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Como a direita boliviana reagirá à confirmação da vitória de Luis Arce?

OEA e adversários políticos do MAS reconhecem o resultado da boca de urna, mas analistas pedem cautela

(Foto: Reprodução)
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Por Daniel Giovanaz no Brasil de Fato - Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), será o novo presidente da Bolívia, segundo as pesquisas de boca de urna divulgadas na noite do último domingo (18). Com 21 pontos percentuais de vantagem sobre o ex-presidente Carlos Mesa (Comunidade Cidadã) e quase 40 em relação a Luis Camacho (Acreditamos), o candidato apoiado por Evo Morales (MAS) se pronunciou no mesmo dia em tom de vitória: “Recuperamos a democracia e a esperança.”

A Organização dos Estados Americanos (OEA), a presidenta interina Jeanine Áñez e os adversários políticos do MAS que apoiaram o golpe de 2019 reconheceram a vitória de Arce antes mesmo do resultado oficial. No entanto, a sociedade boliviana continua polarizada, e analistas políticos mantêm o sinal de alerta sobre as pressões que o presidente eleito deve sofrer antes e depois de assumir.

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Alegria e cautela

Para Alpacino Mojica, líder do MAS em Santa Cruz – um dos berços do golpe –, a diferença expressiva de votos mostra que “a Bolívia quer seguir progredindo, se desenvolvendo, crescendo”.

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“Ontem foi um dia histórico, em que nossos irmãos indígenas, camponeses, quéchuas, aimarás, todos se uniram para que a democracia volte à Bolívia, para que o progresso e o desenvolvimento sejam restabelecidos a todos os bolivianos”, celebra.

“Nesses quase dez meses, sofremos de tudo: perseguição, pilhagem, corrupção”, lembra. “Mas nos sentimos orgulhosos porque a tranquilidade está de volta e agora temos um novo presidente eleito pelo voto.”

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Em entrevista no domingo (18), Gladstone Leonel Jr., especialista no constitucionalismo boliviano, afirmou que “só uma vitória do MAS pode pacificar o país, porque foi o MAS que venceu as eleições de 2019”.

Após o resultado da boca de urna, o pesquisador, que também professor de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) fez algumas ponderações.

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“Será um primeiro passo para a retomada democrática no país, mas isso não é o suficiente para que o bloco de mobilização indígena-popular baixe a guarda, ao contrário”, escreveu, em coluna publicada pelo Brasil de Fato.

“O momento requer ainda atenção, cautela e mobilização para a confirmação dos resultados. Na eleição de 2019, foi no momento da apuração de votos que o pleito foi questionado pela OEA, sem qualquer indício de fraude, abrindo espaço para uma tomada golpista do poder.”

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Lições

“Os conflitos não irão parar por agora e podem se intensificar diante da conjuntura ainda conservadora dos países do seu entorno”, completa o especialista.

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“Por exemplo, o concorrente da extrema-direita Fernando Camacho tende a se cacifar como alternativa de desestabilização e não é descartado movimentos que insuflem o separatismo na região de Santa Cruz de la Sierra, como já ocorreu em outros períodos históricos.”

“Por que o golpismo venceu em 2019?” Para o sociólogo boliviano Boris Ríos, essa a pergunta-chave que deve ser feita pelos movimentos populares.

“Houve um momento, no processo de mudança, em que o MAS tentou incluir a classe média, dar poder de decisão a setores empresariais, para tentar ampliar sua hegemonia”, lembra.

“Avalio que essa tese é equivocada. O que permitiu a realização de eleições e a sobrevivência do MAS foi o movimento popular organizado, com consignas radicais, falando de socialismo, da luta contra a ditadura, falando de revolução.”

Sobre as reações da direita boliviana após a divulgação da boca de urna, Ríos chama atenção para a que considera mais importante: a renúncia de Arturo Murillo, ministro de Governo da presidenta autoproclamada Jeanine Áñez e “um dos coordenadores da repressão”.

Freddy Bobaryn, porta-voz do MAS na capital La Paz, afirma que as lições do golpe foram absorvidas. "Em um momento de crise, aprendemos a escutar novamente. Precisávamos, com muita urgência, reconstruir o tecido social", analisa.

"O golpe foi resultado de fraturas entre campo e cidade, Ocidente e Oriente. E o que fizemos para vencer foi encontrar espaços de diálogo, respeito entre camponeses, operários, buscar um olhar mais amplo sobre o que nos une, mais do que aquilo que nos separa."

Questionado sobre erros cometidos nas gestões passadas e que precisam ser corrigidos, Bobaryn cita a burocratização do partido. "Havia temas que ninguém podia falar. Viramos, em alguma medida, um partido conservador, que defendia o establishment, o status quo. E onde todos pensam igual, ninguém pensa."

"Vemos o futuro com otimismo", acrescenta. "A direita boliviana foi derrotada, e agora é hora de pensar formas de reconstruir o país, dando sinais claros ao povo de que haverá uma renovação, com novos atores, e os jovens serão os protagonistas dos próximos cinco anos."

 A direita boliviana não é capaz de responder às necessidades do povo 

Zoe Pepper-Cunningham, jornalista e observadora internacional nas eleições de domingo, relata que a sociedade boliviana permanece dividida. Segundo ela, a polarização se observa, particularmente, em torno da figura do ex-presidente Morales.

“Por outro lado, esse quase um ano de governo de Áñez deixou uma mensagem clara: de que a direita boliviana não é capaz de responder às necessidades do povo”, pondera.

A jornalista estadunidense enfatiza que a votação de Arce foi ainda mais expressiva que a de Morales em 2019, mas chama a atenção para regiões específicas do país, como Santa Cruz, onde pode haver levantes golpistas: “Vamos ter que esperar os resultados oficiais para saber se a direita, de fato, vai respeitar a eleição”.

A contagem oficial dos votos deve terminar entre quarta (21) e quinta-feira (22). Para vencer em 1º turno, Arce precisa somar mais de 40% dos votos ou abrir dez pontos percentuais em relação a Mesa. No momento, segundo a apuração oficial, os dois candidatos estão tecnicamente empatados.

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