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    A cabeça de um homem

    Começou 2012, mas 2011 ainda não acabou, graças a Anders Breivik, Wellington de Oliveira e Nordine Amrani

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    Ou il est fou, ou il est innocent!
    Comissário Maigret

    O ano de 2012 começou com tudo, mas não dá pra dizer que 2011 acabou. Você já deve ter percebido que há anos que demoram mais a acabar do que outros, a depender do que ocorreu durante seus 365 dias. A longevidade varia de acordo com eventos de ordem pessoal – um casamento, uma mudança – ou coletiva. No caso de 2011, o que parece ter ficado de mais forte é o tsunami que varreu parte do Japão e reacendeu o perigo atômico. Mas, afora a força da natureza, o que ficou para mim, do balanço coletivo, foram os massacres cometidos por civis. 

    Provavelmente o número total de mortos nesses ataques surpresa não foi maior do que a soma dos óbitos de outros anos, mas um deles ocorreu no Brasil, o que não é normal, e, no pior dos atentados, apenas um homem levou quase 80 vidas. Dois mil e onze teve novo ataque no campus de Virginia Tech, no Estados Unidos, e, em abril, um holandês de 24 anos matou seis num shopping center na cidade de Alphen aan den Rijn. Não foram os únicos, mas, em meio a todos, destaco três para conceder a Desonra ao Mérito Demasiado Humano 2011. 

    Humano, no caso, está longe de ser essa coleção de regras e convenções que nos permite viver em grupo. Aliás, é o exato contrário: a incapacidade de resistir aos próprios impulsos combinada à capacidade de legitimá-los sob argumentos invariavelmente lunáticos. E, em 2011, ninguém foi mais humano, nesse sentido, do que Anders Behring Breivik, o famigerado carniceiro de Oslo. 

    Reunindo uma série de preconceitos de cunho xenófobo e conservador, Breivik atacou em dois lugares diferentes, usou dois tipos de arma e, para coroar a crueldade, deu preferência à morte de jovens – de quebra, ainda pôs em dificuldade a combalida direita mundial, sem falar na Lacoste. Não tem competição para ele em 2011. É nosso primeiro lugar.

    Quem mais se aproximou do norueguês foi Wellington Menezes de Oliveira, o vice. O jovem que disparou contra crianças numa escola de Realengo, no Rio, usou como justificativa para o ataque a crueldade e a covardia de que foi vítima, o que torna redundante qualquer comentário sobre o absurdo do raciocínio. Para piorar (ou melhorar sua posição no ranking dos piores), Wellington se matou, o que impediu a saciedade de nossa sede por justiça e a consequente impressão de que está tudo sob controle. 

    Por último, mas não menos humano, Nordine Amrani, o belga de origem marroquina que usou granadas para matar três, entre eles um bebê, e ferir uma centena, e que aparece aqui como contraponto àqueles que se valeram dos homicídios cometidos por Brevik para criticar o pensamento conservador. Graças ou não a sua origem africana, Amrani não teve vida fácil na Bélgica, onde se envolveu com crimes desde novo, e onde matou e morreu por se sentir perseguido.

    Três caras distintos – dois deles, opostos. O que têm a ver um com o outro além de figurar na primeira edição do Prêmio Demasiado Humano? Caso para o comissário Maigret, que lidou com um tipo desses em "A cabeça de um homem". Radek, um cara capaz de matar para se entreter. Um estrangeiro como Amrani, maltratado como Wellington e inteligente como Breivik. Quatro homens embriagados por um sentimento de superioridade limitado apenas pelas injustiças do acaso.

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