Apartamento (muito mais modesto) ajudou a derrubar ministro francês

Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris

No ano de 2009, Bernard Kouchner foi considerado pelos franceses a segunda personalidade política mais bem respeitada do país, atrás apenas de Jacques Chirac, o ex-presidente da França. O French Doctor de sensibilidade de esqueda, que participou ativamente da organização mundial dos Médicos sem fronteiras, assumiu o ministério das Relações Internacionais no governo de Sarkozy. Ele se tornou o símbolo do apaziguamento entre os países africanos. Mas o currículo impecável começou a desmoronar quando uma investigação sobre os bens imobiliários do Vaticano revelou seu nome como um dos maiores beneficiários.

O ministro desfrutava de um duplex com janela para o jardim de Luxembourg, no bairro mais caro de Paris. O imóvel que fica no número 4 da rua Guynemer pertence ao Vaticano. Por intermédio de seu porta-voz, Kouchner disse que era locatário do apartamento há mais de 35 anos. François Mitterrand também morou no edifício. « Mesmo após assumir o cargo de ministro de Assuntos Internacionais, ele não considera isso um problema », completou Jacques Baudouin. Em contrapartida, o ministro não quis revelar a metragem do apartamento nem o montante do aluguel. Porém, segundo dados do inquérito sobre os bens do Vaticano, o duplex custaria a Kouchner a módica soma mensal de 5 mil euros, 30% inferior a tarifa de mercado.

Casado com Christine Ockrent, diretora da sociedade audiovisual internacional da França, que engloba a RFI, TV5 e France 24, Bernard Kouchner nunca precisou da caridade do Vaticano para viver. Sem contar com seu salário de ministro, sua mulher recebe uma remuneração baseada em prêmios que pode chegar a 310 mil euros por ano. O patrimônio do casal conta com apartamento no centro de Paris no valor de quase 300 mil euros, um outro na região periférica, a agência imobiliária Brothers e uma casa exótica na ilha de Córsega. Mas o fisco suspeita que seus bens vão muito além disso.

O Le Monde divulgou um esquema de desvios de Kouchner proveniente de relações oportunistas com ditadores africanos. O ministro, indignado, ameaçou a processar o jornal, mas acabou não o fazendo. No dia 6 de outubro de 2010, ele apresentou uma carta de demissão ao presidente Nicolas Sarkozy alegando problemas de entendimento com seus conselheiros.