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Contra negacionismo, Europa luta para preservar memória 80 anos após Holocausto

Os sobreviventes desse episódio são cada vez menos numerosos e a narrativa se concentra agora principalmente nas mãos dos historiadores

(Foto: Yad Vashen Archives/Via Reuters)
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Olivier Favier, da RFI

Em 20 de janeiro de 1942, quinze funcionários do alto escalão do 3° Reich se reuniam em uma mansão ao sudeste de Berlim para organizar a “solução final”, nome dado a uma estratégia que já vinha sendo implementada há alguns meses na Europa, impulsionada do Adolf Hitler. A expressão era usara para definir o genocídio dos judeus dos territórios ocupados pela Alemanha e, em seguida, no mundo inteiro.

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Dos mais de 9 milhões de judeus presentes na Europa, quase dois terços foram mortos entre 1941 e 1945. Segundo as estimativas do historiador Raoul Hilberg, 2,7 milhões foram eliminados nas câmaras de gás e 1,3 milhão foram fuzilados ao ar livre.

É esse caráter organizado e em escala industrial que faz desse genocídio um fenômeno único. Mesmo se o Holocausto é às vezes comparado em extensão e horror a outros massacres em massa realizados no século XX, como o dos tutsis em Ruanda, a Shoah entrou para a história por sua extensão geográfica e pela execução metódica dessa aniquilação.

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Os sobreviventes desse episódio são cada vez menos numerosos e a narrativa se concentra agora principalmente nas mãos dos historiadores, cada vez menos dependentes de relatos dos que presenciaram os horrores.

“Nunca entendi essa ideia de que o desaparecimento das testemunhas iria mudar alguma coisa”, defende o Tal Bruttmann, especialista do Holocausto. “Continuamos a escrever a história da queda de Roma e do tráfico de escravos”, compara o historiador.

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Revisionismo 

Se Bruttmann defende a importância em se preservar e promover a memória do Holocausto é porque o tema ainda é delicado em alguns países, principalmente nos últimos anos, com o crescimento de grupos extremistas ou partidos de extrema direita, que distorcem a história em função de seus ideais políticos.

É o caso da Polônia, onde o nacionalista PiS está à frente do país desde 2015, após um período no poder entre 2005 e 2009. Para o roteirista Antoine Germa, que prepara um filme sobre a memória do genocídio, as forças políticas atuais “se recusam a falar da colaboração polonesa e fazem do Holocausto um fenômeno puramente alemão e puramente estrangeiro”, esvaziando o debate e a importância do episódio. “Não se trata de limpar a consciência, mas de compreender verdadeiramente o que significou o Holocausto. Quando não há apoio político, tudo desmorona muito rapidamente”, insiste Germa.

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Um fenômeno similar de revisionismo é visto na Itália. Desde a chegada de Silvio Berlusconi ao poder em 1994, levando consigo a “ala moderada” dos neofascistas do recém-refundado MSI, o país experimentou uma espécie de revisionismo de Estado.

A Itália também é conhecida por uma historiografia ambígua ou pelo menos discreta sobre o antissemitismo do regime de Mussolini e sobre a participação ativa, com pleno conhecimento dos fatos, da República Nazi-fascista de Salò no Holocausto, entre setembro de 1943 e abril de 1945. Alguns livros clássicos, como o best-seller A História da Itália, de Sergio Romano, não faz nenhuma alusão às leis raciais de 1938 no país que proibiam, entre outras coisas, os judeus da Itália de acessar muitas profissões e serviços públicos.

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Outro exemplo flagrante desse revisionismo é o da Áustria, que “até hoje se vê como a primeira vítima do nazismo”, ressalta Tal Bruttmann. No entanto, lembra o historiador, o Anschluss – termo usado para denominar a anexação do território austríaco pela Alemanha nazista em 1938 –, foi favoravelmente acolhido pela população. “É um país que se eximiu de toda responsabilidade. Vale lembrar que o primeiro monumento às vítimas do Holocausto em Viena data de apenas dez anos. Em compensação, há vários monumentos em homenagem às vítimas dos bombardeios aliados”, frisa Bruttmann.

Extrema direita se apropria e distorce o passado

Já na Alemanha, a relação ambígua com o passado nazista é alimentada pela extrema direita nacionalista que ganha força atualmente no país. “Mesmo se não é explicitamente antissemita, o AFD [partido da direita populista radical, contrário à imigração] sempre que pode mobiliza um discurso sobre a raça”, lembra o historiador Christian Ingrao.

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Bruttmann também alerta para o retorno dos discursos revisionistas, e cita o exemplo de Éric Zemmour, pré-candidato à presidência francesa conhecido por suas declarações polêmica e que, segundo o historiador, vai bem além do racismo e da xenofobia tradicional de Jean-Marie Le Pen.

“Le Pen não reescreveu a história, mesmo que tenha sido tentado. Já Zemmour tenta reescrever a história colocando as responsabilidades de Vichy [regime autoritário em vigor na França durante a segunda Guerra Mundial] nas costas das Alemanha nazista”.

Esta análise é compartilhada por Antoine Germa. “Na França como na Polônia, essas versões reescritas da História têm uma ressonância muito forte com a recepção dos migrantes ou com a questão das minorias em geral. Zemmour afirma, desafiando a pesquisa histórica, que Pétain [ex-chefe de Estado francês conhecido por colaborar com os nazistas] sacrificou refugiados judeus para salvar judeus franceses. Nessa lógica, um bom Estado é um Estado que só se preocupa com os nacionais e não tem benevolência com os estrangeiros”.

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