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Mundo

A Londres dos infelizes

Esta semana agitada nos ensina uma grande lição: Londres é bela e feliz só mesmo pra inglês ver

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Em desenvolvimento, os brasileiros cobiçam a grama mais verde dos vizinhos desenvolvidos. Mesmo que seja a grama cinzenta de Londres, além-mar e além-fogo. As gaivotas que aqui gorjeiam são mais limpinhas que os pombos imundos do Brasil. As pessoas são lindas, loiras e têm olhos claros. E falam inglês, veja só! Tem até príncipe, plebeia-princesa e casamento real. Tudo funciona como manda o figurino inglês: transporte público, sistema público de saúde, segurança... Segurança?!

A Inglaterra de agosto de 2011 testemunhou uma série de atos de vandalismo, incêndios criminosos, confrontos violentos com a polícia. Mais de mil pessoas foram presas em Londres. Em Clapham Junction, bairro no sul da capital, cerca de 400 adolescentes tomaram as ruas de uma só vez e saíram detonando as vitrines das lojas mais populares na segunda-feira à noite. Sim, eram arruaceiros, rebeldes, agressores. Mas o premiê britânico David Cameron erra ao dizer que era “criminalidade pura e simples”. Fosse um caso isolado, vá lá. Mas cenas como as de Clapham Junction se repetiram sucessivamente em mais de dez cidades inglesas.

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Se um brasileiro cheio de sacolas da Harrods passou perto do quebra-quebra, ele certamente achou que Londres estava mais “brasileira”. Os trombadões britânicos não deixam nada a desejar aos trombadinhas de arrastão na Praia Grande, de São Paulo. Eles usam expediente semelhante aos que botam fogo em ônibus na Baixada Fluminense. E gostam de surpreender todo mundo, como os manifestantes do MLST em suas aparições-relâmpago pelo Congresso Nacional.

Independentemente do cenário de destruição, é claro que há muito mais que “criminalidade pura e simples”. Milhares de pessoas no Reino Unido loiras e de olhos claros estão desempregadas. E das comunidades afro-britânicas também. Só que Londres é tão pop e cosmopolita que todo mundo vem pra cá, com ou sem trabalho à vista. A cidade é porto de escoamento de imigrantes, clandestinos, ilegais. Vale tudo pra estar à beira do Tâmisa. Até mesmo acumular quatro part-time jobs. De meio em meio expediente, a gente enche o bucho. Mas a insatisfação com bicos, a concorrência com estrangeiros e a falta de boas oportunidades no mercado de trabalho vão alimentando mesmo é o mal-estar dos britânicos.

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“Esta é uma geração que está preocupada com suas perspectivas – e isso não é responsabilidade de só um governo”, admitiu Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista em sessão extraordinária do Parlamento britânico nesta quinta-feira. Mas o clima de pessimismo não para por aí (e por aqui). A apatia política reina entre os que se frustraram com quase 15 anos de governo neoliberal dos trabalhistas. E, agora, vem a tesourada conservadora no Estado de bem-estar social. Inglaterra de recessão e cortes nos gastos públicos em segurança e educação.

Para completar o cenário, o Reino Unido é um dos países com maior taxa de desigualdade na Europa. De acordo com o PNUD, a distribuição de renda por aqui é duas vezes mais desigual que na Alemanha e na Suécia. Não à toa, moradores de bairros da periferia de Londres, como Totthenham (onde o caos começou), recebem um tratamento "diferenciado" da polícia, se comparado ao tratamento dispensado aos donos de mansões e helicópteros da chique Mayfair.

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De desigualdade e tensão social, o Brasil entende bem. Por isso, esta semana agitada nos ensina uma grande lição: Londres é bela e feliz só mesmo pra inglês ver.

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