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Mundo

Brasil vira protagonista em busca da paz, enquanto EUA ficam isolados e enfraquecem a ONU

Segundo o colunista Marcelo Zero e o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), o governo Joe Biden vai arcar 'com o ônus do vergonhoso veto' a uma resolução do governo Lula

Luiz Inácio Lula da Silva à esq.), Joe Biden e a Faixa de Gaza (Foto: Ricardo Stuckert/PR | Reuters/Jonathan Ernst | Reuters/Mohammed Salem)
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Por Marcelo Zero e Lindbergh Farias - Se pudéssemos identificar a principal diretriz atual da diplomacia do governo Lula, diríamos que é esta: a defesa da vida.

Defesa da vida dos nossos nacionais que estão em Gaza e Israel e defesa da vida de todos: palestinos, israelenses e de quaisquer outras nacionalidades.

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No caso das brasileiras e dos brasileiros, nosso país montou uma complexa e delicada operação de resgate. Operação bem-sucedida e pioneira no campo mundial. Restam, no entanto, os que estão em Gaza, sofrendo com condições desumanas e impedidos de sair.

Ao mesmo tempo, o presidente Lula e o governo brasileiro, que preside hoje o Conselho de Segurança da ONU, vêm trabalhando arduamente pelas negociações, pela paz, pela criação de um corredor humanitário em Gaza e para evitar mais mortes e sofrimento, especialmente entre crianças e civis inocentes.

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Infelizmente, sempre que o Brasil alcança protagonismo mundial em busca da paz, os EUA se opõem.

Foi assim, no caso do acordo do nosso país com o Irã e a Turquia, para resolver o imbróglio em torno do programa nuclear iraniano. Tratou-se de um acordo histórico, que as grandes potências buscavam há tempos. Mas os EUA “vetaram”.

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Agora, os EUA vetaram a nossa Resolução no CSNU, que estava em sintonia com a comunidade internacional, com os valores civilizatórios e com as próprias decisões da ONU.

Em boa parte, a nossa equilibrada e arduamente negociada Resolução foi vetada porque os EUA pretendiam que Biden anunciasse alguma coisa nesse sentido, em seu périplo fracassado no Oriente Médio. Não admitem protagonismos alternativos. Apostam no velho e belicoso unilateralismo.

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Pior para os EUA. Ficaram isolados e arcarão com o ônus do vergonhoso veto.

Os países árabes se recusaram a se encontrar com Biden e os EUA somente conseguiram anunciar a possível entrada de 20 caminhões com ajuda humanitária em Gaza. Um nada. Biden pretende mandar, no entanto, cerca de US$ 10 bilhões em ajuda a Israel, inclusive em armamentos, e mais US$ 60 bilhões à Ucrânia. Para guerras, não faltará dinheiro.

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Enquanto isso, a ONU enfraquece-se ainda mais.

Proteger a vida implica empenhar-se em negociações e buscar a paz. Isso, por sua vez, demanda equilíbrio e neutralidade.

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O Brasil é um histórico defensor da criação de um Estado Palestino soberano, geograficamente coeso e economicamente viável, situado nos territórios ocupados por Israel desde 1967, a saber: Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.

Em contrapartida, o Brasil teve papel histórico no reconhecimento do Estado de Israel.

Com efeito, o Brasil, através da atuação decisiva de Osvaldo Aranha, Presidente da II Assembleia Geral da ONU, teve participação central na aprovação da Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947.

Essa Resolução, que criou o Estado de Israel, assegurou, ao mesmo tempo, ao povo palestino, o direito à criação de um Estado que conviveria pacificamente com Israel, configurando o que se chama de “solução de dois Estados” para aquele conflito do Oriente Médio.

Assim, o Brasil tem, tradicionalmente, uma posição de cultivado equilíbrio, em relação ao conflito israelo-palestino.

Damos um exemplo.

Em 2010, Lula realizou a primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro a Israel. Foi um marco histórico das relações bilaterais. Lá, fez um discurso no Knesset, o parlamento israelense, no qual defendeu a convivência pacífica entre um Estado israelense e um Estado palestino, conforme o que apregoa a ONU e a maioria da comunidade internacional. Lembrou da convivência pacífica entre árabes e judeus no Brasil. Foi aplaudido de pé.

Destacamos alguns trechos desse discurso histórico:

“Temos urgência de ver israelenses e palestinos vivendo em harmonia. A estabilidade dessa região atenuará o sofrimento daqueles que perderam seus entes queridos em décadas de enfrentamento. Com alguns deles; familiares de vítimas dos dois lados; devo encontrar-me para escutar seus sentimentos e suas aspirações.

Mas essa estabilidade desejada será, sobretudo, a garantia de que um conflito regional não se espraiará pelo resto do Planeta, ameaçando a paz mundial. O que está em jogo aqui, portanto, não é somente o futuro da paz nesta região, mas a estabilidade de todo o mundo.

É chegada a hora de abrir um círculo virtuoso de negociações nesta região do mundo, superando desconfianças e desentendimentos, em nome de valores mais elevados. A história recompensará os que seguirem este caminho.”

Esse discurso de Lula continua atualíssimo.

Ademais, Lula teve o cuidado óbvio de, na mesma viagem, visitar a Palestina.

Contrariando toda essa tradição diplomática brasileira, pacientemente construída ao longo de décadas, e as próprias Resoluções da ONU sobre o tema, o governo Bolsonaro decidiu apoiar as atitudes agressivas da extrema direita israelense a geopolítica antipalestina do governo Trump.

Esse alinhamento, contraproducente e desnecessário, do governo Bolsonaro com Trump e com as posições belicosas da extrema-direita de Israel provocou atrito junto à Autoridade Palestina e outros países árabes. Motivaram, também, moções condenatórias da Liga dos Estados Árabes (LEA) e o cancelamento, pelo Egito, de visita que o então chanceler Aloysio Nunes faria ao Cairo, logo após as eleições de 2018. A exclusão da Palestina do roteiro das duas viagens presidenciais ao Oriente Médio também gerou grande mal-estar com os palestinos.

Agora, esses mesmos setores políticos demandam que o novo governo Lula abandone sua posição de neutralidade, em relação à guerra entre o Hamas e Israel. Como no caso da Ucrânia, exigem alinhamento e cobram participação, direta ou indireta, em conflitos que provocam mortes e tragédias humanitárias.

Parecem dispostos até mesmo a arriscar a vida dos brasileiros que estão em Gaza.

Destaque-se que a maior parte da sociedade israelense quer a paz e critica as políticas agressivas e belicosas do atual governo de extrema-direita de Israel.

Impossível deixar de registrar que o jornal Haaretz, o mais importante e representativo de Israel, afirmou, em editorial recente, que o governo Netanyahu, um “governo de anexação e desapropriação”, que “ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos”, é o principal “culpado pela guerra”.

Segundo pesquisa de opinião recente do jornal Maariv, apenas 29% das pessoas pensam que Netanyahu ainda está qualificado para ser primeiro-ministro. E somente um quinto dos entrevistados disse que gostaria que ele ainda fosse primeiro-ministro quando a guerra terminasse.

A maioria dos israelenses sabe que o preço da verdadeira segurança de Israel é o respeito integral aos direitos inalienáveis do povo palestino. Esse é o único caminho viável para uma paz duradoura na região.

Um caminho espinhoso, difícil e tantas vezes incompreendido. O caminho que percorreu, entre outros, Yitzhak Rabin, ao assinar os Acordos de Oslo e, ao dizer, no Knesset:

Estamos destinados a viver juntos, no mesmo solo, na mesma terra. Nós, os soldados que regressamos da batalha manchados de sangue, nós que vimos os nossos familiares e amigos mortos diante dos nossos olhos, nós que assistimos aos seus funerais e não podemos olhar nos olhos dos seus pais, nós que viemos de uma terra onde os pais enterram os seus filhos, nós que lutamos contra vocês, os palestinos. Nós lhes dizemos hoje em voz alta e clara: Chega de sangue e lágrimas. Chega!

Não temos desejo de vingança. Não guardamos ódio contra vocês. Nós, assim como vocês, somos pessoas que querem construir uma casa, plantar uma árvore, amar, viver lado a lado de vocês com dignidade, com empatia, como seres humanos, como homens livres. Estamos hoje a dar uma oportunidade à paz e a dizer-vos novamente com uma voz clara: Basta!

Esse caminho, o caminho do perdão, da tolerância, da paz, da defesa da vida é um caminho que requer coragem e firmeza extremas. A barbárie é o caminho dos covardes. A estrada da vergonha.

Rabin pagou o preço maior por tal coragem. Foi assassinado por um extremista israelense, do mesmo tipo dos que hoje clamam por sangue e vingança em Gaza.

Por ironia da história, Itamar Ben-Gvir, atual ministro de Segurança Nacional do Governo Netanyahu, teria aparecido, segundo artigo publicado no jornal Haaretz, na televisão israelense, semanas antes do assassinato, brandindo um emblema da marca Cadillac, que havia sido roubado do carro de Rabin, e teria declarado: "Chegamos ao seu carro, e vamos chegar até ele também."

À época, Ben-Gvir era um jovem militante do partido ultrarradical Kach e Kahane Chai, que acabou sendo designado como uma organização terrorista e proibido pelo próprio governo israelense.

Mas ele não parece ter evoluído muito, com a maturidade. Segundo o Jerusalem Post, Ben-Gvir já teria sofrido uma condenação por incitação ao racismo. É líder do partido de extrema-direita israelense Otzma Yehudi, o qual haveria defendido a expulsão de árabes do território de Israel.

Um governo que abriga indivíduos com essa mentalidade extremista em altos cargos não deve resultar em boa coisa. Tais governos de extrema-direita resultam, em geral, em autoritarismo, enfraquecimento das instituições democráticas, ataques ao judiciário e desprezo pelos direitos humanos e pela vida. Além disso, acentuam a insegurança, como ficou provado no ataque do Hamas. Nós, brasileiros, sabemos como essa história termina.

O Brasil não ser vergará às pressões pela guerra; às pressões da compulsão pela morte, pelo confronto, que anima o bolsonarismo e a extrema-direita mundial.

Parafraseando Rabin, construiremos a casa da paz e plantaremos a árvore da vida.

Não deixaremos cair de nossas mãos o ramo de oliveira, símbolo da paz referido no primeiro discurso de Arafat, ante o plenário das Nações Unidas.

A história, como afirmou Lula no Knesset, nos recompensará.

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