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Le Monde destaca ameaça de Bolsonaro ao Inpe

Jornal francês destacou os ataques de Bolsonaro ao Inpe e falou em "dramática progressão do desmatamento na Amazônia"; Leia

(Foto: Marcos Corrêa - PR)
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247 - O jornal francês Le Monde destacou os ataques do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Bolsonaro chegou a dizer que os dados do Inpe que mostram o aumento do desmatamento da Amazônia poderia prejudicar a imagem do Brasil.

Leia, abaixo, a íntegra da matéria do Le Monde, com tradução de Sylvie Giraud:

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Contrariado   pelas   estatísticas   de   desmatamento,   Jair   Bolsonaroameaça o instituto que as divulga.

O   diretor   do   órgão   público   brasileiro   encarregado   de   medir   o desmatamento acusa de "covardia" o presidente de extrema-direita.

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Por Claire Gatinois

Inicialmente, ele criticou o portador da má notícia, suspeito de trabalharsecretamente para alguma obscura ONG ambientalista. Depois atacou oconteúdo da notícia, tão "alarmista" que poderia vir a   prejudicar a [imagem] do país. Em quarenta e oito horas, o chefe de Estado brasileiroJair Bolsonaro lançou a ofensiva contra o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) e seu diretor, Ricardo Galvão, que   informammensalmente a dramática progressão do desmatamento na Amazônia.

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Na segunda-feira, 22 de julho, fazendo prova de uma ingenuidade quechega a surpreender, o presidente confessou "não querer ser pego   desurpresa" por informações que ele considera "exageradas" capazes deprejudicar importantes   negociações   comerciais. Em junho, no G20   deOsaka, no Japão, Alemanha e França tinham posto como condição préviapara a assinatura do acordo de livre comércio entre os países do Mercosul(Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) e a União Europeia, a capacidadedo Brasil em respeitar os acordos climáticos nos quais se engajara.

Alarmante, as estatísticas o são. Em maio, o INPE registrava   739 quilômetros quadrados de desmatamento, o equivalente a dois campos defutebol desmatados a cada minuto. Em junho, o número chegou a 920quilômetros quadrados, um aumento de 88% em relação ao mesmo mês em 2018. Essa evolução dramática deve manter-se   em   julho, com dados preliminares apontando para um aumento do desmatamento próximo a 70%.

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Números "mentirosos"

Estes dados, obtidos a partir de imagens de satélite, desagradam o líder de direita, que os qualificou perante a imprensa internacional na sexta-feira dia 19 de julho, como "mentirosos". Prometendo convocar o diretor da agência estatal para que ele se justifique, o presidente disse ter a "convicção" de que esses dados são tendenciosos. "Se somássemos o desmatamento anunciadonos últimos dez anos, a Amazônia já teria desaparecido. Eu entendo a necessidade de preservá-la mas não vou deixar mais que a psicoseambiental persista", afirmou o presidente brasileiro.

Mas, Ricardo Galvão, diretor do instituto, não recua. "Não vou apresentar minha demissão", disse ele na segunda-feira, descrevendo a atitude do Presidente como "pusilânime", "covarde" e suas observações dignas de uma conversa de bar da esquina. "Os dados sobre desmatamento na Amazônia, começam a ser elaborados pelo INPE em meados da década de1970. Desde 1988, temos a maior série histórica de dados sobre desmatamento de florestas tropicais, uma série respeitada no mundo inteiro." insistiu o chefe do INPE.

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Jair Bolsonaro nunca escondeu o pouco caso que faz do meio ambiente. Aos seus olhos, como aos do seu governo, a Amazônia é, acima de tudo, uma terra de riquezas minerais que o Brasil tem o direito de explorar, enquanto que as reservas indígenas  são vistas como um obstáculo ao desenvolvimento econômico da região. "A Amazônia é nossa", repete ele com frequência e desenvoltura, prometendo legalizar a extração de ouro que polui os rios de mercúrio e dizima gradualmente as populações indígenas.

"As biociências estão em perigo"

O fato é que, ao desqualificar as estatísticas do INPE apresentando-as como "notícias falsas", o presidente deixa de confrontar-se apenas com as ONGs ambientais que suspeita servir aos interesses estrangeiros, mas entra em colisão direta com  a comunidade científica brasileira. "Estamos   muito preocupados. A ciência não tem nada a ver com um combate de ideologia política. A metodologia do INPE é transparente e   reconhecida internacionalmente. Negar esses dados é trágico para a Amazônia e o clima, mas também para a biodiversidade brasileira, que é um verdadeiro tesouro nacional. As biociências estão em perigo", disse Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

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Indignada com as tendências obscurantistas de Jair Bolsonaro, a Academia, representando uma comunidade de mais de 500 cientistas, enviou recentemente uma carta ao Presidente, onde diz: "Os ataques ao INPE são também uma afronta à comunidade de pesquisadores no Brasil e à soberania nacional". Outra nota, da  Sociedade Brasileira para o Progresso e a Ciência (SBPC), é ainda mais contundente "as críticas infundadas a uma instituição científica, ativa há quase 60 anos, respeitadano país e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e prejudiciais ao conhecimento científico".

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