CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Mídia

PT caiu na armadilha de Maluf, diz Bucci

Ex-presidente da Radiobrás no governo Lula, Eugênio Bucci afirma que ex-prefeito de São Paulo terceirizou para o partido os danos de suas malfeitorias

PT caiu na armadilha de Maluf, diz Bucci (Foto: Divulgação_Folhapress)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 – Reproduzir, em São Paulo, uma aliança entre PT e PP que já existe no plano federal seria absolutamente natural. O erro do Partido dos Trabalhadores, no entanto, foi cair na armadilha de Paulo Maluf, aceitando a sessão de fotos nos jardins da mansão da família acusada de desviar alguns milhões da prefeitura de São Paulo. Leia o artigo de Bucci:

Essa encrenca chamada Maluf

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Eugênio Bucci

A coisa complicou-se um pouco. Agora consta nos autos: a dinheirama bem guardada no paraíso fiscal de Jersey, no Canal da Mancha, está mesmo relacionada a Paulo Maluf. Pelo menos foi isso que reconheceram os advogados da offshore Durant, que tinha Flávio Maluf como diretor, no processo que corre em Jersey - no qual a Prefeitura de São Paulo tenta recuperar US$ 22 milhões que teriam sido desviados de seus caixas quando Maluf foi prefeito da cidade. Os advogados admitiram que a família Maluf controlava contas na ilha britânica e que o próprio ex-prefeito recebeu "comissões" nessas contas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Com essa notícia, que foi publicada por este jornal há uma semana, em reportagem de Jamil Chade (Defesa admite dinheiro de Maluf em ilha, 19/7, A6), o lado obscuro de Maluf retornou às manchetes. Não que a defesa da Durant tenha confessado a prática de algum ilícito: ela reconheceu os fundos, mas fala em pagamentos por "negócios legítimos" - como uma comissão recebida pelo ex-prefeito pela intermediação de venda de empresas. O que aumenta as suspeitas não é - ainda - a corrupção comprovada, mas a incongruência entre as alegações disparatadas. Se os dólares no Canal da Mancha têm origem limpa, por que nunca foram reconhecidos pelos titulares? O que eles querem esconder?

Maluf sempre negou a existência da fortuna em Jersey. Com aquela entonação de voz que faz a delícia dos imitadores de rádio, ele repetiu e repetiu: "Eze diiêro dao é beu!" - ao que o humorista José Simão costumava responder: "Não é dele mesmo, é nosso!". Agora, depois da reportagem de Jamil Chade, o bordão caiu por terra e, naturalmente, o interesse jornalístico pelo caso recrudesceu. O que levou os advogados a protocolar em Jersey uma nova versão para o tesouro mal explicado?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A coisa complicou-se, de fato. Quanto a Maluf, apenas sorri, como se a coisa complicada não fosse com ele - e, suprema esperteza, talvez não seja mesmo com ele. A sua imagem pública vai descambando, em desmoronamentos sucessivos, esboroando o que já parecia suficientemente esboroado, mas ele mesmo, em pessoa, trafega, folgazão, para lá e para cá, em renovada lua de mel com a política. Nada perturba o bom humor zombeteiro do seu trololó em barítono rachado. Ele se diverte, ou, mais exatamente, se diverte-se à custa de outro. Guardou para si o lado cômico desse enredo farsesco e, num golpe maligno, terceirizou a tragédia de sua imagem pública. Ele a terceirizou para o PT. Ao firmar seu apoio aos petistas nas eleições municipais, deu um jeito de empurrar-lhes o ônus moral da sua conduta pregressa. A tragédia moral de Maluf virou um problema do PT.

Quanto ao PT, evita o assunto, como se algo o inibisse. Está intimidado, mas não deveria estar. Para começar, não se deveria envergonhar de se aliar ao PP (o partido de Paulo Maluf), que já integra a base aliada do governo federal. Elementar: reeditar, no âmbito municipal, a aliança que já existe no âmbito federal não constitui um erro político. O problema - o golpe maligno - foi que, em São Paulo, o pacto PP-PT se deixou coroar por uma cena de mau gosto, e foi dessa cena que nasceu o atual constrangimento petista.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na hora de anunciar a aliança, Maluf conseguiu atrair Lula e seu candidato a prefeito, Fernando Haddad, para uma sessão de fotos nos jardins da sua casa. O ritual era uma armadilha. Por meio dela, o anfitrião transformou o que deveria ser um acordo formal entre dois partidos numa cerimônia de congraçamento. Nas imagens, o ex-prefeito acusado de desvios na Prefeitura e procurado pela polícia internacional faz afagos em seus visitantes, num clima que sugere compadrio e cumplicidade.

Ora, esse clima não traduz - ou não deveria traduzir - as reais relações políticas entre as forças ali representadas. Portanto, o PT poderia muito bem denunciar como falsas as impressões deixadas por aquelas imagens, assim como deve reafirmar suas críticas ao malufismo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Se antes das novidades de Jersey as lideranças petistas achavam que tinham espaço para silenciar, agora não têm mais tempo. Ou vão a público expor sua oposição radical ao modo malufista de governar, ou a coisa, que já se complicou, vai piorar.

Maluf desfila como quem foi anistiado por Lula. Se o PT não quer anistiá-lo, deve declarar com todas as letras que sua aliança é com o PP, não com a conduta pessoal do ex-prefeito. Deve dizer isso com gestos e palavras fortes, em pronunciamentos oficiais e reiterados. Neste momento, o silêncio corre o risco de fazer coro com o cinismo. Ou, pior, com o deboche.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O deboche, vale registrar, tem sido o gênero discursivo predileto de Maluf. Pouco depois de posar para os retratistas em sua casa, Maluf concedeu entrevista a Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, em que exibiu o seu talento para a velhacaria: "Eu, perto do Lula, sou comunista". Sim, sabemos que o próprio Lula já se definiu como "metamorfose ambulante", recusando ser um político "de esquerda". Mesmo assim, Maluf extrapola e zomba dos aliados de seu partido: "Da maneira que exerceu a Presidência, eu diria que ele (Lula) está à minha direita".

Brincadeiras à parte, a situação é mais delicada do que uma gincana escolar para saber se Lula é "de esquerda" ou não é. Se este é metamorfose, Maluf é ideologicamente líquido e já foi com quase todos: apoiou Fernando Henrique Cardoso em 1998, Lula em 2002 e hoje defende a reeleição de Geraldo Alckmin no governo paulista. O que está em jogo, agora, não são os rótulos de "direita" ou "esquerda", mas a seriedade com que o PT trata um processo judicial em que a Prefeitura paulistana é parte.

O eleitor talvez esteja perplexo. Por isso, sem abrir mão da aliança com o PP, o PT faria bem se exigisse publicamente esclarecimentos de Paulo Maluf. Isso tudo, claro, se tivermos uma interpretação otimista dessa história chata.

* JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO