Hélio de La Peña: sofremos pressão na Globo

Do blog Propagando - Humorista, ator, cineasta e ainda encontra tempo para ser maratonista. O cinquentão é rápido no gatilho, ele não tem papas na língua e faz chacota até de coisas sérias. O "Casseta Sueco" Hélio de La Peña conversou com exclusividade com o Propagando neste sábado (13). Confira abaixo:

PPGDO – Quem primeiro falou: "Porra, vamos criar um jornalzinho (Casseta Popular) , pra quebrar o gelo da faculdade de engenharia na UFRJ?"

LAPEÑA: Eu, Beto Silva e Madureira (Marcelo) estudávamos juntos na Engenharia UFRJ, atuávamos no movimento estudantil. Estávamos cansados do mau humor das lideranças estudantis. Resolvemos fazer um jornal nada sério para, entre outras coisas, zoar aqueles caras. Não sei se a ideia partiu do Beto ou do Madureira, de mim não foi, nunca tinha feito jornalzinho no colégio.

PPGDO - O Madureira disse numa entrevista que "o sentido da vida é comer alguém" e "Obliteraram o Casseta e Planeta da memória da TV brasileira". Você concorda com ele?

LAPEÑA: Concordo que "o sentido da vida é comer alguém". Alguns querem comer o maior número possível, outros querem comer uma ou poucas, cada vez melhor. A segunda afirmação exigiria uma discussão mais aprofundada. Me incomoda a dificuldade que nosso público tem para rever nosso material. São 20 anos de esquetes, viagens, paródias e tudo que conseguimos é replicar os quadros que os fãs postaram no youtube. Deveria ter um canal oficial que mostrasse nossa obra.

PPGDO - O "Casseta e Planeta" foi o grupo de humor mais influente do Brasil. E muitos humoristas atuais fizeram escola assistindo-o na TV. Por que o programa saiu da grade da Globo?

LAPEÑA: Sofremos uma pressão para nos distanciar do conteúdo que gostávamos de fazer, no qual o público identificava nosso DNA. Pressões internas na emissora e externas, de gente do governo petista que se levava muito a sério e não admitia brincadeiras. Fizemos sucesso com paródias da programação, mas não podíamos zoar atrações de outros canais. Além de uma paranoia quanto ao que a família brasileira gostaria ou não de assistir. Quando o humor é levado muito a sério, o público sai perdendo. A consequência foi um desgaste do conteúdo. Por outro lado, foram 20 anos liderando nosso horário. Não houve uma temporada sequer que tenhamos sido superados pela concorrência. É uma história de que muito me orgulho.

PPGDO: Alguns de seus companheiros do "Casseta" são ativistas políticos fervorosos. Você também se considera um?

LAPEÑA: Acho que você está se referindo ao Madureira (Marcelo). Não é o meu caso, embora não me furte a me posicionar quando acho necessário. Mas não me vejo obrigado a isso.

PPGDO - Se o Bussunda tivesse vivo, o "Casseta e Planeta" (programa na TV) teria acabado?

LAPEÑA: Se...se....se... complicado. Pergunte a um vidente. Ele estava vivo quando começamos a sentir as pressões de que falei. Ainda assim, tivemos índices de audiência bastante significativos depois de sua morte. Ele morreu em 2006, o programa foi até 2010, depois ainda tivemos duas temporadas do "Casseta & Planeta Vai Fundo" em 2012.

PPGDO: Se a Globo não quis renovar. Por que não procuraram outra emissora?

LAPEÑA: Éramos garotos quando tudo começou, o tempo passou, as relações internas também se desgastaram. As coisas não são mais as mesmas. Hoje, cada um escreve seu caminho, eventualmente parte do grupo se junta em torno de um projeto comum. Vou fazer uma novela, estou na redação de um outro programa que está para ser lançado, trabalhamos em projetos esportivos no Sportv. Além disso, cada um toca seus projetos pessoais.Tudo certo!

PPGDO - Pra você o Brasil está uma droga? Como é a sua relação com as drogas?

LAPEÑA: Brasil tá caído. Criou-se uma ilusão grande. Inventou-se uma classe média através do consumo. O sujeito comprou uma tevê de tela plana, mas continuou convivendo com vala negra na sua porta. Isso é classe média. Quanto às drogas, sou favorável a liberação das drogas leves para tirar o consumidor do contato direto com traficantes. Acho que morre-se muito mais de combate às drogas, nos tiroteios, do que de overdose. Nesse caso, caberia ao governo uma intensa campanha de conscientização dos males que as drogas proporcionam. As bebidas e o cigarro, por exemplo, são comercializados legalmente e o consumo é desestimulado por campanhas. Acho o melhor caminho.

PPGDO - Quem dos "Cassetas" zuava mais com o "nosso sueco"? Você já sofreu bullying?

LAPEÑA: A zoação corre solta ali, ninguém tem problemas por isso. Não me lembro de ter chegado em casa chorando porque alguém me sacaneou... Sempre resolvi meus perrengues.

PPGDO - Além do seu show de stand up comedy, quais os planos pro futuro?

LAPEÑA: Vou estrear na (próxima) novela das sete, Totalmente Demais, em novembro, estou na redação de um novo programa que em breve vocês vão saber qual. Tô produzindo o filme "Correndo Atrás", comédia com Lázaro Ramos, Heloísa Périssé. Jeferson De ( "Bróder") é o diretor. Estamos em fase de captação. Se tiverem empresas para indicar... (Risos).

PPGDO - O "Casseta e Planeta" tem um site, os integrantes blogs, vocês colocam tudo o que fazem lá. Por que não fazem um canal de humor no youtube, como muitos humoristas hoje em dia? O grupo ainda tem planos de voltar a TV aberta?

LAPEÑA: É uma ideia. Nosso contrato não permitia isso, mas agora é uma possibilidade. Quanto a voltar à tevê aberta enquanto grupo, é uma ideia mais distante. Mais fácil nos juntarmos ao Reinaldo na sua banda de jazz ( Risos).

O Blog Propagando agradece a sua participação La Peña, comemorando conosco nesse dia tão especial e lhe deseja sucesso nos seus novos projetos. Valeu irmão! #tamoJunto

PLANTÃO PROPAGANDO INFORMA:

O "Casseta" Cláudio Manoel divulgou uma nota com volta do "Casseta & Planeta" para a televisão ainda este ano, no sábado às 3h da manhã, conforme matéria no site do UOL.