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Mundo

Da utilidade do inimigo

Não estou corroborando a teoria de que os Estados Unidos precisam sempre enfrentar os índios, os nazistas, os comunistas, os árabes etc. Acho isso bobagem conspiratória e meus amigos Iluminatti concordam comigo

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A morte de Osama Bin Laden deixou muita gente feliz, pelos quatro cantos do mundo, no último domingo. Nos Estados Unidos, Europa, Américas e até no Oriente Médio, pessoas comemoravam, agitavam bandeiras e gritavam palavras de ordem. Mas no seu âmago, muitos deles estavam pensando: “mas e agora, quem vai representar o homem mau?”.

Vejam bem, não estou corroborando a teoria de que os Estados Unidos precisam sempre de um inimigo, e que já foram os índios, os nazistas, os comunistas, os árabes etc. Acho isso bobagem conspiratória e meus amigos Iluminatti concordam comigo. Estou falando de algo em que tenho pensado faz muito tempo, mais precisamente há uns doze minutos, desde que percebi que tinha meia hora para entregar este texto e nem havia começado ainda: a necessidade de um inimigo.

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Por inimigo não entendam alguém que precise sofrer, morrer e ouvir o Marcelo Camelo recitando poesia por toda a eternidade. Por inimigo aqui quero dizer um antagonista, alguém que representa o que você não é ou não quer ser, alguém que te faz dar o melhor de si para tornar o mundo um lugar melhor. Mesmo que seja só o seu mundo. O ser humano não se satisfaz em ser ou ter algo, ele precisa ser ou ter algo que alguém não é ou não tem. Não basta ser generoso, é preciso ser generoso como fulano de tal não é, pois ele é seu antagonista.

A uma mulher, por exemplo, não basta ser charmosa e educada, é preciso ser charmosa e educada como a vagabunda da Dilce (suponhamos) não é, aquela biscate oferecida. A um homem não é suficiente ser forte e estiloso, é preciso ser forte e estiloso como o magrelo largado do Túlio (suponhamos, novamente) não é, aquele magricelas que se veste como um mendigo nova-iorquino. Aos americanos, mais do que ser o país da liberdade, eles precisam ser um país livre como aquelas ditaduras do Oriente Médio não são.

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Não falo de ódio propriamente dito. A mulher, o homem e muitos americanos dos exemplos acima não querem necessariamente matar os inimigos e pendurar suas cabeças na entrada da cidade. Eles só precisam do inimigo para terem um referencial do que ser, ou do que não ser. Assim como a Dilce também tem na mulher comportada um inimigo, e ela não quer ser sem sal e sonsa como ela. O Túlio não quer ser bombadão e metrossexual como o rapaz do exemplo acima. Os árabes fundamentalistas não querem ser libertinos e hereges como os americanos. O inimigo não é o errado, é somente o contraponto de alguém.

Tem uma história que dizem ser do Hitchcock que exemplifica isso. Um homem está desempregado, endividado, tem um filho deficiente mental e está prestes a ser despejado. De repente ele arruma um emprego. No dia da entrevista que poderia salvar seu lar e a vida de sua família, ele se arruma, ensaia, penteia o cabelo e sai de carro. No meio do caminho, uma menina atravessa a rua de repente e ele a atropela e a mata. Situação dois: uma família em ruínas. O pai morreu há cinco meses, a mãe que até então não precisava trabalhar se viu obrigada a fazer bicos para sustentar a filha. Filha esta que havia ganhado uma bolsa de estudos para uma renomada escola de balé. Bolsa esta que ia poder sustentar a ela e à mãe. No seu primeiro dia no balé, a menina se maquia, arruma o cabelo e sai de casa. De repente, um cachorro late em um portão, ela se assusta, corre para a rua e é atropelada por um carro. A mesma história contada por dois pontos de vista, cada uma com um vilão, cada uma com um herói. Portanto, antes de demonizar e sair por aí falando mal do seu inimigo/antagonista, lembre-se: você também é antagonista na história de alguém. E se você for antagonista de uma gostosa ou de um sujeito inteligente, o problema é com você.

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