HOME > Mundo

"É a China que vai decidir se quer ou não um aumento das tensões”, analisa especialista sobre visita de Pelosi à Ásia

"O principal ponto não é o que está acontecendo agora, mas o que vai acontecer durante e depois da visita de Nancy Pelosi”, avalia professor da Universidade de Singapura, Djia-yian

O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, recebe a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, no aeroporto de Taipei Songshan em Taipei, Taiwan, em 2 de agosto de 2022 (Foto: Ministério das Relações Exteriores de Taiwan/Folheto via REUTERS)

Da RFI - Nos mercados de Taipei, nenhum sinal de apreensão esta manhã. Uma visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, não está entre as preocupações dos feirantes, conforme constatou a reportagem da RFI, nesta terça-feira (2). Para alguns acadêmicos, Taiwan, China e EUA usam a viagem da democrata pela Ásia “como uma oportunidade para demonstrar força, mas sem deixar a situação sair do controle”.

Essa é a opinião do professor associado da Universidade de Singapura, Ang Chong Djia-yian. “Eu acho que há tensão, sempre há risco de escalada das tensões, mas cada um quer apenas enfatizar as suas demandas”, analisa em entrevista à RFI.

“Os Estados Unidos esperam que a visita aconteça sem incidentes, para demonstrar o seu apoio a Taiwan. Já para Taiwan, é uma forma de mostrar que o território autônomo tem relações próximas com os americanos e enviar um sinal a Pequim para diminuir a coerção e as ameaças. Mas é a China que vai decidir se quer ou não um aumento das tensões”, analisa. “Eu acho que o principal ponto não é o que está acontecendo agora, mas o que vai acontecer durante e depois da visita de Nancy Pelosi”, completa Djia-yian.

Pequim reivindica controle sobre o arquipélago democrático de 24 milhões de habitantes, a quem tenta isolar e ameaça de represália militar. Mas a possibilidade de um confronto direto é extremamente improvável nesse momento, acredita o professor.

>>> 'EUA violaram gravemente o princípio de Uma Só China', diz chancelaria chinesa

Para o Kremlin, “é provocação”

Moscou considera uma visita da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos a Taiwan como "pura provocação". O Kremlin reitera a “solidariedade absoluta" da Rússia à aliada China.

"Tudo o que está relacionado com esta viagem é pura provocação. Isto agrava a situação na região e aumenta as tensões", declarou o porta-voz, Dmitri Peskov. "Queremos destacar mais uma vez que somos absolutamente solidários com a China", acrescentou.

"Washington desestabiliza o mundo. Nem um único conflito solucionado nas últimas décadas, mas muitos provocados", reforçou pelo Telegram a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.

Pelosi iniciou uma viagem por vários países asiáticos, que já passou por Singapura e Malásia. O itinerário inclui, ainda, escalas na Coreia do Sul e Japão. Em um comunicado, Pelosi afirmou: "Estamos comprometidos com um amplo leque de discussões sobre como alcançar nossos objetivos comuns e tornar segura (a região do) Indo-Pacífico".

Nesta terça-feira, a China advertiu que o governo dos Estados Unidos "pagará o preço por minar a soberania e a segurança da China", disse à imprensa a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying.

>>> Entenda as razões de fundo da questão de Taiwan

O governo de Taiwan mantém um silêncio estratégico, e a possibilidade de uma visita de Pelosi teve cobertura mínima na imprensa local.Porém, citando fontes não identificadas, o jornal taiwanês Liberty Times afirma que Nancy Pelosi desembarca na ilha nesta terça-feira à noite, com uma reunião na quarta-feira (3) com a presidente Tsai Ing-wen.

Embora a Casa Branca enfrente uma situação delicada com a viagem, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que Pelosi "tem o direito" de visitar Taiwan. "Não há motivo para que Pequim transforme a visita, coerente com a política americana há tempos, em uma crise", declarou.

De acordo com Kirby, relatórios do serviço de inteligência americano apontam que a China prepararia possíveis demonstrações de força militar, incluindo até mesmo o lançamento de mísseis no Estreito de Taiwan ou incursões de "grande escala" no espaço aéreo taiwanês.

Taiwan preparada para qualquer ameaça

Diante desse cenário, o ministério da Defesa de Taiwan afirmou, nesta terça-feira, que o território está "decidido, capaz e confiante" de que conseguirá proteger a ilha das crescentes ameaças da China. "Estamos preparando meticulosamente vários planos e as tropas adequadas serão mobilizadas para agir, respeitando as regras de resposta em situações de emergência, às ameaças do inimigo", informou o ministério, em um comunicado.

Os 23 milhões de habitantes de Taiwan vivem sob o temor de uma possível invasão, sentimento que aumentou durante o governo do presidente chinês Xi Jinping. Na semana passada, durante uma conversa por telefone com o presidente americano Joe Biden, Xi alertou que Washington não deveria "brincar com o fogo" na questão de Taiwan.

>>> 'Todas as consequências da visita de Pelosi a Taiwan serão de responsabilidade dos Estados Unidos', diz China

Na segunda-feira (1), o embaixador chinês na ONU, Zhang Hun, classificou a visita de Pelosi como "muito perigosa, muito provocativa".

O gabinete de Pelosi só confirmou a viagem ao continente asiático depois que a líder democrata já havia decolado, após dias de especulações e recusas a confirmar o itinerário.

"A viagem se concentrará na segurança mútua, associação econômica e na governança democrática na região do Indo-Pacífico", afirmou o gabinete em um comunicado.

O documento não faz nenhuma referência a Taiwan, mas os políticos e funcionários de alto escalão do governo americano mantêm as viagens a esta ilha em segredo até o momento do pouso.

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: