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    Gaspari: o monstro saiu de novo da caverna

    Colunista da Folha diz que a assombração da opinião pública, que carregou o ex-presidente Juscelino Kubitschek e depois pôs Fernando Collor para fora do Planalto, agora persegue do governo Dilma, ao de Alckmin e Haddad em São Paulo, passando até pela Fifa 

    Gaspari: o monstro saiu de novo da caverna
    Roberta Namour avatar
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    247 – A opinião pública, que acabou com a Ditadura Militar no Brasil e depois derrubou o então presidente Fernando Collor, ataca novamente. É o que diz Elio Gaspari, colunista da Folha:

    O monstro foi para a rua

    JK percebeu quando ele saiu da caverna, o mesmo que depois pôs Fernando Collor para fora do Planalto

    Em dezembro de 1974, a oposição havia derrotado a ditadura nas urnas, elegendo 16 dos 21 senadores, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava num almoço quando lhe perguntaram o que acontecia no Brasil.

    -- O que vai acontecer, não sei. Soltaram o monstro. Ele está em todos os lugares.

    Abaixou-se, como se procurasse alguma coisa embaixo da mesa e prosseguiu:

    -- Ele está em todos os lugares, aqui, ali, onde você imaginar.

    -- Que monstro?

    -- A opinião pública.

    Dois anos depois JK morreu num acidente de automóvel e o monstro levou-o no ombros ao avião que o levaria a Brasília. Lá ocorreu a maior manifestação popular desde a deposição de João Goulart.

    Em 1984 o general Ernesto Geisel estava diante de uma fotografia da multidão que fora à Candelária para o comício das Diretas Já.

    -- Eu me rendo --disse o ex-presidente, adversário até a morte de eleições diretas em qualquer país, em qualquer época.

    Demorou uma década, mas o monstro prevaleceu. O oposicionista Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral e a ditadura finou-se.

    O monstro voltou. O mesmo que pôs Fernando Collor para fora do Planalto.

    No melhor momento de seu magnífico "Pós Guerra", o historiador Tony Judt escreveu que "os anos 60 foram a grande Era da Teoria".

    Havia teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013 desencadeie uma produção de teorias para explicar o que está acontecendo. Jogo jogado. Contudo, seria útil recapitular o que já aconteceu. Afinal, o que aconteceu, aconteceu, e o que está acontecendo, não se pode saber o que seja.

    Aqui vão sete coisas que aconteceram nos últimos dez dias:

    1) O prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e foram para Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram de ideia.

    2) Geraldo Alckmin defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira passada. Mudou de ideia e pacificou sua PM.

    3) O comandante da PM disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada. Quem estava na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia não viu isso.

    4) Dilma Rousseff foi vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove passagens de ônibus a R$ 3,20).

    5) O cartola Joseph Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida em ladroeiras, achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará mais de R$ 7 bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2 bilhão.)

    6) A repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m² do hotel Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se reservadas e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)

    7) A cabala para diluir as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem mandados para o presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias Toffoli, do STF, disse que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para ir a julgamento.

    Para completar uma lista de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

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