BC grego alerta sobre saída 'dolorosa' do euro e da EU
Caso não haja consenso com os credores da dívida para destravar um empréstimo de € 7,2 bilhões, Banco Central da Grécia sinaliza que país poderá sair da União Europeia e deixar de utilizar a moeda única do bloco, o euro: “Tudo isso implicaria em recessão profunda, declínio dramático nos níveis de renda, crescimento exponencial do desemprego e colapso de tudo aquilo que a Grécia conseguiu atingir após anos de filiação à UE e, especialmente, à Eurozona”
Por Opera Mundi
Um relatório emitido nesta quarta-feira (17/06) pelo Banco Central da Grécia alerta, pela primeira vez, que o país poderá sair da União Europeia e deixar de utilizar a moeda única do bloco, o euro, caso não haja consenso com os credores da dívida para destravar um empréstimo de € 7,2 bilhões.
O documento do BC grego afirma que o fracasso no acordo "marcaria o começo de uma trajetória dolorosa que levaria, inicialmente, ao calote e, em última instância, a saída da Eurozona e da UE".
O anúncio de hoje, produzido pelo próprio BC grego, indica que a Grécia não tem mais caixa para liquidar o montante de € 1,6 bilhão que deve ser pago ao FMI (Fundo Monetário Internacional) até o final deste mês de junho. O relatório do banco é divulgado à véspera de uma reunião entre os ministros das finanças do Eurogrupo nesta quinta (18/06), visto como a última chance de se chegar a um acordo antes do fim do prazo.
Até o momento, as negociações não conseguiram chegar a um meio termo entre Atenas e a troika de credores da dívida grega, formada por FMI, BCE (Banco Central Europeu) e Comissão Europeia. O governo grego, chefiado pelo premiê Alexis Tsipras, continua firme sobre não aceitar novas medidas de austeridade — agenda contra a qual seu partido, o esquerdista Syriza, foi eleito no pleito de janeiro.
No relatório, a Grécia põe a culpa nos credores — que, por sua vez, culpam Atenas — e alerta que um colapso econômico comparável à Grande Depressão dos anos trinta quebrou as contas gregas, deixando o país incapaz de quitar as parcelas.
O BC grego adverte, ainda, para consequências mais amplas — e "incontroláveis" — do fracasso em resolver a crise da dívida: o próprio sistema bancário e estabilidade financeira do país estariam em risco, diz a instituição. Dessa maneira, a saída da Eurozona tornaria o cenário econômico ainda mais hostil do que já está, aprofundando uma crise cambial que levaria a inflação grega às alturas. Entre os meses de outubro e abril, por exemplo, mais de € 30 bilhões foram sacados pela população dos bancos gregos, afirma o documento.
Diz o relatório do BC grego, ao classificar o acordo sobre a dívida um "imperativo histórico", impossível de ser ignorado:
Tudo isso implicaria em recessão profunda, declínio dramático nos níveis de renda, crescimento exponencial do desemprego e colapso de tudo aquilo que a Grécia conseguiu atingir após anos de filiação à UE e, especialmente, à Eurozona.
Gregos vão às ruas contra a austeridade
Também hoje, milhares de pessoas participaram de uma manifestação em Atenas para apoiar o governo da Grécia nas negociações com os credores e exigir o fim das políticas de austeridade no país. A concentração, que foi convocada pelo Facebook, reuniu cerca de 7 mil pessoas em frente à sede do parlamento, segundo informou a polícia.
"Fim da austeridade", "Nossa vida não pertence aos credores" e "A soberania da Grécia é inegociável" foram alguns dos cartazes que podiam ser lidos no protesto que reuniu simpatizantes do partido governante Syriza, muitos cidadãos anônimos e membros de plataformas contra a austeridade como Ilias, que pertence ao movimento "Não pagamos".
Comissão internacional de especialistas
O Comité de Auditoria à Dívida, formado por especialistas internacionais que estão realizando uma auditoria na dívida pública grega, afirmou hoje que a Grécia não deve pagar a dívida contraída entre 2010 e 2015 porque é fruto de acordos que infringem os direitos humanos.
"A Grécia não só não pode pagar a dívida, mas não deve pagá-la, porque a dívida assumida pelos acordos com a troika infringem diretamente os direitos humanos dos gregos", assinalou a comissão, criada pelo parlamento, ao apresentar os resultados preliminares desta pesquisa.
Os primeiros resultados analisaram o período compreendido desde 2010, na assinatura do primeiro resgate com a troika até hoje, embora o objetivo da comissão seja "analisar o crescimento da dívida pública grega desde a década de 1980".
O comitê é coordenado pelo analista político belga Éric Toussaint, PhD em Ciência Política pela Universidade de Liège e pela Universidade Paris VIII, e começou a trabalhar voluntariamente em abril.
* Com informações da Agência Efe
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