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EUA pretendem repetir Laos na crise ucraniana?

Bombas de fragmentação foram lançadas no Laos pelo exército estadunidense durante a Guerra do Vietnã

Presidentes Volodymyr Zelensky (da Ucrânia, à esq.), Joe Biden (dos EUA) e uma bomba de fragmentação (Foto: Reuters / Kevin Lamarque- Reuters / Oleg Solvang - Human Rights Watch)
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Rádio Internacional da China - Neste verão, quando os estudantes do Laos pegam o trem Lancang na ferrovia China-Laos, talvez não tenham pensado que, para construir essa ferrovia, demoraram mais de dois anos para erradicar as bombas de fragmentação norte-americanas restadas ao longo da linha férrea.

Essas bombas foram lançadas no Laos pelo exército estadunidense durante a Guerra do Vietnã. O recente anúncio do governo estadunidense de assistência militar adicional no valor de US$ 800 milhões para a Ucrânia, que inclui bombas de fragmentação de destruição massiva classificadas como proibidas pela legislação dos Estados Unidos, faz relembrar esse período da história.

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Após a eclosão da crise ucraniana, os Estados Unidos lideraram alguns países ocidentais a derramarem óleo no fogo, e sua tática mais importante é fornecer incessantemente à Ucrânia uma variedade de armas e munições. Mas o anúncio estadunidense do fornecimento de bombas de fragmentação para a Ucrânia levou a uma polêmica dentro do campo ocidental. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que a Grã-Bretanha não incentiva o uso dessas armas. A Espanha, o Canadá e outros países também expressaram sua oposição.

O motivo pelo qual as bombas de fragmentação são tão controversas é que elas têm enorme letalidade. Uma bomba de fragmentação contém dezenas ou até centenas de submunições, cuja distribuição e cobertura são totalmente incontroláveis uma vez lançadas, enquanto sua “taxa de falha” é muito alta.

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Além da qualidade de produção, a alta “taxa de falha” também tem muito a ver com o ambiente em que é usada. Por exemplo, quando um paraquedas é usado para diminuir a velocidade de descida e ampliar a distribuição das munições, se houver florestas na área-alvo, haverá uma grande probabilidade das submunições ficarem penduradas nas árvores antes de explodirem. Isso também acontece se a área-alvo for um terreno arenoso e macio, gramado denso ou terras agrícolas.

Todavia, isso não significa que essas bombas jamais explodirão. Quando o vento leva uma bomba não detonada para o chão, ou quando um agricultor a toca enquanto ara ou colhe suas plantações, ou quando ele simplesmente a chuta enquanto caminha, o fusível pode ser acionado, provocando uma tragédia.

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Durante a Guerra do Vietnã entre os anos 1964 e 1973, os Estados Unidos lançaram um grande número de bombas de fragmentação no sul do Vietnã, no Laos e no leste do Camboja. Destes, Laos foi o país mais afetado.

Os dados do Departamento de Defesa dos Estados Unidos indicam que, durante a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos realizaram 580 mil bombardeios no Laos com mais de duas milhões de toneladas de bombas, incluindo bombas de fragmentação. No Laos, estima-se que 80 milhões de bombas de fragmentação dos EUA ainda não tenham sido detonadas. Menos de 1% das bombas não detonadas foram removidas desde o fim da guerra, enquanto o resto deixou cerca de 20 mil civis mortos e muitos outros mutilados e feridos. Especialistas dizem que pode demorar 100 anos para o Laos se livrar das munições não detonadas.

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O que é ainda mais perverso é que os Estados Unidos pintaram muitas bombas de fragmentação de laranja brilhante, alegando que é para os desminadores as encontrarem e chamando este ato de uma “conduta responsável”. No entanto, a verdade é que essas bolas de cor laranja brilhante frequentemente são pegas por crianças locais para servirem de brinquedos, desencadeando mais tragédias.

O Laos não é um caso singular. Em mais de 20 anos, os Estados Unidos utilizaram massivamente bombas de fragmentação na guerra de Kosovo e na guerra do Iraque. As forças da OTAN estacionadas em Kosovo vêm reclamando do cansaço de erradicar as bombas não detonadas. Segundo estatísticas incompletas, desde sua criação, as bombas de fragmentação causaram cerca de 56 mil a 86 mil mortes, mais de 90% dos quais eram civis, sendo muitos deles menores de idade.

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De acordo com o Washington Post, as bombas de fragmentação que os Estados Unidos estão fornecendo à Ucrânia são do modelo M864, desenvolvido em 1987 e com taxa de falha não superior a 2,35%, segundo um porta-voz do Pentágono. Mas o problema é que, há 20 anos, em uma avaliação pública, o Pentágono disse que esse modelo tinha uma taxa de falha de 6%.

Os Estados Unidos da América permanecem volúveis em relação à utilização de bombas de fragmentação: em 2008, o governo norte-americano garantiu que o exército descartaria as bombas de fragmentação e que todas elas seriam “seladas para serem guardadas”. No entanto, as munições atualmente enviadas para a Ucrânia são as mesmas bombas de fragmentação que foram produzidas há mais de 40 anos e “seladas” há 15 anos.

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É igualmente paradoxal o fato de, há um ano, a então secretária de Imprensa da Casa Branca dos Estados Unidos, Jen Psaki, ter afirmado que a utilização de bombas de fragmentação poderia constituir um crime de guerra. Agora, os Estados Unidos se tornaram quem eles próprios tinham condenado. Então, quanto valem a moral e a cara limpa para os Estados Unidos, em relação a seus interesses egoístas?

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