Avanços no Mercosul
A boa notícia ficou por conta da disposição de Bolívia e Equador de passarem a fazer parte do Mercosul de forma efetiva. Ficarão faltando Colômbia e Chile
A 41ª Cúpula do Mercosul, realizada há uma semana em Assunção (Paraguai), reforçou dois movimentos fundamentais ao futuro do continente: a adoção de mecanismos de proteção comercial e a ampliação do número de países-membros do tratado de integração regional.
Foi do Brasil a proposta de que os integrantes aumentem sua proteção comercial frente à crescente onda de produtos baratos vindos da Europa, Ásia e EUA. A proposta foi inicialmente bem recebida, mas deverá ser discutida em breve. Em debate, a possibilidade de cada país-membro aumentar individualmente seus tributos de importação sobre bens que não façam parte do bloco comercial.
Em meio a uma guerra cambial, como o diz o ministro Guido Mantega (Fazenda), que embute uma intensa guerra comercial, essa questão é fundamental para que o Mercosul se prepare e crie defesas econômicas às tentativas dos países desenvolvidos de repassarem a conta da crise mundial para as nações sul-americanas. Isso tem sido feito por meio de medidas dos países ricos de injeção de liquidez, envenenando nossa capacidade de competição comercial.
É preciso traçar os cenários em relação à ideia de maior proteção comercial no Mercosul, para que não incorramos numa política que gere outra ordem de problemas no futuro. Ademais, estamos em meio a uma guerra comercial e precisamos também jogar diplomaticamente. Sabemos, contudo, que a persistir o atual quadro internacional, precisaremos decidir como protegeremos a economia do bloco.
Outra questão importante no que se refere à economia do Mercosul é o problema cambial, que afeta o Brasil, mas também a Argentina e o Peru. A valorização das moedas desses países reduz a competitividade de suas indústrias, algo que preocupa. Há espaço para estratégias conjuntas? É preciso estudar isso.
A boa notícia ficou por conta da disposição de Bolívia e Equador de passarem a fazer parte do Mercosul de forma efetiva. Hoje, como associados, Bolívia e Equador já participam das reuniões do bloco, mas não têm direito a voto. A se concretizar essa disposição e se o Parlamento do Paraguai aprovar o ingresso da Venezuela, pleiteado há seis anos, ficarão faltando a Colômbia e o Chile. Com o Chile, aliás, o Mercosul já mantém relações especiais.
Com um passo de cada vez, o bloco vem se consolidando América do Sul. De fato, a união aduaneira e o livre comércio configuram como único caminho para o desenvolvimento comum dos países da região. Além disso, é a melhor maneira de aproveitarmos o seu potencial regional de energia, petróleo, gás, agroindustrial e de minérios.
É um potencial que, para ser plenamente aproveitado, exige não apenas avanços na integração aduaneira e comercial, mas, igualmente, de investimentos na infraestrutura e de uma política industrial regional. Trata-se de desafio que não podemos deixar em segundo plano, ainda mais no cenário atual de avanço das forças de esquerda no continente. Se nos dedicarmos com empenho, determinação e vontade política, nossos objetivos regionais serão alcançados.
José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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