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Mundo

Duplicidade e hipocrisia

Nos últimos 80 anos, a Arábia Saudita vem sendo uma das ditaduras mais opressoras do mundo. Nela, liberdade é uma palavra ignorada

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Na Guerra da Síria, a grande mídia critica pesadamente a China e especialmente a Rússia por vetarem sanções da ONU contra o governo.

Já o Ocidente, a Turquia e os países do Golfo são apresentados como "good guys", que desinteressadamente defendem uma revolução democrática, no combate a uma ditadura violadora dos direitos humanos.

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A Arábia Saudita coloca-se entre eles. E com destaque, pois é quem fornece mais armamentos aos rebeldes.

É estranho porque o regime saudita é muito semelhante ao regime de Assad.

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Na verdade, pode ser até pior.

Nos últimos 80 anos, a Arábia Saudita vem sendo uma das ditaduras mais opressoras do mundo.

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Nela, liberdade é uma palavra ignorada.

Não existem nem partidos de oposição, nem imprensa independente.

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O regime é uma monarquia absoluta, que segue uma das correntes do islamismo mais retrógada: o wahabismo.

Todas as religiões não islâmicas foram banidas. Não há igrejas, a pequena minoria de cristãos só pode praticar sua religião em casa.

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O governo tem uma organização sui generis: a polícia religiosa, encarregada de zelar pelo respeito às leis wahabitas em público e reprimir os transgressores. Que podem ser, por exemplo, as mulheres que, na Arábia Saudita são proibidas de guiar carros, sair à rua desacompanhada do marido ou de algum parente,  casar-se ou freqüentar a escola sem autorização paterna.

Os xiitas – que são 2 milhões, concentrados nas províncias do leste – são discriminados.

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Quando protestam, a repressão é violenta.

Em março deste ano, fizeram uma demonstração contra a prisão de um eminente clérigo deles.

Seguiram-se diversos outros protestos na região, sendo os manifestantes dispersados à bala.

Em julho, os confrontos se intensificaram, sendo que a polícia reagiu matando duas pessoas, ferindo dezenas e prendendo muitos.

Negando a democracia e a liberdade em seu país e reprimindo violentamente a oposição, a Arábia Saudita, hipocritamente, aparece como campeã da democracia, da liberdade e dos direitos humanos na Síria.

Enquanto isso, ao mesmo tempo que condena com a maior energia o regime de Assad e os russos, seus protetores, os EUA continuam grandes amigos dos sauditas.

Jamais criticam suas violências. Pelo contrário: vendem a eles os mais avançados armamentos que os sauditas usam para atirar na sua população civil xiita.

E não é só sobre a Arábia Saudita que os EUA demonstram sua parcialidade em relação aos atores da guerra da Síria.

Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein são outros bons aliados da Casa Branca, que defendem a democracia para uso externo e a condenam internamente.

Com grandes reservas de petróleo e pequena população, os Emirados são países muito ricos. Seu PIB per capita é bem alto, garantindo boa qualidade de vida a seu povo.

Nem por isso os monarcas que os governam estão dispostos a admitir críticas a suas ações.

Ainda no ano passado, 5 pessoas foram presas e processadas depois de defenderem reformas políticas.

A acusação foi a prática de crimes contra o estado por terem assinado uma petição na internet pedindo reformas constitucionais e eleições livres.

Uma coalizão de 7 entidades de  direitos humanos, entre elas a Anistia Internacional e a Human Rights Watch,acusaram o processo da Suprema Corte Federal de Abu Dhabi de ter sido "flagrantemente injusto" e o caso contra os ativistas "não ter base na lei internacional".

Antes do julgamento, Jennie Pastorella, advogada americana, declarou esperar que as autoridades dos Emirados demonstrassem "um comprometimento básico com os padrões internacionais legais, libertando estes homens sem demora e iniciando uma revisão independente de porquê e como eles foram processados com estas acusações claramente politizadas."

Mas suas expectativas se frustraram.

Todos os 5 réus foram condenados a até 3 anos de prisão apesar de, conforme as 7 entidades: "Nenhuma das mensagens alegadamente postadas pelos acusados no site não fez mais do que criticar a polícia do governo e seus líderes políticos."

Diante de uma série de manifestações de protesto, os Emirados prenderam 8 ativistas, completando um total de 40 anteriormente detidos, processando todos eles por crimes contra o estado e oposição à constituição.

O Barhrein é o terceiro dos países do Golfo aliados aos EUA na sua luta pela democracia... da Síria.

Sim, porque no próprio Bahrein essa idéia é tratada como uma ameaça à estabilidade da nação.

Apesar do governo ser exercido por uma dinastia sunita, a população é de maioria xiita (cerca de 70%).

Numa democracia, você já viu o que aconteceria...

Por isso mesmo, os xiitas são fortemente discriminados nos empregos públicos e nos financiamentos estatais para compra de casas, por exemplo.

Quando começou a Primavera Árabe, no começo de 2011, o povo saiu às ruas pedindo reformas democráticas.

Foram 17 meses de protestos pacíficos, reprimidos violentamente pela polícia, causando centenas de vítimas.

Chamada a colaborar com as autoridades locais, a Arábia Saudita enviou um exército de 1.500 soldados com tanques e carros blindados que atacaram os manifestantes, reprimindo-os a ferro e fogo.

O governo lançou mão de uma lei de contra terrorismo que pune, não apenas ações violentas como também contrárias à ordem pública, que  ameacem a segurança da nação ou prejudiquem a unidade nacional. Como se vê, permite interpretações absolutamente subjetivas.

Com base nessa lei, o governo prendeu grande número de opositores, dos quais muitos passaram por foram torturas. Em junho de 2011, 8 dos prisioneiros foram condenados por uma corte militar especial à prisão perpetua, sendo 13 a penas de até 15 anos de prisão.

20 médicos foram processados pelo "crime" de terem atendido manifestantes feridos pela polícia.

Inicialmente julgados pela Justiça Militar, sofreram condenações a penas entre 5 e 15 anos.

Não se pode dizer que Hillary Clinton manteve a mesma indiferença que apresentou diante das violências da Arábia Saudita e dos Emirados Unidos.

Ela apelou para que ambas as partes abrandassem, procurassem um entendimento.

Como a oposição não estava usando de violência, "abrandar" no caso seria, talvez, falar baixo em vez de gritar nas manifestações...

Já o governo real propôs um diálogo nacional para reformar a Constituição e pacificar o país.

No entanto, a Oposição retirou-se da comissão do diálogo por ter sido indicado um número mínimo de pessoas para representá-la.

De qualquer modo, o governo prometeu reformas e respeito aos direitos humanos. Segundo a Human Rights Watchisso não aconteceu: "O governo do Bahrein falhou na implementação de reformas-chave. Manifestantes condenados a longas penas de prisão em cortes militares por crimes de expressão de idéias e reuniões pacíficas não foram libertados e nenhum funcionário da segurança está sendo investigado por torturas."

Quando assumiu a presidência, Barack Obama prometeu mudar muitas coisas erradas nos EUA, entre as quais sua política externa.

No entanto, a duplicidade e a hipocrisia do governo Bush continuam existindo.

A presidente Dilma condenou a politização dos direitos humanos, flagrante quando os EUA invocam esse princípio para condenar desafetos, esquecendo e mesmo protegendo aliados que os violam.

Essa conduta é extremamente grave.

No nosso tempo há uma busca cada vez mais intensa pela implantação da justiça nas relações entre os países.

Luiz Eça é colunista de Política Internacional do CORREIO DA CIDADANIA e publicitário. Seu site de textos é www.olharomundo.com.br

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