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Mídia

O flagelo do jornalismo investigativo

Já que investigar sai caro, e seu retorno tem sido ínfimo ou nulo, a opção tem sido publicar e divulgar documentos fornecidos por autoridades

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O jornalismo do século 21 vive num estado de contínua inflação: nunca se processaram tantos jornalistas, nunca encolheram tanto as vagas nas redações. Sujeito como nunca às fúrias da Justiça, e a surtos idem de imprecisões, o jornalismo investigativo é quem mais sofre esse flagelo: afinal de contas, tal prática nasceu da idéia que repórteres, eles mesmos, montariam cenários com precisão e acurácia. As razões da crise agora parecem claras: os jornalistas passaram a copiar, maciçamente e aos magotes, dados fornecidos por autoridades. O que seria ponto de partida, virou ponto de chegada: o documento fornecido pela autoridade já nasce como ponto final –justamente ele que, nos padrões éticos do jornalismo, sempre foi visto com apenas um ponta-pé inicial a ser rechecado.

Ora, há dados bem concretos para analisar a autêntica guerra púnica em que se meteram os jornalistas. Não só a predileção do leitor pelas mídias sociais tem contribuído para a dissipação monetária das redações. Primeiro: o Brasil bate o recorde mundial de processos contra jornalistas. Os últimos dados tornados públicos são de 2007, quando: eram 3.133 processos num universo de 3.237 profissionais. O valor médio das indenizações passou de R$ 20 mil, em 2003, para R$ 80 mil. Hoje estima-se que sejam mais de cinco mil processos, com ceitis, postulados em juízo, que somam mais de RS$ 50 milhões. A ONG britânica Artigo 19 sustenta que o Brasil é ainda o país que mais processa jornalistas.

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Tal quadro fez do jornalismo investigativo um negócio caro. Não só pelo custo-benefício: mas pelos salários pagos a profissionais supostamente capacitados a exercer tal expertise. Vejamos o quadro nos EUA: as vagas de jornalistas eliminadas nos jornais dos EUA desde que o centro de monitoramento “Paper Cuts” começou a contagem, em 2007, são de 21.008 em quatro anos e meio. O recorde foi em 2008, com 15.992 cortes. O ano de 2011 traz, até junho, 1.133 cortes. O foco dos cortes, é óbvio, são os jornalistas investigativos.

Os porquês são muito claros, em todas as redações do planeta: já que jornalismo investigativo sai caro, e seu retorno tem sido ínfimo ou nulo, a opção tem sido publicar e divulgar documentos fornecidos por autoridades. As razões são claras: a denúncia de um procurador, ou a sentença de um juiz, ou um grampo policial legal, levam a lustrosa chancela da fonte autorizada. De posse de um material que deveria ser seu ponto de partida, o repórter faz dele, como já se disse, seu ponto de chegada. Face um documento oficial, os departamentos jurídicos dos jornais acabam autorizando a publicação do “furo”. O repórter passou a ser mal visto quando se converte no “agent provocateur” da história: o negócio agora é pegar documento oficial pronto e mandar pra frente

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Mas uma questão se põe, solarmente, diante desse quadro. E quando as autoridades, geradoras desses documentos, cometem erros, seja por incúria, má-fé ou mesmo por pura desatenção? Simples: o jornalista comete obviamente comete o mesmo erro. Mas desta vez está a salvo por um anelo melindroso: ele, afinal, publicou apenas o que uma autoridade “ilibada” lhe repassou.

Assim vão-se com o tempo os furos: e ficam os processos. As práticas desse mau jornalismo (que apenas se compraz em publicar o que recebeu pronto) hoje nivelam casos distantes topograficamente –mas que constituem, sempre em igual medida, a assustadoramente nupcial relação do jornalista com tais fontes.

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O jornalista Roberto Cabrini levou 3 anos para saber que o publicado pela imprensa contra ele, com acusações de narcotráfico, era apenas uma “plantação” urdida por maus policiais. O Grupo Opportunity levou um período um pouco maior, e dependeu da chegada do caso nas cortes superiores, para saber que a Operação Satiagraha foi patrocinada por interesses privados, em disputa de território pelo mercado da telefonia.

Lá fora as cousas são tocadas erraticamente, também: mas o prazo de reparação é sagitalmente menor. Em questão de meses desmancharam-se, como um jogo de armar, as peças urdidas contra Dominique Strauss-Khan. Na Inglaterra um jornal que comprava fitas ilegais de autoridades teve de cerrar as portas.

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No Brasil, sem opções outras, aqueles dilapidados publicamente, pela divulgação de documentos viciados, têm de terçar batalhas armagedônicas contra a impenitente demora de nossos tribunais. Agora já sabemos porque o jornalismo investigativo, que no passado se orgulhava de andar com as próprias pernas, caminha, liberticida e, afinal, suicida, costeado pelo andador das “fitas divulgadas”.

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