Priolli critica o 'suposto' racismo no noticiário sobre William Waack
O jornalista Gabriel Priolli lembra que a Globo anunciou oficialmente que William Waack está afastado de suas funções, "até que a situação seja esclarecida"; "As reticências em noticiar com clareza, usando palavras cruas e diretas, são puro corporativismo. Preocupação em proteger um colega, que não se observa quando o acusado é colega dos outros. Lula, para ficar num único exemplo, não tem suposto apartamento no Guarujá, nem suposto sítio em Atibaia. As notícias sobre ele quase nunca são grafadas no condicional", compara o jornalista
Por Gabriel Prioli, no Nocaute - O vídeo de William Waack, todo mundo viu. As palavras, cada qual escutou como quis.
Se assim é se lhe parece, como o dramaturgo Luigi Pirandello ensinou a relativizar, a alguns pareceu que não foi nada. Nem racismo, nem fato, nem notícia.
Esses "alguns" não são poucos e há também jornalistas entre eles. São os colegas que tratam do episódio como um "suposto" caso de racismo, dizem que ele "teria" acontecido e não afirmam que Waack o cometeu, mas que foi "acusado nas redes sociais".
É o jeito que encontram de noticiar o que não gostariam, mas que se converteu inexoravelmente em notícia, até porque a sua consequência mais imediata foi um fato inequívoco.
A TV Globo anunciou oficialmente que William Waack está afastado de suas funções, "até que a situação seja esclarecida", e que iniciará conversas com ele para decidir como "se desenrolarão" os próximos passos.
(O que, provavelmente, não incluirá a conveniência do uso da mesóclise em seus comunicados, porque a Globo parece preferir o desatino gramatical do que a temeridade de empregar a construção correta, mas castiça).
As reticências em noticiar com clareza, usando palavras cruas e diretas, são puro corporativismo. Preocupação em proteger um colega, que não se observa quando o acusado é colega dos outros.
Lula, para ficar num único exemplo, não tem suposto apartamento no Guarujá, nem suposto sítio em Atibaia. As notícias sobre ele quase nunca são grafadas no condicional.
Tudo é certo no caso de Lula, assegurado, embora até agora não haja qualquer prova cabal de que possui os imóveis referidos. Mas Lula não é jornalista, não cabe no abraço corporativista.
Eu passei metade da minha vida profissional em estúdios de televisão e sei bem como é pouco polido o humor que se pratica nesses ambientes, entre colegas.
Piadas classistas, sexistas, racistas e ou de qualquer tipo de incorreção política são rotineiras, e partem tanto de eventuais algozes quanto de pretensas vítimas. Tanto do apresentador branco milionário quanto do cameraman preto suburbano.
Mas Waack não estava brincando com alguém de fora de cena, em gravação "nas internas". Não estava fazendo "humor consentido", digamos assim.
Ele fez blague para um entrevistado, sem qualquer pudor em expressar racismo, e até reiterando o que disse. Não contava que o comentário fosse vazado por desafetos, mas não pode argumentar – nem ele, nem ninguém – que não conteve racismo.
Não há nada "suposto" no que foi dito, tanto nas palavras quanto na forma como foram expressas. E não foi a internet que disse, foi William Waack.
O episódio deve ser analisado na extensão e gravidade que possa ter, pelo apresentador, a Globo e quem mais queira debatê-lo. Mas ele não pode justificar um jornalismo evasivo e mistificador, que foge das palavras adequadas para dar a um colega a proteção que sonega a todos os outros viventes – exceto, obviamente, os amigos dos patrões.
Não há "talvez" nem "pode ser" no noticiário honesto desse caso, quando um vídeo indiscutível escancara que foi mesmo.
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