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Casamento gay na França: muita fumaça, para pouco fogo

Nesses tempos difíceis de crise econômica que encobre o céu do Hexágono, o surgimento do arco-íris, símbolo do movimento homossexual, traz um certo alívio para o governo de François Hollande; é menos arriscado politicamente mexer numa medida que visa 1% do total de casais do que propor a revisão de direitos como o seguro desemprego de dois anos; reportagem de Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris

Casamento gay na França: muita fumaça, para pouco fogo (Foto: DELPHINE GOLDSZTEJN)

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Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris – Menos de 24 horas depois do anuncio do papa Bento XVI de que renunciaria, Assembleia Nacional da França adotou o projeto de lei "Casamento para todos", com 329 votos a favor e 229 contra. O projeto de lei, a primeira grande reforma social do presidente socialista François Hollande, ainda precisa ser analisado a partir de 2 de abril pelo Senado.

A França, que em tempos antigos era considerada a "filha mais velha da Igreja Católica”, está prestes a conceder a homossexuais o direito de trocar alianças oficialmente. 

Nesses tempos difíceis de crise econômica e desemprego em massa que encobrem o céu do Hexágono, o surgimento do arco-íris, símbolo do movimento gay, traz um certo alívio.

Passar dez dias, ou 110 horas, sobre o texto da legalização do "casamento para todos" parece mais fácil do que proporcionar o "trabalho para todos".

Muita fumaça, para pouco fogo. A sociedade francesa não deixará de ser menos preconceituosa ou menos católica. Isso porque, o impacto dessa medida é muito pequeno. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (INED), casais franceses do mesmo sexo que moram juntos representam apenas 1% do número total.

Além disso, a sociedade francesa em geral anda desacreditada na união civil de casais, enquanto os divórcios têm aumentado.

Entre 2001 e 2011, o número de casamentos civis na França passou de 300 mil para 241 mil, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (INSEE).

E mais, os homossexuais já estavam incluídos nos pactos civis de solidariedade (PACS) desde 1999 - que saltaram de 20 mil para mais que 205 mil. Mesmo assim, quase 95% desses casais são heterossexuais.

O olho do furacão nessa questão ficou de fora por enquanto. A polêmica da Procriação Medicamente Assistida (PMA) para os casais de mesmo sexo, autorizada na França para os casais heterossexuais que não podem engravidar, deve ser alvo de uma outra lei mais ampla sobre a família, que está sendo preparada para o fim do ano.

Passar na frente esse projeto de lei é muito menos arriscado politicamente do que discutir a diminuição do tempo do seguro desemprego, atualmente de dois anos, ou propor novas reformas fiscais, por exemplo.

Depois de registrar crescimento zero em 2012, a França deve revisar para baixo sua meta de crescimento para este ano, sinalizou nesta quinta-feira o ministro das Finanças, Pierre Moscovici. E nesse debate, ninguém saiu às ruas até agora para protestar. 


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