Direita oligárquica está organizando protestos de ‘caminhoneiros’, do Canadá ao Brasil
Com o apoio das elites econômicas, os chamados protestos dos "caminhoneiros" paralisaram as capitais do Brasil e do Canadá em menos de seis meses
Por Brian Mier e Ben Norton, Multipolarista - Redes internacionais de direitistas ricos têm apoiado um protesto no Canadá que paralisou a capital, Ottawa, em janeiro e fevereiro.
Muitos dos organizadores do comício, que eles chamam de "comboio da liberdade", não são motoristas de caminhão, e alguns têm ligações com grupos de extrema direita e agências de inteligência e policiais militares canadenses. Mas eles exploraram a imagem dos caminhoneiros para confundir os observadores, fazendo-os pensar que é um movimento da "classe trabalhadora".
Com grandes somas de dinheiro e o apoio de poderosas lideranças de direita no Canadá e no exterior, especialmente Donald Trump e sua rede política nos Estados Unidos, o “comboio da liberdade” tem usado a oposição ao passaporte de vacinas contra a Covid-19 como cobertura para lançar uma ocupação da capital canadense.
Isso apesar do fato de quase 90% dos caminhoneiros no Canadá já estarem vacinados, e o comboio ter sido condenado pelos principais sindicatos e organizações que representam os caminhoneiros, incluindo o Canadian Labor Congress, Teamsters e a Canadian Trucking Alliance.
No entanto, esta não é a primeira vez que essa tática de “comboio de caminhoneiros” é usada. É o exemplo mais recente de uma estratégia desenvolvida por redes de direita bem financiadas nas Américas, do Canadá ao Brasil.
O comboio em Ottawa é, na verdade, assustadoramente semelhante a uma campanha organizada alguns meses antes em Brasília por apoiadores ricos do presidente de extrema direita da nação sul-americana, Jair Bolsonaro.
Um protesto de caminhoneiros no Brasil em 2018 paralisou as redes de distribuição por semanas. Inicialmente enraizado em denúncias legítimas de aumentos irracionais no custo do diesel causados por políticas econômicas neoliberais impostas após um golpe político de 2016 contra um governo de esquerda democraticamente eleito, o protesto dos caminhoneiros logo foi sequestrado por elites conservadoras abastadas.
2018 foi um ano eleitoral crucial, e as oligarquias da mídia brasileira transformaram o protesto dos caminhoneiros em um gigantesco comercial de campanha para o político mais subserviente aos interesses dos EUA na história do país: Bolsonaro, seu primeiro chefe de Estado a visitar a sede da CIA.
As redes internacionais de direita recorreram à tática dos caminhoneiros novamente em 2021. Na primeira semana de setembro, o Brasil realizou a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), estrelada pelo filho de Bolsonaro, Eduardo. (Donald Trump Jr. planejava comparecer pessoalmente, mas falou via transmissão de vídeo.)
O CPAC Brasil também contou com Jason Miller, ex-assessor sênior de Trump e aliado próximo do agente político de extrema-direita Steve Bannon.
Poucos dias depois da CPAC Brasil, em 7 de setembro, um grupo de caminhoneiros ocupou a esplanada nacional, paralisando brevemente a capital Brasília, liderando milhares de apoiadores de Bolsonaro no que inicialmente parecia ser um ataque planejado ao prédio do Supremo Tribunal Federal.
O protesto dos “caminhoneiros” brasileiros foi organizado por um homem que se chamava Zé Trovão. Mais tarde foi revelado que na verdade ele não era caminhoneiro e nem tinha carteira de motorista, mas recebeu milhares de dólares do filho de Bolsonaro, Eduardo.
Além disso, a maioria dos caminhoneiros que compareceram ao comício de 7 de setembro em Brasília foram contratados por uma empresa, a Pro Tork, cujo rico proprietário, Marlon Bonilha, foi um dos maiores contribuintes para a campanha de Bolsonaro.
Horas após o fracasso da tentativa de insurgência, Miller foi detido no aeroporto de Brasília pela Polícia Federal, que o questionou sobre seu papel na desestabilização do país.
Os claros paralelos entre essas campanhas ilustram como poderosas redes de direita estão desenvolvendo uma nova estratégia para desestabilizar governos, sob o disfarce cínico de protestos de caminhoneiros da “classe trabalhadora”.
Leia a íntegra no Multiporalista (em espanhol ou inglês).
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