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Cristina enfrenta maior 'panelaço' do segundo mandato

Cerca de 200 mil argentinos foram às ruas das principais cidades do país para protestar principalmente contra a inflação

Cristina enfrenta maior 'panelaço' do segundo mandato (Foto: REUTERS/Enrique Marcarian)
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Opera Mundi - O som metálico começou a propagar-se pelos bairros nobres de Buenos Aires às sete da noite desta quinta-feira (14/09). Senhoras caminhavam pelas ruas do bairro de Palermo em direção ao local de encontro dos manifestantes que, de diferentes pontos da cidade, marchariam rumo à Praça de Maio. Todos iam protestar em frente à sede do governo argentino contra o que chamam de "ditadura kirchnerista".Às 20h, diante da Casa Rosada, já se via uma multidão, que carregava cartazes, bandeiras argentinas e gritava diferentes queixas contra a presidente argentina e seu gabinete. Em todo o país, 200 mil saíram às ruas, de acordo com o jornal La Nación. Após panelaços de menor dimensão realizados ao longo do ano, e a cada vez que um discurso governamental era transmitido em rede nacional de televisão, esta foi a maior manifestação de rechaço ao governo argentino desde o início do segundo mandato de Cristina Kirchner.

Em entrevistas realizadas com o som do hino nacional argentino e o ruído metálico de colheres de pau chocando contra panelas, formas de bolo, latas e chaleiras, a reportagem do Opera Mundi questionou as razões da mobilização. "Tudo", respondiam alguns, mostrando que razões diversas caracterizavam a unidade da multidão. "Estamos em desacordo com a presidente em tudo. Insegurança, corrupção, é um bando de ladrões", afirmou Miguel, de 62 anos, que se negou a revelar seu sobrenome e ocupação.

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"Fernando de la Rúa foi um 'boludo', mas Cristina é uma sem-vergonha", completou o argentino, que levantava voz para ser escutado. Cantos em uníssono marcavam o ritmo de pulos de grupos de manifestantes. Alguns atribuíam a profissão de meretriz à mãe da presidente, enquanto outros pediam a renúncia do governo. Um grupo mostrou desejo de que Cristina tivesse um destino similar ao do marido, morto em outubro 2010. "Vai com o Néstor [Kirchner], pra p... que te pariu", cantou.

Argentinas com máscaras do rosto da presidente argentina faziam encenações, imitando sua voz, dizendo "eu sou a rainha", em consonância com um cartaz que pedia "abaixo a monarquia". A ironia se deve a um movimento, amplamente difundido pela imprensa crítica ao governo, de uma suposta intenção de Cristina de reformar a constituição para que possa candidatar-se a uma segunda reeleição.

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O movimento é apoiado pelo Carta Abierta, formado por um grupo de intelectuais kirchneristas, mas nunca foi confirmado oficialmente. "Respeito à Constituição" foi uma das mensagens mais vistas em cartazes, também em referência às intenções governamentais de diminuir a idade mínima para o voto, hoje de 18 anos. "Ela quer usar os jovens de 16 anos, porque é a única forma que tem para captar votos. Os adultos já sabem que este governo estafa a vida, o povo, tudo. Então pega os menores, dá subsídios e doutrina, porque é a única forma para se perpetrar no poder. É uma sem-vergonha", disse Graciela Martínez, de 55 anos.

Dona de casa, Graciela afirma ter suas "liberdades cortadas" pelo governo, que seria mais corrupto do que os anteriores. "O que essa mulher faz é vergonhoso, é terrível e ela tem que ir embora, da mesma maneira que foram os outros deliquentes que nos roubaram. Esta rouba mais que os outros", garantiu. A liberdade mencionada por esta argentina é um dos pontos mais reivindicados pelos manifestantes, que também se queixam pelas fortes restrições à compra de dólares e outras moedas estrangeiras.

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"Outra Venezuela"

"Protesto principalmente por não poder viajar, não poder comprar divisas estrangeiras", expressou Enrique, um empresário de 65 anos que não quis revelar seu sobrenome. Não longe dali, a aposentada Lidia Madama, de 67 anos, também reclamava do controle: "Enfiam a mão nos nossos bolsos, você não é dono do seu próprio dinheiro, não pode gastar com o que quer. Já passamos por muitas coisas, mas este governo é o pior".

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Madama também expressava uma das principais preocupações da classe média que amassa panelas: "Não queremos que a Argentina seja outra Venezuela, queremos viver livres. Na Venezuela, os que não apoiam Chávez não são livres", disse. "Parece que estamos vivendo em um comunismo e não em uma democracia", reclamou a secretária Patricia Pasut, com uma forma de metal e um pedaço de pau em mãos. "Impõem de um dia para o outro que mudemos nosso estilo de vida, que não possamos viajar para onde quisermos, que não possamos investir em dólares."

A preocupação com as supostas semelhanças entre medidas governamentais argentinas e venezuelanas entrou em pauta na discussão pública nas últimas semanas, após a divulgação de um programa televisivo, realizado no país por Jorge Lanata. Conhecido com um dos principais jornalistas do país, pela pioneira trajetória na criação de jornais como o Página 12 e o Crítica de la Argentina, Lanata agora apresenta um programa no Canal 13, pertencente ao grupo Clarín, que faz campanha feroz contra o governo.

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Desde o início do programa, chamado "Periodismo para Todos" ("Jornalismo para Todos", em português), todas as edições se dedicaram a denunciar supostas irregularidades e criticar a administração de Cristina. No programa realizado na Venezuela, Lanata entrevistou opositores de Chávez e mostrou os impactos das medidas governamentais na classe média. A classificação do país como o que apresenta a menor desigualdade social da América do Sul, e o que possui um dos maiores índices de ingresso universitário no mundo, não foi abordada.

A proposta do programa foi abordar semelhanças entre os governos de Cristina e Hugo Chávez e insinuar que a realidade venezuelana é um retrato do "futuro" argentino. A maioria dos pontos retratados no programa foi mencionada pelos manifestantes: "Estão copiando o modelo da Venezuela, em tudo. Querem reformar a Constituição para serem reeleitos, colocam travas para comprar dólares e ir ao exterior. Lá, de um dia para o outro, expropriam as coisas e aqui isso é iminente. Já fizeram com a YPF, com as Aerolíneas [Argentinas]", sublinhou Pasut.

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Com 47 anos, a secretária conta que é viúva há sete. "Mataram meu esposo pela insegurança e não fizeram nada a  respeito. Fica cada vez pior. Não se pode viver assim. Está tudo devastado e há muita corrupção. Tentamos que nos escutem, para não permitir que eles avancem. A única maneira de freá-los é que o povo se manifeste. Se ela põe controles ao dólar, nós pomos controles à invasão em nossas vidas econômicas e privadas. Eu gostaria que ela renunciasse. Eles estão fortalecidos, porque ninguém reclama de nada, então temos que enfraquecê-los de alguma forma e dizer basta", desabafou.

A amiga e companheira de trabalho Adriana Minciarelli, de similar idade, enfatiza a necessidade de "pôr um limite no governo". "Nós trabalhamos cada dia mais para manter, com nossos impostos, um montão de gente que não trabalha. Este governo nos restringe cada vez mais as liberdades individuais e a propriedade privada está em perigo. Copiam tudo o que é ruim na Venezuela", afirmou.

União gay

A aprovação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo também foi assunto de queixa entre os manifestantes. Com uma grande bandeira argentina de pano e as cores azul e branca pintadas nas bochechas, um grupo de estudantes de escolas católicas pulava e cantava "viva a pátria, viva a pátria!". Melisa Kerk, aluna de quinta série, disse que participava do panelaço pela "defesa dos valores que se perderam há bastante tempo, pela família e pela pátria".

Quando questionada sobre os valores perdidos, a estudante de 16 anos disse que se refere "aos valores familiares e naturais". "Tem a questão do aborto que pode ser aprovado e da homossexualidade, com a qual eu não concordo de jeito nenhum porque é contra a natureza. Por alguma razão existem homens e mulheres, senão seríamos todos homens ou todas mulheres. Em vez de lutar pelos pobres que não têm educação, querem aborto para que estas pessoas não sangrem, mas vai contra a natureza porque estamos matando essas pessoas", argumentou.

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