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Mídia

New York Times: como o YouTube radicalizou o Brasil

Reportagem do jornal The New York Times mostra como o mecanismo de de recomendações de vídeos do YouTube ajudou a fortalecer grupos de extrema-direita no Brasil, que levaram Jair Bolsonaro ao poder no Brasil

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Max Fisher e Amanda Taub, com tradução para o 247 de Ricardo Silveira:

NITERÓI, Brasil – Quando Matheus Dominguez tinha 16 anos de idade, o YouTube lhe recomendou um vídeo que mudou a sua vida.

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Ele tocava numa banda em Niterói, uma cidade praiana no estado do Rio de Janeiro, e praticava o violão assistindo tutoriais na internet.

O YouTube tinha acabado de instalar um poderoso sistema de inteligência artificial que aprendia a partir do comportamento do usuário e pareava vídeos com recomendações para outros. Um belo dia, o sistema o direcionou para um professor de violão chamado Nando Moura, que tinha conseguido muitos seguidores postando vídeos sobre heavy metal, vídeo games e, acima de tudo, política.

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Numa animada lenga-lenga de extrema direita paranoica, o tal do Nando Moura acusava feministas, professores e renomados políticos de engendrarem vastas conspirações. Assim foi que Matheus virou seu fã.

À medida que aumentava o seu tempo como espectador do canal, o YouTube passou a recomendar vídeos de outros expoentes da extrema direita. Um desses vídeos era de um deputado chamado Jair Bolsonaro, então uma figura apagada na política nacional – mas com destaque na comunidade da extrema direita brasileira no YouTube, onde a plataforma foi adquirindo mais audiência do que todos os canais de TV, exceto um.

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No ano passado, ele se tornou o Presidente Bolsonaro.

“O YouTube passou a ser a plataforma da mídia social da direita brasileira,” disse Matheus, em pleno estirão típico dos seus 17 anos de idade, que agora também quer entrar para a política.

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[Assistam a reportagem feita por Max Fisher e Amanda Taub sobre a influência do YouTube no Brasil para o novo programa televisivo “The Weekly” do The Times, na FX e Hulu.]

Os apoiadores da recém fortalecida extrema direita no país – desde organizações de base até deputados federais – dizem que o seu movimento não teria crescido tanto, nem tão rapidamente, sem o mecanismo de recomendações do YouTube.

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Pesquisas recentes têm demonstrado que eles podem estar corretos. O sistema de busca e recomendações do YouTube parece ter conseguido desviar sistematicamente os usuários para os canais de conspiração e extrema direita no país.

Uma investigação que o The Times fez no Brasil trouxe à tona – e já não é pela primeira vez – o fato de que os vídeos divulgados pelo site trocam pelas avessas elementos que são centrais do cotidiano das pessoas.

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Professores descrevem turmas que viram as salas de aula de cabeça para baixo enquanto citam vídeos conspiratórios do YouTube ou que, entusiasmados pelos destaques de direita no YouTube, gravam as aulas que eles estão dando.

Há pais que procuram se aconselhar sobre saúde junto ao “Dr. YouTube”, mas que acabam sendo perigosamente mal informados, prejudicando assim em grande monta os esforços que o país faz para combater doenças como a zika. Há vídeos que estimulam ameaças de morte a defensores da saúde pública e acabam viralizando.

E, na política, inúmeros destaques da direita no YouTube foram candidatos nas últimas eleições junto com Bolsonaro, alguns dos quais ganharam por margens nunca dantes atingidas. Muitos deles ainda usam a plataforma, administrando a quarta maior democracia do mundo através da trolagem e da provocação fácil que a internet viabiliza.

O sistema de recomendações do YouTube foi projetado para, dentre outros fatores e segundo a empresa, maximizar o tempo de audiência, mas não para favorecer uma ou outra ideologia política. O sistema sugere algo para o espectador assistir em seguida, tocando automaticamente um vídeo depois do outro, num eterno apelo para manter os espectadores grudados nas telinhas.

Mas as emoções que atraem as pessoas – como o medo, a dúvida e a raiva – costumam ser elementos centrais nas teorias de conspiração, particularmente as de extrema direita, segundo dizem os especialistas.

À medida que vai oferecendo vídeos mais provocativos para manter os usuários ligados no canal, o sistema consegue direcioná-los para conteúdo extremado que, de outra forma, esses espectadores jamais conseguiriam encontrar. E é projetado para conduzir mesmo a novos tópicos, capazes de lhes acirrar novos interesses – uma dádiva para canais como o do Nando Moura, que usam a cultura pop como porta de entrada para os ideais da extrema direita.

O sistema atualmente conduz 70 por cento do tempo total na plataforma, segundo informa a empresa. Enquanto a audiência dispara no mundo inteiro, há analistas dizendo que o YouTube já fatura mais de um bilhão por mês.

O estudioso das mídias sociais Zeynep Tufekci se refere ao fenômeno como “um dos instrumentos de radicalização mais poderosos do Século XXI”.

Representantes da empresa questionaram a metodologia dos estudos e disseram que os sistemas da plataforma não privilegiam um ponto de vista dentre outros nem direcionam os usuários para o extremismo. Mas outros, por sua vez, acolheram alguns achados desses estudos e prometeram realizar algumas modificações.

O porta-voz Farshad Shadloo disse que o YouTube “investiu muito em normas, recursos e produtos” para reduzir a disseminação de informação descabida que possa ser prejudicial, acrescentando: “Já vimos que o conteúdo bem embasado está crescendo no Brasil e é o tipo de conteúdo mais recomendado no site.”

A fundadora do think tank Data & Society Danah Boyd atribuiu essa ruptura no Brasil à inclemência com que o YouTube se empenha para reter o espectador e às receitas que esse esforço todo gera.

Embora vários escândalos de corrupção e uma recessão profunda já tenham devastado a institucionalidade política do país e deixado muitos brasileiros na iminência de romperem com o status quo, Danah se referiu, com a devida preocupação, ao impacto causado pelo YouTube como indicação de um impacto muito maior sobre as democracias no mundo todo.

“Isso [que acontece aí] está acontecendo em todo canto,” diz ela.

A festa do YouTube  

Vice-presidente do partido de Bolsonaro em Niterói, Maurício Martins credita ao YouTube “a maior parte” do recrutamento realizado pelo partido – inclusive o seu próprio.

Ele estava navegando pelo site para matar o tempo um belo diz, relembra, quando a plataforma lhe apresentou o vídeo de um blogueiro de direita. Ele assistiu, só por curiosidade. Depois, veio outro, e mais outro.

“Antes disso, eu não tinha uma formação política ideológica,” disse Maurício. As recomendações automáticas do YouTube foram a “minha formação política”, completou.

“E foi assim com todo mundo”, disse ainda.

A influência política da plataforma se faz sentir cada vez mais nas escolas do país afora.

“Tem horas que estou assistindo algum vídeo sobre um game e, de repente, entra um vídeo do Bolsonaro”, disse Inzaghi D., estudante de 17 anos, morador de Niterói.

Seus colegas de escola estão fazendo comentários cada vez mais extremistas, citando youtubers de destaque como Nando Moura, a título de referência, aquele estudante de violão pela internet que passou para o lado das conspirações.

“É a maior fonte de informação para a garotada”, disse ele.

São poucos os que conseguem ilustrar a maneira através da qual se dá a influência do YouTube como Carlos Jordy.

Musculoso como ele só e cheio de tatuagens pelo corpo todo – na mão esquerda, por exemplo, destaca-se uma caveira em chamas com olhos de diamante – Jordy se elegeu vereador em 2017 com poucas possibilidades de ascensão através da política tradicional. Inspirou-se, portanto, em blogueiros como Nando Moura e o seu mentor político, o Sr. Bolsonaro, focando-se no YouTube.  

Passou a postar vídeos acusando os professores da rede de ensino local de doutrinarem seus alunos para o comunismo. Os vídeos lhe renderam “audiência nacional”, disse ele, e impulsionaram o seu salto estratosférico, no prazo de dois anos apenas, para a Câmara dos Deputados.

“Se não fossem as mídias sociais, eu não estaria aqui”, disse ele. “E Jair Bolsonaro não seria o presidente.”

Na toca do coelho

A poucos quilômetros de Niterói, uma equipe de pesquisadores conduzida por Virgílio Almeida da Universidade Federal de Minas Gerais se debruçava sobre os computadores na tentativa de compreender como o YouTube conforma a realidade dos usuários.

A equipe analisou transcrições de milhares de vídeos e também dos comentários feitos sobre os mesmos. Esses analistas descobriram que os canais da direita no Brasil contaram com um aumento de audiência muito mais rápido do que os outros e pareciam estar envergando o conteúdo político do site.

Nos meses logo após a mudança do algoritmo do YouTube, os comentários positivos sobre Bolsonaro decolaram. Também decolaram menções às teorias da conspiração que ele desencavou. Isso teve início enquanto as pesquisas ainda o apresentavam como candidato de baixa popularidade, sugerindo que a plataforma não fazia mais do que refletir tendências políticas.

Uma equipe do Centro Berkman Klein, de Harvard, resolveu testar se a ascensão meteórica da extrema direita brasileira na plataforma tinha sido alimentada pelo mecanismo de recomendações do YouTube.

Juntos com Adrian Rauchfleisch, da Universidade de Taiwan, Jonas Kaiser e Yasodara Córdova programaram um servidor, localizado no Brasil, para entrar num canal popular ou num mecanismo de busca e depois abrir as 10 primeiras recomendações do YouTube, seguindo subsequentemente cada uma delas, e assim por diante.

Após milhares de repetições, os pesquisadores conseguiram rastrear a maneira como a plataforma conduzia o usuário de um vídeo para outro. E descobriram que, depois de um vídeo sobre política ou mesmo de entretenimento, as recomendações do YouTube costumavam favorecer canais de direita que falavam de conspiração, semelhantes ao do Nando Moura.

Fundamentalmente, o usuário que assistia a um canal da extrema direita iria ser direcionado, logo em seguida, a muitos outros.

Com isso, os pesquisadores concluíram que o algoritmo vinha agregando canais que eram originalmente marginais, formando público de maneira gradativa.

Um desses canais pertencia a Bolsonaro, que já usava a plataforma havia muito tempo para os seus trotes e conspirações. Embora ele tenha adotado o YouTube logo nos seus primórdios, os seus seguidores via internet não contribuíram muito para aumentar a base política do candidato, algo que praticamente não existia em nível nacional.

O sistema político brasileiro começou a entrar em colapso juntamente com o aumento da popularidade do YouTube. As ideias de Bolsonaro não mudaram. Mas a extrema direita no YouTube, onde ele era figura de destaque, experimentou um crescimento estupendo, contribuindo em muito para preparar um terreno onde ele pudesse dar o seu recado no momento em que o país estivesse pronto para uma virada política.

O YouTube questionou a metodologia usada e disse que seus dados internos contradiziam os achados da pesquisa. Mas a empresa não atendeu os pedidos que o Times fez para obter esses dados, e também deixou de revelar certas estatísticas que seriam capazes de comprovar a exatidão dos achados da pesquisa.

“Dr. YouTube”

As conspirações não se limitavam à política. Procurando no YouTube informações sobre saúde, muitos brasileiros encontraram vídeos que os deixaram estarrecidos: alguns diziam que a zika se espalhava a partir de vacinas, ou que os inseticidas serviam para conter a onda dessa doença, que era transmitida por mosquito e vinha devastando o nordeste do país.

Esses vídeos passaram a surgir cada vez mais na plataforma, da mesma forma que surgiam conteúdos políticos extremistas: levantando posições alarmistas e prometendo verdades proibidas que mantinham os usuários grudados nas suas telinhas.

Médicos, assistentes sociais e autoridades públicas diziam que os vídeos tinham criado as bases para uma crise de saúde pública à medida que os pacientes assustados recusavam tanto as vacinas quanto os inseticidas contra a zika.

As consequências disso foram mais marcantes em comunidades com maiores níveis de pobreza, como Maceió, cidade das mais atingidas pela zika no nordeste brasileiro.

“As fake News são uma guerra virtual”, disse Flávio Santana, neurologista pediátrico de Maceió. “E vêm de todos os lados.”

Quando a zika começou a se espalhar em 2015, os profissionais da saúde distribuíram larvicidas capazes de matar o mosquito transmissor da doença.

Não se passou muito tempo depois que o YouTube instalou o seu novo mecanismo de recomendações e logo os pacientes do Dr. Santana começaram a lhe dizer que tinham assistido vídeos falando que a zika era causada por vacinas – e, em seguida, por larvicidas. Muitos, portanto, se negavam a aceitar qualquer das duas opções.

A Dra. Auriene Oliveira, especialista em doenças infecciosas no mesmo hospital, disse que os pacientes vinham, cada vez mais, se negando a aceitar os seus conselhos, inclusive no que tangia a procedimentos fundamentais para a sobrevivência de seus filhos.

“Eles diziam que tinham pesquisado no Google, que tinham visto no YouTube.”

O pessoal da área médica, disse ela, estava concorrendo cotidianamente contra “o Dr. Google e o Dr. YouTube” – e perdendo sempre!

Mardjane Nunes, especialista em zika recém saída de um cargo alto no ministério da saúde, disse que o pessoal da saúde vem relatando experiências parecidas no país inteiro. E acrescenta que, à medida que vai aumentando o número de comunidades contrárias a usar o larvicida de combate ao mosquito transmissor da zika, a doença vem ressurgindo.

“As mídias sociais estão ganhando”, disse ela.

A comunidade médica do país tem razões de sobra para se sentir inferiorizada. Os pesquisadores de Harvard descobriram que os sistemas do YouTube frequentemente direcionam para canais conspiratórios os usuários que chegaram buscando informações sobre a zika, ou mesmo aqueles que assistiram algum vídeo bem embasado sobre questões de saúde.

Referindo-se a eles como não intencionais, um porta-voz do YouTube confirmou os achados da pesquisa do Times e disse que a empresa ia mudar a maneira como sua ferramenta de busca trazia à baila os vídeos relacionados à zika.

Um “ecossistema de ódio”

À medida que foi crescendo a extrema direita, muitas de suas principais vozes foram aprendendo a transformar os vídeos conspiracionistas em armas, oferecendo aos seus inúmeros espectadores um alvo: gente em quem colocar a culpa. Os conspiracionistas do YouTube acabaram voltando os seus holofotes para Débora Diniz, ativista dos direitos da mulher cuja militância em prol do aborto já a tinha tachado de alvo para a direita.

Bernardo Küster, destacado youtuber cujas falações domésticas lhe renderam 750.000 assinantes e o endosso do Sr. Bolsonaro, acusou-a de envolvimento das alegadas tramas em torno da zika.

Muitos desses vídeos davam a impressão de que as mesmas pessoas a trabalhar no atendimento a famílias afetadas pela zika eram quem de fato estava por trás da doença. Com o respaldo de estrangeiros de origem obscura, elas visavam suspender a proibição ao aborto no Brasil – ou até a torna-lo obrigatório.

À medida que os canais conspiratórios e de extrema direita passaram a citar uns aos outros, o sistema de recomendações do YouTube foi aprendendo a listar os seus vídeos em sequência. Por mais implausíveis que fossem os boatos, em conjunto eles davam a impressão de que dezenas de fontes disparatadas vinham revelando a mesma verdade aterrorizante.

“Fica parecendo que é o próprio espectador quem faz as conexões, quando elas são feitas mesmo pelo sistema”, diz Débora.

Não paravam de lhe chegar, por telefone e email, ameaças de estupro e tortura. Algumas delas descreviam até certas rotinas cotidianas da ativista. Diz ela que muitas das quais reproduziam as arengas que Bernardo Küster desfiava em seus vídeos.

Embora nunca as tenha endossado de fato, o blogueiro em questão mencionou entusiasmadamente tais ameaças – o que o manteve devidamente dentro das regras do YouTube.

Quando a universidade onde Débora Diniz dava aulas recebeu um aviso de que um atirador pretendia disparar contra ela e seus alunos, e a polícia falou que não tinha mais como lhe garantir a segurança, ela saiu do país.

“O sistema que o YouTube usa para recomendar os próximos vídeos em sequência,” disse ela, criou “um ecossistema de ódio.”

“Ouço dizer aqui que ela é inimiga do Brasil. Ouço em seguida que as feministas estão mudando os valores das famílias. E, mais uma vez, ouço que elas recebem dinheiro do exterior,” disse a ativista. “É esse circuito que leva as pessoas a dizerem: ‘Vou fazer o que precisa ser feito.’”

“Precisamos, sim, que as empresas cumpram o seu papel,” diz Débora Diniz. “Elas são eticamente responsáveis.”

Foram-se espalhando pelo YouTube as conspirações, e os videomakers se voltaram para os grupos de ajuda cujo trabalho se foca em questões polêmicas, como o aborto. Mesmo famílias que há muito se fiavam em grupos como esses passaram a se questionar se tais vídeos não estariam dizendo verdade e, consequentemente, passaram a evitá-los.

No Brasil, essa prática vem crescendo na internet e é conhecida como “linchamento”. Bolsonaro foi um dos pioneiros, divulgando desde 2012 vídeos com acusações falsas de que acadêmicos de esquerda estariam tramando a distribuição obrigatória de “kits gay” nas escolas para converter crianças à homossexualidade.

Carlos Jordy, o protegido morador tatuado de Niterói, não ficou nem um pouco abalado ao saber que a sua própria campanha no YouTube, onde ele acusava professores de disseminar o comunismo, tinha transtornado a vida desses profissionais.

Uma das professoras, Valéria Borges, disse que ela e seus colegas vinham sendo abarrotados por mensagens de ódio, numa atmosfera de medo contagiante.

Longe de negar o fato, Carlos disse ter atingido a sua meta. “Eu queria botar medo nela,” disse.

“Trata-se de uma guerra cultural, esta que estamos travando,” explicou. “Foi para isso mesmo que me elegi.”

“A ditadura do ‘curtir’”

O marco zero para a política do YouTube pode ser a sede paulistana do Movimento Brasil Livre, que foi formado em 2016 para militar a favor do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, de tendência esquerdista. Os integrantes desse movimento são jovens agitadores de classe média que militam pela direita via internet.

Renan Santos, coordenador nacional do grupo, mostrou uma porta onde estava escrito “Divisão do YouTube”, dizendo: “É aqui que acontecem as coisas.”

Lá dentro, oito jovens se debruçavam sobre os software de edição. Um deles estilizava uma imagem de Benito Mussolini para um vídeo, argumentando que o fascismo tinha sido culpado erradamente pela direita.

Mas até mesmo alguns dos presentes receiam o impacto que a plataforma venha a ter sobre a democracia. O próprio Renan, por exemplo, chama as mídias sociais de “arma” e ainda diz que alguns seguidores do Bolsonaro “querem usar essa arma para pressionar instituições de uma maneira que, a meu ver, não é responsável.”

Pedro D’Eyrot, co-fundador do grupo e ex-roqueiro com o cabelo em coque, disse: “Temos aqui o que chamamos de ditadura do ‘curtir’.”

A realidade, disse ele, é formada pelas mensagens que mais viralizam.

Enquanto ele falava, um vídeo com duração de duas horas no YouTube cativava a atenção de gente pelo país afora. Intitulado “1964” pelo ano do golpe militar no Brasil, apresentava o argumento de que a tomada de poder fora necessária para salvar o Brasil do comunismo.

Matheus Dominguez, o adolescente aprendiz de violão, disse ter sido convencido pelo vídeo de que os seus professores haviam inventado os horrores do governo militar.

Valéria Borges, a professora de história vilificada no YouTube, disse que o vídeo lhe trouxe à memória os toques de recolher durante o período, os militantes desaparecidos e os espancamentos da polícia.

“Pelo jeito, ainda vou levar muita pancada,” disse ela.

The Interpreter é uma coluna de autoria de Max Fischer e Amanda Taub explorando ideias e contexto por trás de grandes eventos de âmbito mundial. Siga-os no Twitter: @Max_Fischer e @amandataub.

Mariana Simões contribuiu com a reportagem a partir de Niterói e Maceió, Brasil. Kate Steiker-Ginzburg contribuiu a partir de Niterói, Maceió e São Paulo, Brasil. Renata Matarazzo contribuiu com trabalho de pesquisa.

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