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Mídia

Tijolaço: Quer ler sobre Lula no Nordeste? Compre um jornal europeu

O editor do Tijolaço, Fernando Brito, destaca que "a imprensa brasileira, ao menos a de repercussão nacional, boicota" a caravana feita pelo ex-presidente Lula em vários estados do Nordeste; "Nas raras reportagens que fez, (sexta e ontem), os textos sequer uma vez trazem a palavra povo, que na reportagem do The Guardian surge nove vezes a expressão people, povo ou pessoa"; para ele, quem quiser se informar sobre o êxito da caravana deve buscar notícias na mídia internacional, uma vez que a imprensa nacional não dá espaço para "um povo que quer deixar de ser invisível, porque não o vêem"

30/08/2017- Lula visita a cidade de Cedro (CE) Foto: Ricardo Stuckert (Foto: Paulo Emílio)
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Fernando Brito, no TijolaçoA imprensa brasileira, ao menos a de repercussão nacional, boicota.

Nas raras reportagens que fez, (sexta e ontem), os textos sequer uma vez trazem a palavra povo, que na reportagem do The Guardian surge nove vezes a expressão people, povo ou pessoas.

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É o que se escreveu aqui: um povo que quer deixar de ser invisível, porque não o vêem, que quer o direito de existir.

Veja, abaixo, a matéria publicada ontem pelo jornal inglês.

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Herói da esquerda brasileira curte a adoração para reviver seu destino político


Dom Phillips, do The Observer

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Vestindo suas melhores camisetas vermelhas, carregando bandeiras e faixas, e em um estado de empolgação barulhenta, milhares de pessoas nesta cidade agrária pobre e empoeirada se aglomeravam na praça principal para ver Lula. Quando ele andava no palco, eles gritavam e esticavam suas mãos.

O mandato do líder barbudo de esquerda de voz rouca acabou sete anos atrás, ainda assim ele continua sendo o presidente mais popular em décadas, senão o mais popular de toda história do país.

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"Você conhece um fenômeno maior que Luiz Inácio Lula da Silva?" pergunta Flávio Balreira, 65, usando o nome completo, coisa incomum no Brasil.

O ex-metalúrgico, líder sindical e presidente por dois mandatos que uma vez foi descrito por Barack Obama como "o político mais popular da Terra" tem cruzado o nordeste brasileiro, região semi-árida e empobrecida, para falar a multidões de adoradores como esta em Ouricuri, no estado de Pernambuco. Lula e sua equipe viajam em um comboio de ônibus, que ele chama de "caravana".

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"Eu quero agradecer ao presidente Lula", disse Francilene da Silva, 44, uma empregada doméstica que se beneficiou de um programa de moradia criado durante os oito anos de governo Lula.

"Tem muita gente que entra no governo e não faz nada. Ele fez alguma coisa," disse Fabiana de Lima, 36, pequena proprietária, explicando que um programa de transferência de renda que ajudou 36 milhões de pessoas a escapar da pobreza extrema ainda "segura" a cidade. "Ele ajudou os pobres".

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Lula nasceu na pobreza de pés no chão a pouco mais de 500 quilômetros dali e seu governo transformou a vida de muitos por ali. Mas esta não é apenas uma viagem de pré-campanha antes das eleições presidenciais do ano que vem, quando Lula espera se candidatar a um terceiro mandato. É também uma briga por seu futuro, sua vida política e seu legado.

"A caravana é a confirmação de que vale a pena ser honesto com as pessoas", ele disse em entrevista ao jornal inglês Observer, "que vale a pena fazer o que as pessoas querem e que vale a pena governar para os mais pobres".

Em julho ele foi sentenciado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro – e ele ainda terá de encarar mais quatro julgamentos, todos relacionados ao que os procuradores afirmam ter sido seu papel no comando de uma "organização criminosa" envolvendo a Petrobras, petrolífera controlada pelo Estado, e a contratação de empresas que tiveram grande crescimento durante seus mandatos.

Se uma corte superior confirmar a decisão, ele não poderá se candidatar, mesmo se a condenação não implicar em prisão.

Uma investigação de três anos, chamada Operação Lava Jato, sobre bilhões de dólares de corrupção e propinas levou à prisão políticos do PT de Lula e de seus antigos aliados no Congresso, intermediários e executivos poderosos. Lula disse que não há evidência contra ele e argumenta que ele está sendo objeto de uma guerra legal com motivações políticas – "lawfare" – para impedi-lo de concorrer. Na sexta-feira, promotores pediram sua absolvição em um dos casos.

A caravana foi sua resposta, de acordo com Marcus Melo, um professor de ciência política na Universidade Federal de Pernambuco.

"Ele está aquecendo os músculos", disse Melo. "Mostrando força e popularidade, ele aumenta a credibilidade de uma narrativa de politização".

Em Ouricuri, os oradores disseram que antes de o Partido dos Trabalhadores chegar ao poder, em 2002, pessoas famintas em desespero saqueavam lojas quando as chuvas não vinham. Sob Lula, 1,2 milhão de famílias receberam sistemas de armazenamento de água e não houve saques durante a seca atual, que já dura sete anos.

"Eu quero que eles provem uma coisa contra mim", disse Lula à multidão, que cantava seu nome. "Eu quero tomar conta dos mais pobres".

Ele já está liderando pesquisas antecipadas para a eleição do próximo ano e seu apoio cresceu mais ainda desde a condenação, enquanto internacionalmente um coro de vozes influentes argumenta que ele está sendo injustamente perseguido. Entre essas vozes está a do advogado de direitos humanos Geoffrey Robertson, que levou o caso ao Comitê de Direitos Humanos da ONU.

Diferentemente de alguns presos durante a operação Lava Jato, incluindo Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que mantinha milhões de dólares em offshores, as somas envolvendo o caso de Lula são relativamente modestas, embora seu partido seja acusado de ter recebido vultosas quantias.

Sua condenação veio pela acusação de que Lula teria se beneficiado de cerca de R$ 2,5 milhões de reais em propinas relacionadas a uma empreiteira, pagos na forma de um apartamento duplex a beira mar, reformado a pedido de Lula. O ex-presidente disse que jamais foi dono do apartamento. "Não existem fundos internacionais, contas bancárias escondidas, nenhum luxo e o apartamento onde ele vive há 25 anos é extremamente modesto", disse Robertson.

A família de Lula mudou para São Paulo quando ele tinha sete anos de idade. Ele começou a trabalhar como vendedor nas ruas aos oito, tornou-se metalúrgico, entrou para o sindicato e emergiu como o líder carismático que liderou uma série de greves que enfraqueceram a ditadura militar brasileira em seus últimos anos. Em 1980 ele fundou o Partido dos Trabalhadores e perdeu três eleições à Presidência antes de finalmente ser eleito, em 2002.

O Brasil viveu um boom de commodities durante seu governo, e como o consumo das famílias aumentou, metade da população entrou numa nova classe média. Em 2010, último ano do governo Lula, a economia brasileira cresceu num ritmo espetacular, de 7,5%.

"Os mais pobres sabem o que fizemos por eles", ele disse. "É a única coisa que faz sentido para um governo, tomar conta dos mais pobres".

Naquele mesmo ano, ele conseguiu que sua sucessora, uma ex-guerrilheira marxista chamada Dilma Rousseff, fosse eleita. Mas o boom das commodities acabou.

Ela não tinha a habilidade expansiva – os críticos diriam cínica – para fazer acordos com os barões regionais mercenários que mantêm influência no fracionado congresso brasileiro e depois de vencer uma disputa apertada na sua reeleição em 2014, com os gastos públicos em alta, viu o primeiro déficit brasileiro em mais de uma década. Com a economia encolhendo, o país perdeu seu grau de investimento.

No governo, Lula teve o apoio dos mercados financeiros. Agora ele é ferozmente crítico ao sucessor de Dilma, Michel Temer, cujo programa de austeridade selvagem cortou benefícios dos brasileiros mais pobres, e Lula diz que o Brasil deveria bancar sua saída desta recessão que engessa o país, porque países desenvolvidos como o Reino Unido também têm déficits públicos.

"O que faz a nação crescer é o poder de compra das pessoas na base, não os ricos", ele disse. "Quando você dá um empréstimo para um empreendimento produtivo, você torna a economia mais dinâmica. E quando o PIB começa a crescer, o débito começa a diminuir".

Depois que o escândalo de corrupção emergiu, milhões de manifestantes tomaram as ruas brasileiras pedindo o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, e comemorando quando ela foi afastada no ano passado devido às acusações de ferir as leis orçamentárias. Ela e Lula argumentam que o processo foi um golpe, e sua credibilidade ficou comprometida pela alta proporção de parlamentares que votaram pelo impeachment enquanto eles próprios respondem a acusações de corrupção.

Muitos desses mesmos políticos votaram para não afastar Temer no mês passado, quando ele foi acusado de corrupção em um caso relacionado, depois de ter sido secretamente gravado recomendando a um poderoso empresário fazer um acordo com um de seus auxiliares próximos, que depois foi filmado recebendo R$ 500 mil em dinheiro dentro de uma maleta.

Robertson disse que Lula foi perseguido pelo juiz Sérgio Moro, que se tornou um herói por atacar a corrupção endêmica no país, especialmente entre uma direita emergente que ganhou volume durante os protestos pró-impeachment mas não apareceu para se manifestar quando apareceram acusações mais sérias contra Temer. No Brasil, o juiz efetivamente age tanto como árbitro como quanto acusador.

"O sistema legal no Brasil remonta à Inquisição espanhola", disse Robertson. "A justiça não é feita e nem é vista sendo feita".

Aqui no nordeste, os apoiadores de Lula são firmes em afirmar que ele é objeto de uma armação. Enquanto sua caravana passa pelas paisagens ressequidas, entre cactos do tamanho de árvores, pessoas fluem para a rodovia, parando os ônibus, aplaudindo, saudando e filmando em seus celulares quando Lula sai para cumprimentá-los.

"Ele foi o melhor presidente que nós já tivemos no Brasil", disse Danilo Gomes, 20, desempregado, que estava na multidão em Agripina, onde o prefeito local armou um bloqueio em uma rotatória na estrada. "Se ele for candidato mil vezes, ele venceria mil vezes".

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