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Nos 44 anos do PT, Altman questiona se o partido abriu mão do horizonte socialista

"Já não faz mais sentido o horizonte socialista e revolucionário dos anos 80?", questiona o jornalista

Breno Altman (Foto: Felipe Gonçalves)

Por Breno Altman, no X – Entrei no PT em 1986, junto com um grupo de companheiros e companheiras egressos do Partido Comunista Brasileiro. Tínhamos rompido com esta organização dois anos antes, quando seu comitê central interveio no comitê estadual paulista porque discordávamos frontalmente da linha política dominante no PCB.

Muitas eram as divergências. As mais urgentes diziam respeito à tática comunista na transição da ditadura à democracia.

O comitê central defendia um grande pacto da oposição com os setores moderados do regime militar. Nós éramos favoráveis a uma ofensiva democrático-popular contra a ditadura, com grandes mobilizações de rua, o que acabaria acontecendo com a campanha das diretas já, contrariando a linha oficial dos comunistas.

Também era fundamental, no coletivo dirigente que tinha David Capistrano Filho como seu principal expoente, a disputa pela hegemonia da classe trabalhadora na frente democrática. Esse deveria ser, a nosso juízo, o elemento central da política de esquerda na transição. Por isso fomos firmes militantes da expansão dos movimentos grevistas e organizadores destacados da greve geral ocorrida em julho de 1983, violando decisões da direção nacional do PCB, claramente contrárias à paralisação.

De 1984 a 1986 fomos desenvolvendo relações cada vez mais próximas com o PT, que crescia como o grande partido de massas da classe trabalhadora, propondo-se a construir um caminho de independência e hegemonia, na perspectiva da transformação socialista.

O PCB tinha sido domesticado pela renúncia a uma estratégia autônoma e classista, submetido à direção e ao pensamento da oposição liberal-burguesa.

O PT era a expressão de uma via completamente distinta, com uma orientação socialista apoiada na organização, na mobilização e no protagonismo dos trabalhadores.

O PCB defendia uma aliança subordinada com os liberais, aceitando seu programa e seus limites.

O PT chutava o pau da barraca e apontava para o objetivo de fazer, do proletariado, a classe dirigente da luta democrática.

Passaram-se 38 anos.

Muita coisa mudou na nossa realidade e no mundo, de fato.

Mas é angustiante como o PT, atualmente, parece viver dilemas parecidos com os do velho PCB.

Já não faz mais sentido o horizonte socialista e revolucionário dos anos 80?

Trocamos o objetivo de transferir o poder de Estado para a classe trabalhadora pela defesa da democracia liberal?

Abandonamos o programa da transformação social para adotarmos, como fronteira possível, a realização de ajustes graduais dentro do sistema?

Nosso limite é melhorarmos ao máximo a vida do povo, mas descartando a construção de uma nova sociedade, “sem explorados nem exploradores”, como reivindicava o manifesto de fundação do PT?

Substituímos a estratégia de confronto e hegemonia, à qual deveriam estar subordinadas as indispensáveis alianças, por uma política que tenha como ferramenta principal as coalizões por governabilidade, não mais a força própria da classe trabalhadora?

São perguntas que faço, junto com tantos outros companheiros e companheiras, nesse 44° aniversário do maior instrumento de ação política que o nosso povo conseguiu construir em sua história.