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Após 1º ano, papa enfrenta desafios por expectativas de reforma

"Rezai por mim", pediu Francisco pelo Twitter nesta quinta-feira 13, quando celebra o primeiro aniversário de pontificado; comentários como "Quem sou eu para julgar?" sobre gays têm contrastado com o estilo mais distante de seus antecessores João Paulo 2º e Bento 16

"Rezai por mim", pediu Francisco pelo Twitter nesta quinta-feira 13, quando celebra o primeiro aniversário de pontificado; comentários como "Quem sou eu para julgar?" sobre gays têm contrastado com o estilo mais distante de seus antecessores João Paulo 2º e Bento 16 (Foto: Gisele Federicce)
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Por Tom Heneghan

13 Mar (Reuters) - No primeiro ano desde a sua surpreendente eleição, o papa Francisco ampliou tanto as esperanças em mudanças iminentes nos ensinamentos da Igreja que administrar todas as expectativas está sendo um desafio.

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O pontífice argentino chamou a atenção do mundo ao sugerir que poderia abrandar regras estritas da Igreja Católica sobre o divórcio, controle de natalidade, ordenação de mulheres, casamento de sacerdotes e uniões homossexuais.

Comentários como "Quem sou eu para julgar?" sobre gays têm contrastado com o estilo mais distante de seus antecessores João Paulo 2º e Bento 16.

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Mas, se por um lado suas palavras e aparições públicas têm encontrado ressonância em muitos católicos, qualquer um esperando mudanças rápidas sobre esses assuntos das manchetes irá provavelmente se decepcionar, disse o teólogo do Boston College Richard Gaillardetz.

"Há uma massa crítica de católicos que querem mudança", disse Gaillardet, presidente da Sociedade Teológica Católica da América. "Na mente de muitas pessoas, uma mudança substancial significa mudança em (...) controle de natalidade, ordenação de mulheres e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

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"Este papa empreendeu mudanças muito substanciais, mas isso não necessariamente se reflete em doutrinas específicas", acrescentou.

Em vez disso, dizem Gaillardetz e outros, o papa Francisco busca uma transformação mais profunda na Igreja para se tornar o que ele chama de um "hospital de campo" a serviço das necessidades dos fiéis, mais do que uma instituição voltada para dentro de si e mais preocupada com suas próprias regras e procedimentos.

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De qualquer forma, ele parece estar enfrentando a versão religiosa do que os cientistas políticos chamam de "revolução de expectativas crescentes", o momento em que as pessoas pensam que seus distantes líderes os ouvem e começam a demandar mudanças.

HUMANAE VITAE

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Os católicos mais velhos vão se lembrar de quando as expectativas de uma aprovação do Vaticano para a contracepção cresceram na década de 1960, apenas para serem frustradas em 1968, quando encíclica do Papa Paulo VI Humanae Vitae surpreendeu muitos fiéis, defendendo a proibição tradicional.

Muitos fiéis abandonaram a Igreja e sacerdotes deixaram o clero. Um grande número dos que ficaram começaram simplesmente a ignorar os ensinamentos do Vaticano sobre sexo.

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Francisco afastou gentilmente na semana passada as expectativas de mudanças rápidas, dizendo a um entrevistador que ele não era "uma espécie de super-homem ou uma estrela", mas apenas " uma pessoa normal".

"Não é uma questão de mudar a doutrina, mas de ir mais fundo, de modo que a pastoral leve em conta as situações e o que pode ser feito para as pessoas", acrescentou.

O grupo de reforma internacional "Nós Somos Igreja" disse estar preocupado com a estagnação nas reformas por "uma forte resistência na estrutura de poder". O grupo também pediu a Roma para reabilitar padres e teólogos liberais disciplinados nas últimas décadas.

Essas demandas estão vindo à tona agora porque Francisco encorajou os católicos a discutir questões sensíveis de forma mais aberta e até mesmo encomendou uma pesquisa sem precedentes para ouvir as opiniões dos fiéis.

"Ele basicamente reabriu um debate que esteve fechado durante os dois pontificados anteriores", disse o teólogo italiano Massimo Faggioli, historiador do II Concílio do Vaticano (1962-1965), que lançou as reformas que Francisco quer retomar.

PESQUISA

Os resultados da pesquisa publicados na Europa mostraram como é grande a lacuna entre os ensinamentos da Igreja e a vida dos católicos.

"As declarações da Igreja sobre relações sexuais pré-matrimoniais, homossexualidade, divórcio e segundo casamento, e controle de natalidade ... quase nunca são aceitas, ou são expressamente rejeitadas na grande maioria dos casos", disse a conferência dos bispos alemães em seu relatório contundente ao Vaticano.

Segundo o documento, muitos não entendem a regra de que os católicos divorciados não podem se casar na igreja e devem ter o sacramento negado, se optar por uma cerimônia civil. Muitos fiéis vêem isso como "discriminação injustificada e... sem piedade."

Mas também informou que a maioria dos católicos confirma o ideal do casamento heterossexual e a oposição ao aborto.

Uma pesquisa do Pew Research Center, em Washington na semana passada, mostrou que Francisco é "imensamente popular entre os católicos norte-americanos", mas muitos ainda divergiam dos ensinamentos do Vaticano.

"A grande maioria dos católicos diz que a Igreja deve permitir que os católicos usem controle de natalidade (77 por cento), que os padres se casem (72 por cento) e a ordenação de mulheres como sacerdotes (68 por cento)", apontou o relatório Pew.

IGREJA GLOBAL

O Catolicismo romano, a maior igreja cristã do mundo, abriga desde profissionais ocidentais a camponeses africanos entre seus 1,2 bilhão de membros.

"Nesta igreja global, existem diferentes expectativas em lugares diferentes", observou Faggioli, que leciona na Universidade de St. Thomas, em Minnesota.

Gaillardetz disse que a grande mudança que Francisco deseja é divulgar uma nova interpretação do Concílio Vaticano II, que se propôs a transformar a Igreja fortemente hierárquica em uma estrutura mais horizontal com a divisão de responsabilidades e poder entre Roma e as igrejas nacionais e entre clérigos e leigos.

"Isso acabará por ter consequências abrangentes, mas elas não são do tipo que acontecem dentro de um ano", disse ele.

Críticos impacientes aguardam um encontro de bispos em Roma, em outubro, para discutir os resultados da pesquisa. Mas não serão tomadas decisões, que serão deixadas para um segundo concílio no próximo ano.

"Ele está dizendo a bispos e padres: 'vocês podem falar que nós estamos ouvindo'. Esta é uma grande mudança", disse Faggioli. "Alguns estão prontos para fazer isso, como os alemães. Mas outros, como os Estados Unidos e a Itália, ainda não estão prontos."

Sob os papas João Paulo 2º e Bento 16, os concílios ocorreram em sessões com pouco debate. Se os bispos não se abrirem neste momento, segundo ele, será "um grande golpe" para Francisco.

"Os preparativos para o concílio Vaticano II foram uma grande decepção, mas quando os bispos chegaram a Roma, eles encontraram a sua voz", disse. "Talvez quando eles se reunirem para o concílio, uma nova química começará a se formar."

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