sido proposital: com o mesmo voluntarismo de sempre, Dilma não foi à reunião do diretório do PT por um motivo pueril, numa clara provocação, e foi ao papa com um discurso político e fora de lugar.
Digamos que Francisco foi Francisco, Dilma foi Dilma. Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida.
Enquanto a fala do papa foi essencialmente religiosa e despojada, num português agradável e cheia de adjetivos gentis para o Brasil e para os jovens, Dilma recorreu a todos os chavões lulistas, enalteceu as mudanças "que inauguramos dez anos atrás" e amplificou a versão de Lula no "New York Times", definindo as manifestações que atingiram em cheio seus índices nas pesquisas não como a derrota que foi, mas como uma vitória sua e de Lula.
No discurso da presidente, pulularam autoelogios ao Brasil e à era petista, além de chavões de palanque: direitos, justiça social, solidariedade, fome, desigualdade, ética, transparência. Eis a dúvida: para quem Dilma estava falando? Para o papa ou para o eleitor?
Para o milhão e meio da Jornada Mundial da Juventude ou para o milhão e meio de pessoas nas ruas exigindo dignidade, fim da corrupção, serviços decentes?
Valeu pela foto, não pela fala.
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